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Lalo de Almeida/Folha Imagem
Repórteres trabalham na Redação da Folha, que instituiu textos curtos, uso amplo de gráficos e divisão de assuntos por cadernos


Projeto Folha inicia jornalismo moderno


"Manual da Redação" é um dos elementos da renovação do jornal



ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
EDITORA DE TREINAMENTO

A nova edição do "Manual da Redação", que a Folha lança nesta terça-feira, faz parte da "revolução gerencial" iniciada pelo jornal há duas décadas, com o objetivo de implantar uma nova política editorial e profissionalizar a Redação.

Conhecido como Projeto Folha, o conjunto de medidas partiu do Projeto Editorial _que estabelecia novas bases doutrinárias_, sistematizou normas de escrita e conduta _como o manual_ e implantou instrumentos de controle de produção.

A Folha estabeleceu padrões que foram combatidos e depois seguidos por concorrentes


Como toda revolução, criou novas formas de trabalhar _adotadas depois por boa parte da imprensa nacional_, provocou simpatias e ódios e deixou "feridos", mas fez da Folha o jornal de maior circulação do país. Se a preocupação com apartidarismo e profissionalismo já vinha sendo exposta desde o começo da década de 80, foi em 1984, com a publicação do primeiro Projeto Editorial, que se adotou radicalmente a opção de administrar a Redação como uma empresa industrial moderna.

Era preciso fazer um jornalismo crítico, pluralista, apartidário e moderno, dizia o texto de 84, e isso deve ser feito com "intransigência técnica".

Pensado, discutido e publicado quando se esgotava o confronto oposição-situação, com o fim do regime militar, refletia a posição da empresa de que a preocupação com a ideologia política deveria ceder lugar à formulação de uma ideologia jornalística, cristalizada no Projeto Editorial.



A Folha estabeleceu padrões de comportamento profissional, editoriais e gráficos que, a princípio combatidos, foram depois seguidos pelos concorrentes, diz o diretor-adjunto de Redação do "Valor", Carlos Eduardo Lins da Silva, na época secretário de Redação da Folha e um dos responsáveis pela execução do Projeto. "O sucesso foi tão avassalador que os jornais ou copiavam ou sucumbiam."

Mudanças gráficas como a organização do noticiário em cadernos temáticos, introduzida em 1991, e a utilização intensiva, desde os anos 80, de gráficos, quadros e mapas foram algumas das adotadas por outros jornais. A versão mais recente do Projeto, publicada em 1997, prega uma seleção mais criteriosa dos fatos e uma abordagem mais articulada e aprofundada, como forma de sobressair à cacofonia informativa que resultou da difusão de novos meios de comunicação, como Internet, televisão a cabo e celulares (o projeto em vigor e as versões anteriores podem ser lidos no site http://www.uol.com.br/ fsp/brasil/fc170805.htm).

Metas e normas
O que provocou surpresa e às vezes revolta nas mudanças propostas pelo Projeto Folha em 1984 não foram os postulados editoriais, mas o fato de o jornal se assumir abertamente como produto, sujeito portanto às leis de mercado, e a ênfase dada a questões técnicas e procedimentos, como metas, normas e mecanismos de controle. O "Manual da Redação", publicado pela primeira vez em agosto de 1984, também foi motivo de reações. Embora não fosse o primeiro na imprensa nacional _na década de 20, "A Província" (PE) adotara o seu_, o manual inovou em duas áreas: foi o primeiro a ser posto à venda, dando ao público um instrumento por meio do qual o jornal podia ser cobrado, e ultrapassou as regras de gramática e estilo, sugerindo normas técnicas e de conduta. Entre os principais alvos das críticas estava uma norma jornalística recuperada pela Folha e tornada obrigatória: a de ouvir o "outro lado", sempre que houvesse uma acusação e publicar as diferentes versões com destaque proporcional. Regra que, com o tempo, se tornou consenso e hábito não só na Folha, mas também nos principais veículos de comunicação do país.

Também houve resistência interna contra a adoção da avaliação profissional, de controles da produção e reuniões de crítica, considerados por alguns como medidas burocráticas. A instituição de concurso como única porta de acesso de novos profissionais, a demissão de 27 jornalistas por suposta insuficiência técnica e a contratação de repórteres e redatores nem sempre de formação jornalística provocaram reações corporativas do Sindicato dos Jornalistas e de profissionais da própria casa.

Transparência interna e externa
Um dos esteios do projeto era que a Folha fosse transparente externa e internamente. Projetos editoriais e manuais foram divulgados abertamente e, em 1989, o jornal tornou-se o primeiro da América Latina a instituir a função do ombudsman, que entre outras atribuições faz uma crítica interna diária, distribuída para todos os jornalistas. Na mesma época o jornal começou a fazer, com a ajuda do Datafolha, medição extensa de indicadores como número de notícias publicadas, de gráficos, mapas, ilustrações e fotografias, na Folha e nos principais concorrentes, para medir quantitativamente o avanço do projeto.

Também foi decidido dar transparência a erros de conteúdo _informações incorretas, imprecisas, mal explicadas_ e de escrita _gramática, digitação e padronização definida pelo manual.

Em 1996 criou o Programa de Qualidade, voltado exclusivamente para prevenir e combater erros e melhorar a qualidade do texto e tomou uma iniciativa inédita na imprensa: levantar de forma minuciosa os erros de informação da Folha e dos principais concorrentes.

Controle de erros
Hoje, o levantamento é feito por meio de checagem e cálculos estatísticos e permite saber quantos erros de informação há, na média, em cada página do jornal. No segundo semestre do ano passado, por exemplo, havia 0,22 erro de informação. Isso significa que, numa página padrão de noticiário, com fotos, infografias e sem anúncios, há 0,79 erro _ou 3 erros a cada 4 páginas.

Já o levantamento de erros de escrita _em vigor desde 1984_ mostra que, em janeiro deste ano, por exemplo, o jornal cometeu 1,7 erro por página padrão _5 erros a cada 3 páginas.

O coordenador do departamento, Rogério Ortega, diz que o Programa de Qualidade é uma consequência da disposição de autocrítica implantada desde 1984 com o Projeto Folha. "Temos hoje mecanismos mais minuciosos que possibilitam um trabalho individualizado com os profissionais da casa, para que eles trabalhem melhor na Folha ou em qualquer outro veículo."

Assim como o Programa de Qualidade, iniciativas como os seminários de formação interna e o programa de treinamento estavam "embrionárias" no Projeto Folha. Em 1987, criou-se o programa de correspondentes bolsistas, pelo qual profissionais da Folha são selecionados em concurso para trabalhar, por um período em geral de seis meses, como correspondentes no exterior.

Em busca de talentos
O programa de treinamento, que procura atrair jovens talentosos e ensiná-los a fazer jornalismo diário, começou em 1988 e, desde então, formou mais de 200 jovens, dos quais cerca de 90% foram aproveitados pelo jornal. De início com duração de três semanas e várias simulações _na primeira turma, o então editor do Painel, Boris Casoy, fingia ser o presidente da República em entrevistas_, o programa foi ampliado para dez semanas, inclui a elaboração de cadernos _dois deles premiados_ e entrevistas com personalidades como Mário Covas e Antonio Carlos Magalhães. A Editoria de Treinamento também organiza cursos e subsidia a formação de jornalistas, num investimento de cerca de R$ 500 mil por ano.

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