Descrição de chapéu Boxe

Keno Marley vai ao Mundial de boxe pensando em Paris e para acertar contas com o passado

Brasileiro foi prata no último torneio, flertou com depressão e já reviu dezenas de vezes derrota em Tóquio

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São Paulo

O Mundial de boxe faz parte de um processo para o brasileiro Keno Marley, 22. É o primeiro passo para tentar encerrar um ciclo, fechar porta que lhe trouxe alegria, satisfação e as maiores tristezas de sua vida. O objetivo final é as Olimpíadas de Paris-2024.

"A gente costuma falar que há diferença entre Jogos Olímpicos e Olimpíada. Olimpíada é todo o ciclo. O Mundial faz parte desse ciclo e eu ir bem no Mundial significa um termômetro para Paris", explica.

Keno Marley comemora vitória sobre o mexicano Rogelio Romero Torres no Panamericano de Lima, em 2019
Keno Marley comemora vitória sobre o mexicano Rogelio Romero Torres no Panamericano de Lima, em 2019 - Ivan Alvarado-30.jul.19/Reuters

Com os demais integrantes da equipe brasileira, ele viajou na última quinta-feira (20). A competição será entre 30 de abril e 14 de maio em Tashkent, no Uzbequistão. Keno vai lutar na categoria até 81 quilos.

O último ano olímpico de Keno deixou marcas. Ele esteve perto de subir ao pódio e perdeu nas quartas de final em decisão contestada. Depois foi prata no Mundial em Belgrado, na Sérvia. Também iniciou período em que, confessa, entrou em depressão.

Seu irmão Jeremias foi assassinado na porta de uma casa noturna em Salvador. Meses mais tarde, um primo se matou.

"O ano de 2021 foi muito complicado. Tive duas perdas bem drásticas. Foi catastrófica especialmente a morte do meu irmão, a pessoa que me colocou no esporte. Era ele quem me ligava antes das lutas. Tenho de levar isso como motivação agora", completa.

É o único momento em que Keno perde o sorriso fácil quase sempre à mostra. O sotaque é baiano, apesar de morar há nove anos em São Paulo, para onde se mudou aos 13 por causa do boxe. Apesar de tanto tempo, conhece pouco da cidade. Quando não está treinando na seleção brasileira permanente, estuda ou planeja viagens para ficar com a família na Bahia.

Formado em Educação Física, o pugilista está no segundo ano do curso de Direito.

"Sempre fui muito novo em tudo e saí de casa bem jovem. Quando disse ‘vou lutar boxe’, recebi o abraço da família. A maior dificuldade ainda é a distância que eu fico deles."

Quando diz pretender melhorar seu resultado no Mundial, isso só pode significar uma coisa: medalha de ouro. A ideia que tem é evoluir em todos os resultados que obteve no ciclo olímpico anterior, inclusive nos Jogos.

Tudo pode se tornar mais simples no sorteio das chaves, o caminho para a medalha. Isso deve acontecer neste sábado (29).

"Boxe é um esporte bem competitivo e todos os países têm pelo menos um atleta de alto nível e com físico bem apurado. Mas no sorteio, às vezes você cai em uma chave relativamente fácil. Outras podem exigir bastante de você e te deixarem pelo caminho porque são chaves compostas por atletas mais fortes. Temos de nos preparar para todos", explica.

No horizonte está sempre o que aconteceu há quase dois anos no Ryogoku Kokugikan, em Tóquio. Keno chegou ás quartas de final das Olimpíadas sabendo que vitória contra o britânico Benjamin Whittaker lhe garantiria pelo menos a medalha de bronze.

O brasileiro perdeu em uma decisão contestada. Ele já reviu a luta "dezenas de vezes" e considera ter sido apertada, mas de resultado questionável.

"Poderia ter feito algo a mais para ter deixado de forma mais explícita a minha vitória. O britânico era experiente. Faltou bem pouco. Boxe é um esporte subjetivo. Cinco árbitros vão julgar dentro de alguns critérios. Temos de convencê-los", analisa.

Minutos após o combate, ele havia falado considerar o resultado justo porque tinha cometido erros "mínimos" no ringue.

O medalhista de ouro brasileiro nos Jogos, Hebert Conceição, decidiu seguir o caminho do profissionalismo na esperança de conquistar título mundial e em busca de bolsas milionárias que não estão presentes no boxe olímpico.

É uma trajetória que não passa pela cabeça de Keno Marley. Ele ainda tem contas a acertar nas Olimpíadas.

"São esportes diferentes, A maioria dos atletas quando passa para o profissional já cumpriu seu trabalho no boxe olímpico. Eu não penso a minha carreira pela fama e dinheiro. O ritmo de luta é diferente, as regras e formato das competições também", ressalta.

As lutas no boxe são de três rounds. No profissional podem chegar a 12.

"A intensidade da luta [olímpica] é muito superior. Quem luta 12 precisa dosar, cadenciar mais. No profissional, entre um combate e outro são meses de preparação, No ano passado eu fiz 23 lutas."

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