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Dez.49/Folha Imagem
Profissionais trabalham na Redação da "Folha da Manhã"/"Folha da Noite", em prédio na rua do Carmo, região central de São Paulo, nos anos 40


Getulistas destroem máquinas da Folha



Equipamento foi jogado na rua e o jornal ficou três meses sem circular


MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO

A Folha surgiu em 1921 sob o formato de um jornal vespertino, a "Folha da Noite", voltado para os assalariados urbanos. Os empregados que regressavam para casa após o serviço queriam ter acesso às últimas notícias. Na época, porém, nem rádio havia, e os vespertinos cumpriam essa função.

Os fundadores da Folha eram jornalistas de "O Estado de S. Paulo", que antes acumulavam um segundo emprego no "Estadinho", edição vespertina do "Estado" que a empresa fechou logo após o fim da Primeira Guerra.

Liderado por Olival Costa e Pedro Cunha, o grupo propôs aos diretores do "Estado" um acordo pelo qual a empresa faria a impressão e distribuição do novo vespertino. Os custos seriam pagos pelos jornalistas com a receita da venda avulsa e dos anúncios.

Em 1960, "Folha da Manhã", "Folha da Tarde" e "Folha da Noite" se tornam a Folha de S.Paulo


A proposta foi aceita, e o próprio Júlio de Mesquita Filho redigiu o editorial de apresentação da "Folha da Noite". A Redação foi instalada em uma sala na rua São Bento, cedida por dois taquígrafos do Legislativo estadual.

Lançada em 19 de fevereiro, a cem réis o exemplar, ao fim da primeira semana os fundadores foram convidados a saldar um pequeno déficit _pouco mais de 100 mil réis de cada sócio. Daí em diante, a receita passou a ser suficiente para cobrir os custos, proporcionando um lucro crescente. Em 1925, Pedro Cunha e Olival Costa adquiriram uma rotativa usada, alugaram um casarão na rua do Carmo e, no dia 1º de julho, lançaram a "Folha da Manhã".

O que distinguia a Folha de outros veículos era a linguagem simples e um estilo mais leve, "que contrastava com a sisudez e austeridade dos demais jornais", como dizia Cunha. Seus fundadores achavam que o jornal deveria se manter independente em relação a partidos e adotar uma linha flexível, mudando de opinião sempre que fatos novos assim o exigissem, já que posições assumidas no passado não eram pretexto para a "estagnação da razão".

Na visão da Folha, a missão primordial do jornal era "fiscalizar o governo", o que se concretizou numa série de campanhas, entre as quais destacam-se a defesa do voto secreto, a construção de habitações operárias, o direito às férias, a regulamentação do trabalho dos menores nas fábricas e a ampliação da rede escolar.

O jornal acompanhou com simpatia os movimentos tenentistas, tendo sido proibido de circular entre os dias 3 e 31 de dezembro de 1924 _período em que saiu sob o nome de "Folha da Tarde". Em 1929, porém, Pedro Cunha deixou a sociedade, e a linha editorial sofreu uma inflexão: Olival Costa passou a apoiar ostensivamente a candidatura do paulista Júlio Prestes (PRP) à Presidência.

O empastelamento visto da esquina
Os líderes da Aliança Liberal foram alvos de seguidos ataques. O resultado dessa tomada de posição contra Getúlio Vargas _"político derrotado nas urnas, pensa que vencerá pelas armas"_ foi a destruição do jornal. Na noite de 24 de outubro de 1930, a multidão que comemorava a deposição do presidente em São Paulo destruiu as instalações da Folha. As máquinas de escrever e os móveis foram jogados na rua e incendiados.

Olival Costa assistiu ao empastelamento da esquina. Quando a multidão deixou o prédio, pediu licença aos soldados para entrar no prédio. Lá viu um homem vestindo seu sobretudo. Ao observar que aquela roupa era sua, recebeu a seguinte resposta: "Foi sua, amigo. Hoje tudo isto é nosso".

A Folha ficou sem circular até 15 de janeiro de 1931, quando Octaviano Alves de Lima, de uma família de fazendeiros de café, comprou a empresa de Olival _que morreria em dezembro de 1932.

A absoluta imparcialidade
Após a mudança, a ênfase nos problemas urbanos cedeu lugar à defesa da lavoura cafeeira. Foram instaladas sucursais no interior, e todos os assuntos relativos à agricultura passaram a ser acompanhados com máxima atenção. A tiragem dos dois jornais subiu de 15 mil para 80 mil exemplares por dia.

De início, a nova direção não tomou posição em relação a Vargas. O tom conciliatório persistiu até 1932, quando a Folha apoiou a Revolução Constitucionalista "para libertar o Brasil de um grupo que se instalara no poder empenhado em desfrutá-lo". A crítica ao governo continuou até o golpe de 1937, quando a política quase desapareceu do noticiário.

Em 1945, ainda com Vargas no poder, Octaviano decidiu vender o jornal por considerar "inútil o trabalho e insana a espera". Em 10 de março de 1945, José Nabantino Ramos, Clóvis Queiroga e Alcides Meirelles assumem a Empresa Folha da Manhã manifestando o intuito de defender a democracia e manter "absoluta imparcialidade em relação a partidos e intransigente defesa do interesse público".

Em 1946, a impressão do jornal passou da rua do Carmo para a rua Anhangabaú, onde foi instalada uma rotativa Goss. Em novembro de 1949, a Redação mudou-se para a al. Cleveland. Em 1950, a impressão começou a ser feita na nova sede que Nabantino mandara construir entre as ruas Barão de Limeira e Barão de Campinas. Quando ficou pronta, em abril de 1953, passou a abrigar todas as instalações da Folha.

No dia 1º de julho de 1949, Nabantino relançou a "Folha da Tarde". Dez anos depois, porém, Nabantino convenceu-se de que não havia "fatos novos em quantidade suficiente" para alimentar três jornais. Em 1º de janeiro de 1960, os três são reunidos na Folha de S. Paulo, nome com o qual as "Folhas" eram conhecidas no interior.

Durante a gestão Nabantino, o jornal manteve a defesa da livre iniciativa, mas enfatizando a necessidade de adotar políticas sociais. Como escreveu Nabantino, "teremos de ficar no centro, é verdade, mas olhando para a esquerda e dando-lhe mil atenções".

Assumiu uma posição desenvolvimentista, favorável à construção da nova capital e ao ingresso do capital estrangeiro, mas contrária ao comunismo e ao populismo (nas figuras de Vargas, Adhemar, Jânio e Jango). Sua orientação fiscalista guardava certa afinidade com a UDN, mas distinguia-se do partido pela defesa da legalidade (criticou a tentativa de impedir a posse de Juscelino).

Nos anos 50, o jornal empreendeu uma intensa campanha em favor da adoção da cédula única de votação, para eliminar as fraudes, e em defesa da escola pública, contra as "fábricas de diplomas".

A partir de 1958, Nabantino passou a enfrentar dificuldades para renovar o parque gráfico e fazer frente ao aumento do preço do papel, problemas agravados por uma greve no jornal em 1961. Decidiu vender a Folha aos empresários Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, o que se consumou no dia 13 de agosto de 1962.

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