Manbol, o esporte amazônico em busca de adeptos no Brasil

Prática esportiva começou a partir de brincadeira infantil com caroço da manga

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Rodrigo Almonacid
Rio de Janeiro | AFP

Tudo começou com dois irmãos brincando com mangas na Amazônia brasileira. Aquela brincadeira de crianças agora é um esporte com regras e adeptos, e já é jogado, embora timidamente, em várias regiões do Brasil. Bem-vindos ao manbol. Perto da borda que divide o calçadão da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, uma rede colorida destaca uma quadra pouco comum.

Sobre a quente areia dourada, cordas azuis formam um retângulo de 10 metros de comprimento por cinco metros de largura. É uma quadra de tênis ou vôlei? A dúvida se dissipa, embora não completamente, quando os quatro praticantes de manbol —"manbolistas"— começam a lançar de um lado para o outro, simultaneamente, duas bolas parecidas com as de futebol americano e rugby.

São menores do que as usadas nesses dois esportes e seu design tem uma inspiração mais folclórica: a semente das mangas com as quais Rui Hildebrando e seu irmão mais novo, Rogério, brincavam quando adolescentes em Belém do Pará, uma cidade na Amazônia brasileira.

Jogadores de manbol treinam na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro
Jogadores de manbol treinam na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro - Pablo Porciuncula - 23.fev.2024/AFP

No posto 4 de Copacabana, Rui —de baixa estatura e cabelo tingido de loiro— disponibiliza a quadra para os curiosos que queiram se iniciar em seu mundo surgido há mais de duas décadas. "No começo era um simples jogo com mangas.

Eu lançava a manga para meu irmão e ele a lançava de volta. Era uma luta para que a manga não caísse no chão. Depois coloquei regras lúdicas e percebi que usar duas mangas dava mais energia. Não parávamos, o jogo ficava mais rápido", diz Rui, de 44 anos, à AFP.

"Fica cansado"

A paixão dos irmãos agradou outros parentes e amigos. Com o passar do tempo, Rui Hildebrando aprimorou o regulamento e os materiais para praticá-lo. Em 2004, com motivações esportivas e empresariais, fundou a Confederação Brasileira de Manbol.

Foi a criação oficial de um esporte que atualmente é praticado sobre a grama da Amazônia ou nas praias do Rio, sedes habituais de múltiplas disciplinas.

Batizado pela união das palavras manga e bola, o manbol tem um regulamento simples: joga-se com as mãos e marca-se se a bola cair no chão do campo adversário ou se o adversário a enviar para fora dos limites.

Se ambos os lados marcarem na mesma jogada, o ponto é repetido. Pode ser praticado em qualquer superfície com até três jogadores por equipe e vence o primeiro a ganhar dois sets de doze pontos.

Em média, cada partida dura entre 15 e 25 minutos. "É muito dinâmico e as duas bolas o tornam muito divertido. Fico cansada depois de jogar, mas é uma questão de prática", afirma Adriana Mathias, uma professora de educação física de 46 anos, "manbolista" desde 2007.

Sonho distante

Pouco conhecido pelos brasileiros e sem atletas profissionais por enquanto, tem ganhado terreno lentamente e já conta com federações em quatro estados brasileiros (Rio, Pará, Ceará e Brasília).

Tem cerca de 2 mil fãs em um país com mais de 200 milhões de habitantes e já foi exibido em onze nações da América do Sul, Europa e Ásia, segundo Rui Hildebrando.

Foi reconhecido como uma "modalidade esportiva" por uma lei da câmara municipal de Belém em janeiro de 2016 e apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em junho passado. "É um esporte inclusivo que pode ser jogado por pessoas de todas as classes e idades. Trabalha diversas habilidades físicas, agilidade, reflexos.

Tem tudo para crescer", aponta Katia Lessa, presidente da Confederação de Manbol do Rio. As autoridades deste esporte amazônico sonham que um dia possa se tornar uma disciplina olímpica, uma aspiração que por enquanto parece muito distante em uma terra mais seduzida pelo futebol ou vôlei.

Mas não baixam os braços. Ao lado da atlética Lessa, que protege os olhos do forte sol com óculos escuros largos, a fisioterapeuta Beti Biaggi observa curiosa um esporte que até então desconhecia.

"Chamou minha atenção a agilidade, a mobilidade", diz esta fisioterapeuta de 53 anos. "Me pareceu muito interessante, por isso parei para assistir".

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