'Meu medo era ser ecochata', diz atriz que faz mutirões de limpeza em praias

Thaiane Maciel, famosa por 'Malhação', se tornou engenheira ambiental e ganhou prêmio internacional por recolher mais de 140 toneladas de lixo

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São Paulo

Thaiane Maciel atuou em novelas da Rede Globo, como "Malhação", durante toda a infância. Mas foi fazendo vídeos na internet sobre sustentabilidade que uniu seu talento artístico à formação em engenharia ambiental.

"Não sou influencer, sou engenheira", diz ela. Aos 29 anos, se orgulha de ter criado um negócio de impacto socioambiental e de liderar mutirões de limpeza voluntários pelo Rio de Janeiro, quando passou a ser conhecida como "rainha da sucata".

Pelo menos 140 toneladas de lixo foram recolhidos por Thaiane Maciel, atriz de Malhação e engenheira ambiental
Thaiane Maciel, atriz de 'Malhação' e engenheira ambiental, lidera mutirões de limpeza que já recolheram 140 toneladas de lixo - Divulgação

Já foram 140 toneladas de lixo recolhidos em dois anos. Pelo seu trabalho, Thaiane foi reconhecida em Londres como uma das 50 jovens líderes globais que geram impacto positivo para a agenda ESG.

Missão que encampa como propósito de vida. "Ser empreendedora social no Brasil é se desdobrar em mil, é desafio atrás de desafio para tocar projetos que fazem a diferença."

Em entrevista à Folha, ela conta como deixou as novelas de lado para se dedicar à pauta ambiental. E confessa estar esperançosa para que, com o novo governo, o país volte a ser protagonista na agenda climática.

"Comecei a trabalhar aos 3 anos de idade. Foi precoce mesmo. Meu primeiro contrato foi aos 6 anos e fiquei na Rede Globo até os 13 fazendo novela. Meus irmãos e eu atuamos cedo por necessidade quando meus pais se separaram. Éramos três crianças fofas e super concentradas, fazíamos sucesso nos testes.

Depois comecei a pensar no que eu gostava de fazer além de ser atriz. Fiz um curso técnico em meio ambiente durante o ensino médio e, depois, engenharia ambiental na UFRJ. Em uma das aulas, precisei criar um projeto de educação.

Thaiane Maciel atuou em 'Malhação' e hoje segue carreira como engenheira ambiental
Thaiane Maciel atuou em 'Malhação' e hoje segue carreira como engenheira ambiental em um negócio de educação ambiental - Christelle Alix

Foi aí que nasceu o Canal Novo Mundo no YouTube. Com ele, torno a sustentabilidade acessível para todo mundo. E uni duas coisas que amava: atuar e educar.

Com o tempo, o canal se transformou em negócio de impacto socioambiental. Temos criação de conteúdo, palestras, oficinas e trilhas formativas sobre sustentabilidade para apoiar empresas e escolas.

Mas foi na pandemia que descobri a Thaiane "rainha da sucata". Voltei a morar no Rio de Janeiro e me vi um dia na praia, com meu irmão, catando lixo na areia. Sou nascida e criada na Ilha do Governador e lá, apesar da poluição, não tem muitas ações ambientais.

Aquilo foi uma sementinha. Hoje temos um braço de voluntariado com 2.000 pessoas que participam dos mutirões de limpeza. E tem o Gari, meu cachorro, que também vai.

Vamos a praias, comunidades, praças e parques do Rio de Janeiro e, com apoio da Comlurb - Companhia Municipal de Limpeza Urbana, recolhemos resíduos e separamos o que é reciclável. Depois fazemos a pesagem. O plástico geralmente é o material mais coletado.

Mas já vi de tudo. Dá para mapear o lixo: em Ipanema, que é turística, encontramos descartáveis de uso único, tipo copo plástico, tampinhas e canudos. Já na Baía de Guanabara tem até lixo de banheiro. O mais inusitado que recolhi foi um desodorante de 1993, ano em que nasci.

As pessoas geralmente agradecem, mas já nos abordaram em tom de deboche, como se nossa ação não valesse nada.

Em dois anos, coletamos 140 toneladas de resíduos em mutirões. Ou R$ 140 mil reais movimentados, se considerarmos que 1 kg de plástico rígido é vendido a R$ 1 por cooperativas do Rio, que é para onde o material coletado vai.

Em outubro, fui reconhecida pelo "Woman in ESG" como uma das 50 jovens líderes que geram impacto positivo para a agenda ESG. Fui para Londres receber o prêmio. Mas é chato ser reconhecida lá fora enquanto estou aqui, catando lixo e indo nas escolas municipais do meu país.

Não imaginava alcançar esses espaços, como ser presidente da One Earth One Ocean Rio, organização alemã que combate a poluição dos oceanos e gera renda para comunidades locais de pescadores.

Mas precisamos de financiamento para aumentar o impacto na ponta. O ESG não pode ser desculpa para melhorar discurso e ficar no mesmo lugar.

Que no ano que vem, com o novo governo, possamos ter mais espaço para a educação ambiental. A mudança climática não está só lá fora. Nosso país precisa retomar seu protagonismo.

Ser empreendedora social no Brasil é se desdobrar em mil, é desafio atrás de desafio para tocar projetos que fazem a diferença.

Meu medo era ser ecochata. Mas hoje vejo meu propósito alinhado, sei o que quero. Não sou influencer, sou engenheira."

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