Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Keno Marley trabalha para levar seu sorriso a Paris, após dramas familiares

Boxeador baiano já sofreu uma boa dose de pancadas, mas tem lidado com todas elas com uma contagiante expressão facial

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São Paulo

Keno Marley, 23, não foge das questões sobre as experiências duras que viveu, há não muito tempo. Fala candidamente sobre a dificuldade que teve após o assassinato do irmão, sobre o suicídio do primo que considerava um irmão e sobre os próprios "pensamentos sombrios" daquele duro 2021 –ano no qual, de algum jeito, esteve muito perto de uma medalha olímpica.

O difícil é tirar certo semblante do rosto do boxeador baiano, que, em um gesto que talvez seja para não deixar o interlocutor desconfortável, talvez como um recado de que não quer ser olhado com pena, está sempre a mostrar os dentes.

"Eu estou bem tranquilo", explicou à Folha. "Sempre, mesmo quando eu tive problemas, sempre fui uma pessoa bem alegre, sempre procurei estar sorrindo, sempre procurei estar feliz. Isso me deu uma tranquilidade de vida muito grande. E isso sempre me fez, independentemente da situação, apresentar bons trabalhos, porque, no momento do meu trabalho, eu estou apresentando aquilo com felicidade."

Imagem de um boxeador em um ringue de boxe, vestindo uma camiseta sem mangas azul escura com o logotipo da bandeira do Brasil. Ele está com as mãos na cintura e usa bandagens brancas nas mãos. Ao fundo, há um painel com o texto 'World Boxing' e 'Belgrade' parcialmente visíveis, além de uma figura de um boxeador em ação. Outra pessoa, usando máscara, está visível ao fundo.
Keno Marley teve um ciclo produtivo no caminho para Paris - Basanayev Anton - 5.nov.21/Aiba

Isso ficou claro no trágico 2021. Entre a morte de seu irmão e a de seu primo, chegou às quartas de final dos Jogos de Tóquio, a luta que poderia lhe garantir ao menos uma medalha de bronze –o boxe não tem disputa de terceiro lugar. Perdeu por 3 a 2 para o britânico Benjamin Whittaker, na decisão dos juízes, altamente questionada na comunidade do esporte.

Indagado se reviu o combate, Keno abriu ainda mais seu sorriso carismático para responder: "Algumas dezenas de vezes". "Desde aquela luta, no dia seguinte, eu já estava treinando para Paris. E aquele detalhezinho que faltou para a medalha em Tóquio foi o que me motivou o ciclo todo, para chegar a Paris em busca do que não consegui."

Ele reviu também várias outras lutas, um exercício que considera importante para sua preparação. Foram mais de 50 duelos desde a última edição olímpica, com resultados expressivos, mesmo com uma mudança significativa de categoria. De Tóquio a Paris, passou de meio-pesado (até 81 kg) a pesado (até 92 kg).

"Eu tenho 23 anos e comecei no boxe com mais ou menos 11, tinha aproximadamente 40 quilos. De 40 quilos até 92 quilos, eu lutei todas as categorias. Então, para mim, trocar de categoria é algo natural, aconteceu durante toda a minha vida. Eu me adaptei bem a este peso. Em todos os principais eventos, fui medalha. A mudança aconteceu de uma forma saudável e benéfica", afirmou.

Um atleta brasileiro está sorrindo e segurando uma medalha de ouro em uma das mãos e um mascote de pelúcia na outra. Ele está vestindo um agasalho azul com o logotipo da Confederação Brasileira e a bandeira do Brasil. Ao fundo, há uma multidão desfocada.
Keno Marley chamou a atenção do mundo do boxe pela primeira vez em 2018, com o título dos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires - Jonne Roriz - 2018/Exemplus/COB

Marley foi medalha de prata na edição mais recente dos Jogos Pan-Americanos, no ano passado, em Santiago. Na decisão, quatro dos jurados apontaram vitória do prestigiado cubano Julio César La Cruz, que tem duas medalhas de ouro olímpicas no currículo (no Rio de Janeiro, em 2016, como meio-pesado, e em Tóquio, em 2021, como pesado).

"Fiz um ciclo muito forte, muito intenso, com muitas lutas. E estou lutando pelo ouro. É uma linha tênue, é pouco que falta. Em Santiago, fiquei com a prata, mas foi uma decisão dividida. Isso mostrou para a gente que estamos em nível de igualdade, que os árbitros já estão na dúvida de quem realmente foi o vencedor", afirmou, com seu semblante característico.

"Sou um cara competitivo", repete o baiano, a cada três ou quatro frases, como que avisando: "Não se engane com minha simpatia".

Ele vai fazer o que estiver ao alcance para estar no pódio em Paris, quem sabe no topo. Mas, estando nele ou não, com uma medalha dourada, uma prateada, uma bronzeada ou nenhuma, vai sorrir, de novo, de algum jeito.

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