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Inteligência artificial pode agilizar ajuda humanitária, diz estudo sobre ONGs

Pesquisa global da Charities Aid Foundation mostra sociedade otimista, mas ainda dividida em relação ao uso de tecnologia no terceiro setor

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São Paulo

Em tempos de mudanças climáticas, usar inteligência artificial (IA) no terceiro setor pode ampliar a capacidade de respostas rápidas a desastres naturais —o que significa antecipar a ajuda humanitária capaz de salvar vidas.

Uma pesquisa global avaliou o que pensam as pessoas sobre o uso de IA por ONGs. Para 37% dos entrevistados, os benefícios superam os potenciais riscos, em contraste com os 22% que afirmam o contrário. Outros 34% avaliam que as oportunidades e os riscos são iguais.

Mais de 6.000 pessoas de dez países, incluindo o Brasil, participaram do estudo realizado no final de 2023 pela Charities Aid Foundation. A organização britânica, representada aqui pelo Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), mantém um ranking de solidariedade que neste ano mostrou os brasileiros na 89ª posição entre 142 países.

Resgate de pacientes de hospital após enchente na Bahia - Camila Souza/GOVBA

Na pesquisa recente, o Brasil ocupa o segundo lugar entre aqueles que acreditam que os benefícios do uso da IA superam os riscos (30%), ficando atrás apenas do Quênia (44%) —enquanto a maioria da população da Austrália se mostra cética à adoção da tecnologia.

As oportunidades mais destacadas para o uso de inteligência artificial pelos respondentes brasileiros foram a possibilidade de auxiliar mais pessoas (29%), a capacidade de rápida resposta a emergências (22%) e a tomada de decisões mais precisas a partir da análise de dados (16%).

"A inteligência artificial poderá mapear potenciais riscos e informar a população na iminência de ser afetada", afirma Daniel Assunção, diretor-executivo da plataforma de voluntariado Atados.

"Pode ser benéfica no momento da resposta, otimizando a distribuição dos recursos e a comunicação entre os envolvidos, assim como depois, avaliando a qualidade da resposta a partir do cruzamento de dados disponíveis", completa.

A pesquisa ainda trouxe um olhar sobre os riscos da adoção dessa tecnologia para ONGs. Entre os respondentes brasileiros, tiveram destaque segurança de dados (30%), redução de postos de trabalho (26%) e geração de informações e decisões enviesadas (14%).

Para Rodrigo "Kiko" Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania, ONG que combate a fome há 30 anos, a IA contribui para o processamento de grandes volumes de dados, mas não substitui pessoas na tomada de decisões importantes. "Isso envolve questões culturais e sociais, que são subjetivas", avalia.

A entidade usa a tecnologia para otimizar sua comunicação, mas outras vê outras possibilidades a curto prazo, como o uso do recurso para a captação de doadores.

"Seu uso poderá nos ajudar a compreender melhor o perfil de nossos doadores e criarmos estratégias a partir desse conhecimento", afirma Kiko Afonso.

No ano em que teorias conspiratórias, desinformação e estigmas pautaram o debate sobre ONGs nas redes sociais dos brasileiros, a IA pode apoiar uma comunicação mais eficiente do impacto social de entidades.

"A inteligência artificial não deve ser um privilégio de poucos", afirma Neil Heslop, diretor-executivo da Charities Aid Foundation. "As instituições precisam permanecer atentas aos riscos, manter-se próximas à essência humana de sua causa e comunicar-se claramente com os doadores para ampliar o impacto social."

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