Descrição de chapéu Copa do Mundo feminina

Cartola espanhol se recusa a renunciar e diz que é atacado por 'falsas feministas'

Após conquista da Copa, Luis Rubiales agarrou atleta pela cabeça e lhe deu um beijo na boca; nesta sexta, ele descreveu ato como 'espontâneo, mútuo, eufórico e consensual'

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Madri | Reuters

O presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, anunciou que não vai renunciar ao cargo diante das críticas e denúncias por ter beijado nos lábios a jogadora de futebol Jenni Hermoso após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina.

Falando em uma assembleia de emergência da RFEF nesta sexta-feira (25), Rubiales reclamou que "falsas feministas" estão "tentando me destruir". Ele descreveu o ato como um "pequeno beijo" que foi "espontâneo, mútuo, eufórico e consensual".

"Um beijo consensual vai me tirar daqui? Eu não vou renunciar. Vou lutar até o fim", disse Rubiales, recebendo aplausos da plateia predominantemente masculina.

Presidente da federação espanhola de futebol, Luis Rubiales, durante entrevista - Gabriel Bouys - 27.nov.19/AFP

O presidente da RFEF comparou o beijo dado na jogadora com um que daria em sua filha: "não há desejo e não há posição de domínio", disse.

O governo disse que levará o incidente para um tribunal esportivo, onde, se for comprovado que o beijo não foi consensual, o cartola poderá ser julgado com base em uma lei de violência sexual introduzida pelos socialistas no ano passado.

Seu discurso recebeu imediata condenação da ministra do Trabalho em exercício, Yolanda Diaz, que o descreveu como "inaceitável".

"O governo deve agir e tomar medidas urgentes: a impunidade para ações machistas acabou. Rubiales não pode continuar no cargo", escreveu Diaz nas redes sociais.

Rubiales carrega jogadora Athenea del Castillo após vitória da Espanha na Copa - David Gray - 22.ago.23AFP

Rubiales, de 46 anos, disse em seu discurso que Hermoso foi quem iniciou o contato físico levantando-o do chão pelos quadris. Ele disse que perguntou à atleta se poderia dar a ela "um pequeno beijo" e que ela teria respondido "ok".

A crítica ao comportamento de Rubiales aumentou ao longo da semana desde o incidente, que ocorreu enquanto os jogadores recebiam suas medalhas após vencerem a Inglaterra por 1 a 0 na final da Copa do Mundo em Sydney, Austrália, no domingo. Enquanto os jogadores passavam, Rubiales agarrou Hermoso pela cabeça e deu um beijo em sua boca.

O dirigente Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola, segurou o rosto da camisa 10 da seleção espanhola, Jenni Hermoso e deu um beijo na boca, provocando um momento extremamente constrangedor  durante a cerimônia de entrega da medalha de ouro para a equipe campeã da Copa do Mundo Feminina
Presidente da Real Federação Espanhola, Luis Rubiales, segura o rosto da camisa 10 da seleção espanhola, Jenni Hermoso, e lhe dá um beijo após a Espanha conquistar a Copa do Mundo feminina - Reprodução/Sportv

Na tarde desta sexta, em um comunicado próprio, Hermoso disse que as afirmações de Rubiales são "categoricamente falsas" e "parte da cultura de manipulação que ele mesmo criou".

"Quero deixar claro que em momento algum a conversa a que se referiu o sr. Rubiales em seu discurso aconteceu, e, acima de tudo, seu beijo nunca foi consensual. Quero reiterar, como fiz anteriormente, que não gostei deste incidente", escreveu a jogadora.

Hermoso afirma na nota que precisou de tempo para processar o ocorrido, e que se sentia na obrigação de denunciá-lo. "Acredito que nenhuma pessoa, em nenhuma situação de trabalho, nos esportes ou socialmente, deve ser vítima desse tipo de comportamentos não consensuais. Senti-me vulnerável e a vítima de um ato impulsivo, sexista e inadequado, sem nenhum consentimento da minha parte. Simplesmente fui desrespeitada."

A jogadora também afirma que foi pressionada a fazer declarações que pudessem diminuir a pressão sobre Rubiales, assim como foram sua família e pessoas de seu entorno.

Na nota, Hermoso repete que não voltará à seleção enquanto os atuais líderes da federação permanecerem em seus cargos e agradece o apoio recebido.

"Enquanto sou eu que expresso estas palavras, são todas as jogadoras da Espanha e do mundo todo que me dão a força para publicar esta declaração", disse. "Obrigada por todas as mensagens de apoio e palavras de encorajamento que recebi. Sei que não estou sozinha e, graças a todos, avançaremos mais unidas do que nunca."

Rubiales também foi visto segurando suas partes íntimas em comemoração enquanto estava ao lado da rainha Letizia em uma cabine no estádio, pelo qual ele se desculpou na sexta-feira.

Isso culminou com a Fifa abrindo procedimentos disciplinares contra ele na quinta-feira, depois que Hermoso disse em um comunicado na quarta que seu sindicato estava trabalhando para defender seus interesses e que tais atos nunca deveriam "ficar impunes".

Rubiales inicialmente reagiu de forma desafiadora às críticas, descrevendo seus críticos como "idiotas". Mas ele rapidamente voltou atrás, postando um vídeo de desculpas gravado enquanto voltava de Sydney.

À medida que ficou evidente que seu pedido de desculpas não havia ganhado força –com o primeiro-ministro Pedro Sánchez descrevendo-o como "insuficiente"–, líderes regionais da RFEF realizaram uma reunião de crise em Madri na quinta-feira para discutir o futuro de Rubiales e opções para um possível sucessor, disse uma fonte à Reuters.

'Inaceitável', diz craque da seleção

Alexia Putellas, estrela da seleção espanhola e duas vezes eleita a melhor do mundo, classificou como "inaceitável" o comportamento do cartola.

"Isso é inaceitável. Acabou", escreveu a jogadora em sua rede social. Ela ainda declarou apoio à colega de seleção. "Estou contigo, companheira @Jennihermoso."

Dezenas de outras jogadoras e ex-jogadoras, inclusive de outras seleções, também manifestaram em redes sociais seu apoio a Hermoso e condenaram as ações e a fala de Rubiales. Entre elas estão as brasileiras Kerolin, Gabi Nunes e Ary Borges, a americana Alex Morgan, a sueca Fridolina Rolfo e a inglesa Beth Mead.

Presidente da LaLiga dispara contra cartola

O presidente da LaLiga (o campeonato nacional da Espanha), Javier Tebas, defendeu a demissão do cartola e afirmou que "a lista de mulheres e homens prejudicados por Luis Rubiales nestes anos é grande demais".

"Os gestos misóginos, as expressões profanas, o desastre protocolar e os insultos deste último constrangimento global não são uma surpresa", escreveu Tebas na rede social X, depois de Rubiales ter descartado renunciar.

"A lista de mulheres e homens prejudicados por Luis Rubiales nestes anos é demasiado longa e isto tem de acabar", continuou Tebas, que lamentou que "os danos à reputação de todo o futebol espanhol são agora inevitáveis".

Tebas protagonizou um embate com o jogador Vinicius Junior, do Real Madrid, neste ano, quando o brasileiro foi alvo de insultos racistas em uma partida da LaLiga. Na ocasião, o dirigente insinuou em sua rede social que o jogador estava sendo manipulado e que não deixaria Vinicius manchar a imagem da competição.

Diante de uma avalanche de críticas, inclusive do próprio Rubiales, Tebas anunciou uma série de medidas, criticou a Justiça e pediu mais poderes para combater o racismo no futebol espanhol.

(Com AFP)

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