Descrição de chapéu Olimpíadas 2024 Natação

Conheça o brasileiro que ajuda o fenômeno francês da natação

Trabalho de Ricardo Peterson, especialista em biomecânica, faz Léon Marchand ganhar centésimos preciosos

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Paris

Um brasileiro tem uma pequena parte de responsabilidade pelo êxito de Léon Marchand, 22, o mais novo fenômeno francês da natação. Ricardo Peterson Silveira, 37, pesquisador em Rennes, no norte da França, é especialista em biomecânica e foi recrutado pela natação francesa para ajudá-la a brilhar nos Jogos disputados em casa.

Marchand ganhou o ouro nos 400 metros medley (quatro estilos) no domingo (28), com novo recorde olímpico (4min02s95), quebrando a marca de um certo Michael Phelps. O francês é desses atletas que surgem uma vez a cada geração. Mas é certo que pelo menos alguns centésimos dessa marca excepcional se devem ao trabalho do brasileiro Peterson.

"É muito difícil quantificar, mas a gente consegue ter algumas pistas", conta Peterson. "Montamos uma base de dados com informações dos melhores atletas da França, em diferentes distâncias, e vemos o quanto Léon está próximo dos melhores parâmetros, arrasto, potência e eficiência, em relação ao melhor que a gente já tinha visto".

Três homens estão posando juntos em um ambiente ao ar livre. O homem à esquerda está usando uma camisa azul escura e calças claras, o do meio está com uma camisa escura e um crachá pendurado no pescoço, e o da direita está vestindo uma camiseta branca e shorts claros. Ao fundo, há uma estrutura de madeira e alguns objetos visíveis.
Especialista em biomecânica, o brasileiro Ricardo Peterson entre o técnico Bob Bowman e Léon Marchand (à dir.), o astro da natação francesa - Arquivo pessoal

A origem da parceria entre o brasileiro e os franceses foi um edital do projeto Neptune (sigla para "Natação e Paranatação, Todos Unidos por Nossas Estrelas"), em plena pandemia da Covid-19. A França buscava acadêmicos com trabalho prático, em áreas como fisiologia e biomecânica, que fizessem seus atletas evoluírem.

Peterson, que trabalhava na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e passou períodos no Canadá, na Itália e em Portugal, achou que tinha o perfil, mandou o currículo, fez uma entrevista online e recebeu o convite para trabalhar no Laboratório do Movimento, Esporte e Saúde da Universidade de Rennes 2.

Por isso, desde 2022, ele acompanha os principais nadadores franceses, inclusive Marchand, que treina nos Estados Unidos, com o consagrado técnico Bob Bowman. No ano passado, durante o campeonato francês de natação, Peterson montou uma estrutura na piscina de aquecimento para oferecer testes biomecânicos aos nadadores. Para surpresa dele, Marchand e Bowman apareceram interessados.

Era uma análise de perfil hidrodinâmico (estudo do movimento dentro da água), de arrasto passivo (em posição "de flecha") e ativo (movendo pernas e braços para gerar propulsão). Durava meia hora, e Marchand submeteu-se sem reclamar.

"Ele é totalmente fora da curva em comparação à média", conta Peterson. "Especialmente no arrasto passivo. No ativo também, mas não se diferenciava tanto dos outros atletas. Isso explica muita coisa, como a facilidade enorme dele no nado submerso, após as saídas e as viradas."

Segundo o pesquisador, Marchand também é fora da curva como pessoa. "É uma pessoa muito simples, tranquila e que não age como estrela", diz o brasileiro. "Faz natação no mais alto nível, mas aquilo não define quem ele é de fato."

O campo de estudos de Peterson sofreu forte evolução nos últimos anos, graças às novas tecnologias. "O acesso às informações é muito mais fácil hoje em dia", explica. "Antes não existiam nem caixas estanques de celular. Só de o atleta se enxergar nadando já faz uma diferença gigantesca em relação a 15 anos atrás", compara.

É inevitável pensar que um trabalho de excelência, produzido por um brasileiro, poderia estar gerando resultados para a natação nacional. Segundo Peterson, no Brasil não faltam especialistas, mas ainda há muito a ser feito na prática. "Temos excelentes profissionais no Comitê Paralímpico, no Sesi-SP e em alguns clubes, como o Minas Tênis e o Pinheiros. Mas falta uma proximidade maior entre as universidades e o COB e, especialmente, as federações", avalia.

A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) anunciou recentemente a intenção de iniciar um programa sistemático de monitoramento científico dos nadadores brasileiros.

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