Jogadores da seleção francesa criticaram o avanço da ultradireita no país, em meio à campanha da França na Eurocopa. O primeiro turno das eleições legislativas adiantadas, que aconteceu no domingo (30), foram positivos para o partido RN (Reunião Nacional), encabeçado por Marine Le Pen.
O RN recebeu 33% dos votos, o que permite projetar entre 230 e 280 das 577 cadeiras da Assembleia Nacional, perto da maioria absoluta (289 cadeiras). Antes do adiantamento do pleito, convocado pelo presidente Emmanuel Macron, o RN possuía 88 deputados. O segundo turno está marcado para 7 de julho.
Na segunda-feira (1º), dia seguinte à votação, a França derrotou a Bélgica (1-0) nas oitavas de final da Eurocopa. Depois da partida, jogadores se manifestaram contra o resultado em coletiva de imprensa.
O zagueiro dos "bleus"Jules Koundé, eleito o melhor em campo na ocasião, disse estar decepcionado com os rumos que o país tomou, "apoiando amplamente um partido que é contra os valores de boa convivência, de respeito e que quer dividir os franceses".
"Ainda há um segundo turno, nada está dado, e é preciso procurar quem não votou", disse. "Precisamos criar barreiras para o RN."
A votação na França não é obrigatória. No último domingo, o pleito legislativo registrou o maior número de participantes do século 21: 66,7% dos eleitores inscritos de fato foram às urnas.
Kylian Mbappé, em 16 de junho, convocou os jovens para ir às urnas e votar contra o RN. "Os extremos podem chegar ao poder, mas temos valores de diversidade, tolerância e respeito. Cada voz conta e isso não deve ser negligenciado", disse na ocasião. O capitão dos "bleus", entretanto, não tocou no assunto muitas vezes depois.
Após a manifestação de Mbappé, um grupo de 160 atletas franceses escreveu um manifesto pedindo votos contra o avanço da ultradireita, publicado no jornal esportivo "L'Équipe".
Após a partida de segunda-feira e da divulgação dos resultados do primeiro turno, ele tentou justificar a ausência de uma campanha mais incisiva. "Dissemos que faríamos alguma coisa, mas outros acontecimentos interferiram no processo, como a minha lesão e nossos resultados. Teremos de fazer alguma coisa, vamos nos reunir e decidir", afirmou.
Ibrahima Konaté, zagueiro da seleção francesa, falou um dia antes da votação, no sábado (29). Em uma coletiva de imprensa na cidade alemã de Paderborn, onde o time nacional da França treinou e se hospedou, ele lembrou suas origens e lamentou o aumento da popularidade do RN.
"Eu vim de uma família de imigrantes. Quando eu vejo meus pais, que trabalharam muitas horas na limpeza e recolhendo lixo, percebo que [os ultradireitistas] não valorizam essas pessoas [imigrantes] que deram sua saúde pela França. Isso me entristece", disse o jogador, que atua no Liverpool. Konaté nasceu em Paris, filho de pais vindos do Mali.
O presidente da Federação Francesa de Futebol, Philippe Diallo, disse nesta terça-feira em entrevista à AFP que "não tem divergências com os jogadores da seleção" e que a organização, apesar de defender a liberdade de expressão dos atletas, mantém sua neutralidade.
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