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Folhetim (de 6/2/83) traz textos sobre autores imaginários e Mais! (de 8/3/92) discute o feminismo
A renovação cultural




Jornal modifica o debate de idéias com suplementos como Ilustrada, Folhetim e Mais!




CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

No primeiro número da Folha, em 1921, os assuntos culturais cabiam em duas perninhas de texto, que informavam o que se passava "pelos cinemas", "pelos salões", "pelos circos" e "pelos theatros".

As pernas cresceram. Viraram páginas, cadernos e andaram muito além de salões, circos, cinemas e teatros paulistanos. Aos 80, a Folha chega a ter, com a publicação do caderno diário Ilustrada, do semanal Mais! e do mensal Jornal de Resenhas, cerca de cem páginas de jornal voltadas para a cultura em uma semana.

As pegadas que levam até esse ponto foram feitas ao longo das décadas. Mas os principais passos estão nos anos 70 e 80. O dia 23 de janeiro de 1977 é um dos começos. Nessa data circulou a primeira edição do suplemento semanal Folhetim.

Criado pelo jornalista Tarso de Castro (1941-91), o caderno em formato tablóide (metade do tamanho padrão de uma folha de jornal) nasceu com uma atitude característica dos chamados órgãos alternativos. Assim como em um dos mais relevantes deles, "O Pasquim", que Castro ajudara a desenvolver, o suplemento é marcado inicialmente por humor e irreverência.

O Folhetim era uma extensão para a grande imprensa de um jornalismo cultural de esquerda não ortodoxo.

Nessa primeira dentição, o suplemento funcionava como uma espécie de revista da semana, sendo feito sobretudo por jornalistas e cartunistas.

Ainda antes da chegada dos anos 80, o Folhetim inicia uma aproximação com a universidade. Edições passam a discutir temas sociais e políticos, cuja matéria-prima vinha de debates organizados pelo suplemento no auditório do jornal. Esse relacionamento com a produção universitária é estreitado no início dos anos 80.

"No começo da década houve um trabalho de trazer de volta a capacidade crítica de pensamento, trazer para o jornal a academia que fazia reflexões culturais e políticas importantes", conta Caio Túlio Costa, diretor-geral do Universo Online, que coordenou o Folhetim entre 1981 e 1982, quando editou a Ilustrada (à qual o Folhetim era subordinado).

Nesses anos, os dois cadernos começaram a viver suas mudanças mais profundas.

Tanto o Folhetim quanto sua irmã mais velha e diária, a Ilustrada (criada em 1958 por José Nabantino Ramos com a idéia de que o primeiro caderno ficaria com o marido e, o segundo, a Ilustrada, com a mulher), passam a tratar da cultura como um mercado.

O suplemento semanal se encarrega de produzir reflexões sobre a indústria cultural, abrindo o espaço _que antes era usado só por jornalistas_ para uma nova inteligência brasileira, também empenhada em debater o processo de redemocratização. A Ilustrada atua na crítica de produtos específicos, atividade desenvolvida com base na idéia de que os objetos culturais, sejam eles livros, discos ou filmes, deveriam ser tratados também como produtos, obedecendo, portanto, às leis do mercado. Quatro grupos participaram dessa renovação do jornalismo cultural da Folha, sendo dois deles de jornalistas. Os primeiros vinham de experiências na imprensa estudantil e alternativa. Eles se integraram a uma equipe de jornalistas culturais como Paulo Francis, Sérgio Augusto e Ruy Castro, que passaram por "O Pasquim".

Completavam o quadro um grupo oriundo da universidade, sobretudo da USP, e o círculo dos concretistas, formado tanto por poetas como Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari como por uma geração mais jovem ligada a eles.

Ganha espaço no papel-jornal uma cultura menos envolvida com a militância política, característica das décadas anteriores. "A Folha combate um populismo nacionalista que havia nos cadernos do período, questiona abertamente a política da esquerda oficial, que receitava Jorge Amado, Ferreira Gullar, a busca das raízes brasileiras", narra o diretor editorial do jornal de esportes "Lance!" Marcos Augusto Gonçalves, que chefiou o Folhetim quando foi editor da Ilustrada (1984-1985 e 1986-1987).

A nova antena da Ilustrada (e de certo modo do Folhetim, mais sintonizado com a dita alta cultura, da literatura à filosofia) capta a criação das vanguardas culturais, a cultura pop, os grupos de rock.

Era um jornalismo cultural menos militante, mais provocativo, polêmico, disposto a questionar dogmas.

"Essa iconoclastia da Ilustrada refletia o momento histórico, em que estava sendo tirada a tampa do caldeirão. Durante os anos militares, todos falavam a mesma linguagem. Eram todos contrários ao governo militar. Quando abriram a panela de pressão, apareceram discursos muito diferentes", lembra Matinas Suzuki Jr., vice-presidente de conteúdo do portal de Internet iG e ex-editor da Ilustrada (1982-1984 e 1985-1986), que viria a ser editor-executivo da Folha.

Com o início da "Nova República", em 1985, o caldeirão da Ilustrada borbulha uma visão antiestatal, combatendo o paternalismo do Estado.

A Ilustrada abre fogo, então, contra a Embrafilme, estatal que produzia e distribuía cinema nacional, polemiza com as diretrizes do Ministério da Cultura e da Funarte, que o caderno batiza de "cultura da broa do milho" (leia o texto "Todas as versões de um mesmo fato"), combate a censura que o governo Sarney faz à exibição do filme "Je Vous Salue Marie", do cineasta Jean-Luc Godard, em 1986.

Em 1989, o Folhetim deixa de circular, depois de 636 edições. No lugar, é criado o caderno Letras, que acompanha com uma linguagem mais jornalística a produção do mercado editorial.

Três anos depois, a Folha lança o caderno Mais!, que absorve o suplemento Letras e promove uma espécie de fusão entre o jornalismo que havia sido elaborado pelo Folhetim e o da Ilustrada.

"O Mais! é a revolução permanente do jornalismo cultural da Folha. Seu objetivo sempre foi informar o leitor sobre os principais debates desta época, segundo um modelo em que atitude jornalística e reflexão intelectual não se contradizem", diz Alcino Leite Neto, atual editor de Especiais da Folha, que editou o Mais! entre 1994 e início de 2000.

O capítulo mais recente na linha do tempo do jornalismo cultural da Folha foi a criação, em 1995, do caderno Jornal de Resenhas, feito em parceria com universidades.

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