Segunda passagem como técnico dá novo arranhão em idolatria a Ceni no São Paulo

Desempenho à beira do campo distancia ídolo histórico do gol tricolor do questionado e vaiado treinador

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São Paulo

Rogério Ceni foi demitido do São Paulo após uma vitória, o que oferece um bom retrato da avaliação de seu trabalho. O difícil triunfo por 2 a 0 sobre o frágil Puerto Cabello, da Venezuela, pela Copa Sul-Americana, não foi suficiente para mudar o destino do treinador, que encerrou nova passagem pelo clube sem ter alcançado os objetivos estabelecidos.

Time e técnico ouviram vaias durante a partida, mais uma de desempenho pouco convincente. Na véspera, a principal torcida organizada tricolor, a Independente, já havia publicado manifesto pedindo a degola do comandante de 50 anos. "Qual a dificuldade da demissão do Rogério? Estão esperando uma próxima derrota?"

A diretoria não esperou. Em reunião realizada na tarde de quarta-feira (19), comunicou ao ex-goleiro seu desligamento. "O São Paulo Futebol Clube destaca que está sempre de portas abertas para o ídolo Rogério Ceni, embora os caminhos profissionais sigam direções diferentes no momento", diz a nota oficial da demissão.

Rogério Ceni se despediu com vitória do São Paulo - Luis Robayo - 6.abr.23/AFP

A própria Independente fez questão de ressaltar a idolatria daquele que defendeu o gol tricolor por mais de duas décadas, mas distanciou a figura do "M1to" e a do técnico. "Tri do mundo. Gigante. Isso não se esquece", afirmava o texto da torcida, que ressaltava sua posição. "Nem ídolos são perfeitos. […] Segue teu rumo, Rogério."

A publicação não representa a opinião de todos os torcedores do clube. Parte reprovou a demissão. Mas o desgaste estava claro. Já existia antes mesmo da chegada, por declarações dadas pelo ex-jogador no tempo em que dirigiu o Flamengo –segundo ele, a torcida rubro-negra criava "uma atmosfera diferente" da que ele conhecera no São Paulo.

Essa rejeição mais forte no momento de sua contratação, em outubro de 2021, até acabou se dissipando. Mas os resultados esportivos esperados não chegaram. A primeira meta, evitar o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, foi cumprida. Houve frustração, porém, na tentativa de dar os passos seguintes.

A formação tricolor alcançou a final do Campeonato Paulista em 2022. Chegou a abrir 3 a 0 no Palmeiras no primeiro jogo, antes de levar um gol. No segundo, tomou quatro. Já na parte final da temporada, avançou à decisão da Copa Sul-Americana, disputada em duelo único. Dominada, perdeu por 2 a 0 para o Independiente del Valle.

Ceni não teve elencos de grande qualidade nas mãos. A diretoria admitiu a dificuldade financeira para lhe oferecer um material de nível superior. Ainda assim, a avaliação dos dirigentes é que resultados melhores poderiam ter sido alcançados. E que a relação com os atletas poderia ter sido construída com maior harmonia.

Houve conflitos, como o registrado com o meio-campista Patrick, que deixou o clube ao fim da última temporada. Há pouco mais de um mês, o técnico bateu boca com o atacante Marcos Paulo, que não foi utilizado na partida da eliminação no Campeonato Paulista e, criticado pelo chefe, publicou: "Pois é, hipocrisia e simpatia são uma junção venenosa".

A discussão ríspida incomodou outros jogadores, que procuraram dirigentes para se queixar. Houve uma tentativa de aparar as arestas, e os dois procuraram demonstrar que estavam em paz. Marcos Paulo fez o gol que abriu o placar contra o Puerto Cabello na última terça (18), já aos 41 minutos do segundo tempo, mas não impediu a demissão do comandante.

Arboleda tenta bloquear chute de Hernández, do Puerto Cabello - Paulo Pinto - 18.abr.23/AFP

A atuação, de maneira geral, foi sofrível.

E a diretoria entendeu que a equipe não evoluiu de maneira satisfatória com três semanas de treinos após a queda no Estadual, diante do pequeno Água Santa. Houve triunfos diante de rivais mais fracos na Sul-Americana, porém o início ruim na Copa do Brasil –empate em casa com o Ituano– e no Campeonato Brasileiro –derrota fora para o Botafogo– selaram o destino do ex-goleiro.

Ele encerrou sua segunda passagem como comandante do São Paulo com 107 jogos: 50 vitórias, 28 empates e 29 derrotas, com 55,4% de aproveitamento. Na primeira, mais curta, em 2017, esteve à frente da equipe em 37 oportunidades: 14 vitórias, 13 empates e 10 derrotas, com 49,5% de aproveitamento.

Os números recentes e o de títulos –zero– motivaram nova troca em um clube que vem fracassando há mais de uma década na busca por um técnico de longo prazo. Fernando Diniz e Rogério Ceni ficaram na casa do ano e meio e tiveram as estadias mais longevas dos últimos tempos. Agora, o favorito a assumir o posto é Dorival Júnior, 60, demitido em 2018.

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