Como o casamento de Messi com o PSG se desfez

Futuro do craque argentino, está muito claro, não será em Paris

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Tariq Panja
The New York Times

A partir do momento em que o jatinho executivo que transportava Lionel Messi para um lucrativo compromisso de patrocínio na Arábia Saudita taxiou em um aeroporto francês, no início desta semana, a carreira do jogador no Paris Saint-Germain estava para todos os efeitos encerrada.

A suspensão viria um dia depois. A despedida oficial só ocorrerá quando seu contrato terminar, dentro de algumas semanas. Determinar quem levará a culpa pelo acontecido é um jogo que durará mais alguns meses. Mas, na quarta-feira (3), não havia dúvidas sobre os pontos principais: Messi não voltará a jogar pelo PSG, e o jogador e o clube aceitam o fato.

O final não será surpresa para qualquer das partes. A relação entre clube e astro foi sempre comercial, sem o peso emocional do período anterior de Messi no Barcelona. E, embora tenha havido conversas sobre a renovação do contrato do atacante, nas semanas e meses depois que Messi levou a Argentina ao título da Copa do Mundo do Qatar, em dezembro, nenhum dos lados parecia empenhado em consumar um acordo.

Lionel Messi em um de seus últimos jogos pelo PSG - Franck Fife - 19.mar.23/AFP

Mas, com a falta ao treino de segunda-feira, um dia depois de os torcedores de Paris terem apupado o líder do Campeonato Francês por uma derrota em casa contra o Lorient, um time médio que o estrelado elenco do PSG poderia em tese superar sem esforço, qualquer ideia de uma renovação se extinguiu.

As segundas-feiras são tradicionalmente dias de folga para os jogadores do PSG, após uma vitória. Quando perdem, os jogadores precisam treinar.

Na tarde de segunda-feira, no entanto, Messi e sua família estavam sendo fotografados na Arábia Saudita, cumprindo parte do contrato plurianual do jogador para promover a autoridade turística do reino do Golfo Pérsico. Em Paris, os dirigentes do clube estavam formulando sua resposta furiosa à ausência não autorizada do astro.

Na noite de terça-feira, começou a se espalhar a notícia de que o PSG não aceitaria o comportamento de Messi. Oficialmente, o clube manteve o silêncio. Mas a punição aplicada a Messi foi divulgada rapidamente. O jogador foi suspenso dos treinos e dos jogos durante duas semanas, período durante o qual não receberá um centavo de seu gigantesco salário, supostamente da ordem de US$ 800 mil (cerca de R$ 4 milhões) semanais.

Tal como o PSG, Messi e os seus representantes mantiveram o silêncio, publicamente, enquanto crescia a especulação de que a relação dele com o clube estava desmoronando nos bastidores. No entanto, os representantes de Messi informaram a imprensa sobre a versão dele da história.

Messi tinha a impressão de que contava com a autorização do clube para cumprir seu compromisso comercial. O jogador havia decidido um mês atrás que não ficaria em Paris para uma terceira temporada.

O clube, enquanto isso, estava agindo da mesma maneira. A preocupação imediata, ao que parece, não era reparar a relação, mas controlar a narrativa. O foco excessivo quanto aos pormenores deixava de lado o óbvio: o desfecho desta semana representa o ponto mais baixo da relação transacional de Messi não só com o PSG mas talvez também com o emirado do Qatar.

O clube tinha anunciado a sua chegada a Paris havia menos de dois anos –uma aterrissagem suave depois da saída de Messi do Barcelona, motivada pelos problemas financeiros do clube e marcada por lágrimas.

O casamento de conveniência teve seus momentos. Messi assinou um dos contratos mais ricos do esporte. O Qatar se associou a um nome de primeira linha antes do maior evento da história do país, a Copa do Mundo de 2022. E depois viu Messi desempenhar um papel de protagonista em um torneio que terminou com o jogador envolto em um "bisht" –um manto cerimonial tradicional qatariano– pelo emir do Qatar.

Figuras próximas ao PSG expressaram surpresa na quarta-feira com a caracterização da saída de Messi apresentada pelos representantes do jogador. Disseram que foi o clube que desacelerou a ideia de uma renovação de contrato, como parte de um plano para remodelar o time, abandonando sua dependência quanto a superastros como Messi, Neymar e Kylian Mbappé e passando a depender mais de talentos locais.

Os representantes de Messi, o clube insistiu, chegaram até mesmo a calcular o que seria necessário para que ele ficasse, propondo um aumento salarial muito superior a tudo o que o clube tinha tentado oferecer em janeiro. Naquele momento, porém, talvez já fosse tarde demais.

As nuvens de tempestade começaram a se formar assim que Messi voltou do Qatar como campeão mundial. O PSG começou a cair de rendimento quando a temporada foi retomada e sua liderança no campeonato, outrora inabalável, começou a diminuir. A equipe foi eliminada da Copa de França e, o que é mais frustrante para os seus proprietários qatarianos e seus torcedores parisienses, também da Champions League.

Durante todo esse tempo, os assobios e apupos dos torcedores do PSG foram ganhando força, e as vozes mais zangadas começaram a se concentrar mais e mais em Messi, cuja forma e rendimento –talvez como seria de esperar de um jogador de 35 anos que vem de uma exaustiva Copa do Mundo– andam abaixo de seu brilho habitual.

Ganharam força as especulações sobre o local em que o craque pode pousar na próxima temporada. Um retorno ao Barcelona, talvez? Uma aventura americana em Miami? Uma estadia prolongada na Arábia Saudita? Tudo isso está aberto agora.

Enquanto Messi posa para fotos com sua família em Riad, uma coisa é certa: seu futuro não será em Paris.

Tradução de Paulo Migliacci

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