Augusto Melo vence eleição e derruba grupo de Andrés no Corinthians após 16 anos

Ex-aliado, empresário ganha disputa com André Negão por presidência no triênio 2024/2026

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São Paulo

Chegará ao fim, após mais de uma década e meia, o reinado do grupo encabeçado por Andrés Sanchez, à frente do Corinthians desde outubro de 2007. Candidato da situação, André Luiz de Oliveira, conhecido como André Negão, perdeu neste sábado (25) a disputa presencial para Augusto Melo, único oposicionista no pleito.

Augusto Melo, o novo presidente do Corinthians Paulista - José Manoel Idalgo/Ag. Corinthians

Melo, 59, soube aproveitar o desgaste da chapa "Renovação e Transparência", como se apresentou a turma de Andrés há 16 anos.

O mote já não parecia apropriado a um agrupamento político que apostava no continuísmo e era criticado pela falta de transparência. O ciclo acabou no mandato de Duilio Monteiro Alves, que deixará sua cadeira, em 4 de janeiro, como o primeiro presidente alvinegro sem um título no futebol profissional masculino desde Roberto Pasqua (1985-1987).

O argumento de que ele trabalhou para melhorar a situação financeira da agremiação —amparada no anúncio, às vésperas da eleição, de um acordo preliminar para quitar a dívida com a Caixa Econômica Federal pela construção do estádio de Itaquera— não foi suficiente.

Nem para a Gaviões da Fiel, principal organizada do Corinthians, antes extremamente simpática a Andrés. A uniformizada, que se orgulha de ter nascido para lutar contra a ditadura no clube e no Brasil, manifestou apoio a Augusto Melo –admirador de Ernesto Geisel, um dos presidentes da República durante o regime militar.

O sábado foi de manifestações na porta do clube, onde se concentraram torcedores organizados, sob forte vigilância policial. Os gritos não eram de apoio a Melo –que foi votar com um colete à prova de balas, repetindo que tem recebido ameaças–, mas ataques a Andrés e a André.

Apoiadores de Melo se manifestam na porta do Parque - Luiz Santos/Ato Press/Ag. O Globo

"Tem hora em que eu fico pensando: ‘P… que pariu, esse Augusto podia ganhar mesmo, já tirava o meu da reta, e ninguém ia falar que eu mando no Corinthians'", disse Andrés, em março.

Era mais uma bravata de Sanchez, que se empenhou na campanha de André Negão e deixou claro que seria seu diretor de futebol. Os dias que antecederam o pleito foram de intenso boca a boca no Parque São Jorge, com jantares com grupos de associados e presença constante na sede social.

A cartada final foi a divulgação do acerto com a Caixa para o pagamento do estádio, cuja construção foi uma das bandeiras da "Renovação e Transparência". Houve também numerosos e importantes títulos: cinco do Campeonato Paulista, três do Campeonato Brasileiro, um da Copa Libertadores, um da Recopa Sul-Americana e um do Mundial.

Desta vez, esses troféus não definiram a eleição. Os sócios deram a Augusto Melo 2.771 votos, contra 1.413 de André Negão. Agora, Melo terá três anos para mostrar que tem renovação e transparência a oferecer, ainda que já tenha feito parte da "Renovação e Transparência".

Empresário do setor têxtil, ele teve cargo nas categorias de base no mandato de Roberto de Andrade (2015-2017), com uma série de denúncias de corrupção em sua área. Também tem um histórico considerado problemático no União Barbarense, clube do interior paulista no qual atuou como dirigente –e foi acusado de atuar como empresário de atletas, o que nega.

Há ainda uma condenação por crime contra a ordem tributária, que foi vista por membros da situação como uma oportunidade para impugnar sua candidatura. Mas a candidatura foi aprovada na comissão eleitoral e venceu.

Andrés trabalhou pela eleição de André e fracassou - José Manoel Idalgo/Ag. Corinthians

Agora, Augusto Melo tem nas mãos um clube com 12 mil sócios, quase 40 milhões de torcedores e uma dívida estimada em torno de R$ 900 milhões. O empresário –que em 2020 apostava na inauguração de uma roda-gigante no Parque São Jorge e perdeu para Duilio por 142 votos– joga suas fichas no estádio de Itaquera, a Neo Química Arena. Está entre suas propostas ampliar a capacidade das arquibancadas e atrair grandes shows, com administração terceirizada.

O futebol deverá ter o executivo Rodrigo Caetano. Espera-se uma espécie de expurgo dos mais velhos do elenco –que, na véspera da eleição, levou 5 a 1 do Bahia em casa–, mas a ideia é manter o técnico Mano Menezes, que tem contrato até dezembro de 2025.

"Nós vamos trazer o Corinthians de volta para o Corinthians. Vejo o povo descontente, o sócio descontente. Esse grupo já estava no poder fazia muito tempo, acho que cansou, precisa de uma reformulação. É isso o que vamos fazer", afirmou o presidente eleito.

Acabou, ao menos por ora, a era Andrés, que concedeu entrevista à Folha em julho e apostou: "É a vez do André".

Não era.

A Fiel agora observa como será a vez do Augusto.

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