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'O futebol espanhol não é racista, a Espanha não é racista, nunca fui racista', afirma presidente de LaLiga

Javier Tebas reconhece medo com a imagem do torneio após episódio de racismo contra Vinicius Junior

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São Paulo

Com o objetivo de prestar contas, o presidente de LaLiga, entidade que organiza o Campeonato Espanhol, Javier Tebas, disse que a entidade faz muito para combater o racismo, elogiou Vinicius Junior e criticou o judiciário do país. Fez tudo isso para se defender das acusações de racismo.

"O futebol espanhol não é racista. A Espanha não é racista", disse. Pouco depois, afirmou jamais ter praticado atos de discriminação racial em sua vida.

Javier Tebas, presidente de LaLiga, em entrevista para falar sobre casos de racismo contra o brasileiro Vinicius Junior
Javier Tebas, presidente de LaLiga, em entrevista para falar sobre casos de racismo contra o brasileiro Vinicius Junior - Oscar del Pozo/AFP

"Eu fui acusado de ser racista e não gosto disso. Sou muito afetado por isso. Nunca fui racista", completou.

Nos últimos dias, Tebas iniciou uma blitz midiática para explicar as ações de LaLiga após os insultos raciais recebidos por Vinicius Junior e praticados torcedores do Valencia no último domingo (21), em partida contra o Real Madrid.

O dirigente confessou a preocupação com a imagem do torneio, acusado de ser complacente com atos racistas e só ter agido no momento em que os patrocínios passaram a ser ameaçados.

"Claro que estou preocupado [com a imagem]. Se não estivesse, estaria maluco. Trabalharemos para dar solução a essa imagem. Estou preocupado e a gente tem de trabalhar. Na vida, às vezes a gente recebe golpes."

Em vários momentos, Tebas elogiou Vinicius Junior, afirmou que o atacante vai ganhar a Bola de Ouro [prêmio da revista France Football para o melhor jogador da temporada] no futuro e que não teria problema em conversar pessoalmente com ele.

O atleta reclamou de ter sido insultado e chamado de "macaco" durante o jogo entre Real e Valencia, que chegou a ser interrompido pela arbitragem no último domingo (21). Estes ataques levaram a Procuradoria a abrir uma investigação por "crime de ódio", categoria penal que, na Espanha, inclui crimes raciais.

É a 10ª vez que o brasileiro sofre ataques de cunho racial nos últimos dois anos. Sete pessoas foram presas pela polícia espanhola. Três delas relacionados às ofensas em Valencia. Após depoimento ou pagamento de fiança, todas foram liberadas.

Depois do incidente, Tebas respondeu no Twitter ao brasileiro, insinuando que ele estava sendo manipulado e parecendo minimizar o episódio. Vinicius partiu para o ataque, contestou o dirigente, postou vídeos e mensagens reforçando casos de racismo no futebol espanhol. Tebas pediu desculpas.

O cartola jura ter tentado apenas apresentar fatos ao jogador, mas reconhece que pode ter passado a impressão errada. Ele comparou as ofensas raciais recebidas pelo brasileiro a insultos homofóbicos direcionados a Cristiano Ronaldo e outros sobre suposto autismo de Lionel Messi quando ambos atuavam na Espanha.

"Eu não pretendia criticá-lo. Queria dar uma informação. Estamos fazendo muitas coisas. Eu entendo que o Vinicius esteja frustrado. Estamos muito cientes, muito concentrados. Ele está recebendo insultos porque é um grande jogador. Os grandes jogadores, Messi, Cristinao Ronaldo, são aqueles mais insultados. Faz parte da malícia humana de insultar. Se não for um jogador estrela, talvez não seja a mesma coisa. Eles ficam bravos de ver as jogadas brilhantes de Vinicius", opinou.

"Lembro de [o lateral] Roberto Carlos [sendo ofendido racialmente], com o estádio cheio... Cristiano Ronaldo e os gritos de homofobia. Messi sendo chamado por gritos de deficientes intelectuais..."

Antes de iniciar a entrevista, o cartola fez um longo pronunciamento para explicar tudo o que a liga tem feito para combater discriminação no futebol. Chegou a dizer que um procurador, na teoria responsável por investigar casos de racismo, teria dito ser apenas rivalidade esportiva quando torcedores do Atlético de Madrid fizeram gritos de "macacos" para jogadores pretos do Real Madrid.

"Aquilo me deixou muito incomodado. Talvez seja melhor a gente esquecer a Procuradoria", falou.

O órgão do judiciário foi o principal alvo de Tebas. Segundo ele, procuradores não fizeram nada em diversos casos denunciados pela própria LaLiga. Casos registrados em vídeo na arquibancada que Vinicius Junior sequer teria escutado por estar em campo.

Tebas atacou a Procuradoria com o objetivo de reforçar o que se tornou uma das metas da entidade nos dias após os xingamentos recebidos pelo brasileiro: que a organização do campeonato tenha poder de aplicar sanções a clubes, jogadores e torcedores em casos de racismo. Algo que, de acordo com ele, seria prerrogativa da Justiça ou da Real Federação Espanhola.

O presidente citou caso de Iñaki Williams, atacante preto de origem ganesa do Athletic Bilbao, em que a punição aos responsáveis por ofensas racistas contra demorou mais de três anos.

"Não vou falar das campanhas que fizemos contra racismo, contra discriminação. Vamos continuar com isso e trabalhar por condenações e que pessoas acabem na cadeia. Queremos provar, temos certeza que vamos conseguir resolver esse problema. Mas sem poderes, se a Procuradoria fala que é algo dentro da realidade esportiva, aí fica muito difícil terminar com os insultos [raciais]", se queixou.

Tebas afirma que é hora de começar a pensar em tirar pontos de clubes que torcedores cometam racismo.

"A sanção de tirar pontos não existe por condutas esportivas, como existe na Premier League. Na Espanha, por lei diz que não se pode fazer isso. Seria bom que a gente começasse a pensar nos pontos? Acho que sim."

Ele pediu prazo de seis meses para chegar perto de resolver esse problema. Mas bateu na tecla várias vezes que LaLiga precisa ter mais poderes para agir, condição imprescindível para cumprir esse prazo.

"São os meus piores dias como presidente. Eu não sou racista", finalizou.

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