Home
 Tempo Real
 Coluna GD
 Só Nosso
 Asneiras e Equívocos 
 Imprescindível
 Urbanidade
 Palavr@ do Leitor
 Aprendiz
 
 Quem Somos
 Expediente
gdimen@uol.com.br

A rede dos e-diotas

Lugar de Internet é na cozinha, prega uma campanha publicitária nos Estados Unidos destinada a vender uma caixa, batizada de "e-mail station", capaz de acessar a rede em qualquer lugar, sem necessidade de computador.

A publicidade vende o monumental apelo das engenhocas que se conectam à rede sem fios, desobrigadas de aguardar à "interminável" espera do computador. Enquanto se prepara a refeição, comem-se as palavras no visor.

É o apelo da geladeira ou relógio de pulso conectados à Internet.

Começa a se popularizar, no Brasil, o celular que recebe e envia dados, deixando qualquer indivíduo informado 24 horas por dia.

Engenheiros desenvolvem linhas de produtos para serem instalados do carro ao banheiro, tirando obstáculos ao tempo real.

A sofisticação tecnológica é embalada pelas idéias antigas de que tempo é dinheiro e informação é poder, acrescentada da sensação de que ficar longe do tempo real é uma espécie de orfandade.

A euforia tecnológica se transforma, para muitos, em histeria e vai criando os e-diotas - os idiotas da rede.

O e-diota, categoria na qual, admito, muitas vezes, me incluo, é aquele que se sente perdido, desamparado, porque esqueceu o celular em casa ou atende ao telefone quando está dirigindo.

Prefere pagar uma tarifa estupidamente cara a aguardar um telefone fixo, cuja ligação, aliás, não cai.

Vamos nos sentindo como um operador do pregão da bolsa, presos neuroticamente ao que acontece a cada segundo, num dilúvio de dados.

Raro, hoje, estarmos num cinema, teatro, reunião, conferência e não ouvir algum celular tocando - e, mesmo apesar da óbvia inconveniência, menos raro ainda é o sujeito atender e conversar como se nada a sua volta estivesse acontecendo.

*

Uma reportagem publicada pelo The Wall Street Journal detectou mudança de comportamento dos americanos mais jovens, especialmente os engolfados pelos encantos da rede.

Constatou falta de educação e polidez, falta de disposição ao ritual do convívio. O valor máximo é a inovação num ambiente virtual.

Esse comportamento se vê nas filas, nos restaurantes, cinemas ou lojas, com a ausência, por exemplo, de um obrigado ou na impaciência diante de um velho com dificuldade de locomoção ou de um vendedor.

Conversa-se bem à distância e administra-se mal a proximidade, uma óbvia e-diotice.

Os seres humanos perdem e as máquinas ganham interatividade. Difícil encontrar pessoas, especialmente os mais jovens, hábeis em contar boas histórias, fazer relatos interessantes sobre suas experiências, na admirável tecnologia do bate-papo.

Nada é mais interativo (nenhum software chega perto) de uma boa conversa, movida a sorrisos e olhares reais.

Pergunte a qualquer cientista dos mais avançados centros de pesquisa de tecnologia de informação sobre se existe alguma engenhoca capaz de competir com a interatividade do ser humano - e ouvirá a singela resposta negativa.

Fácil entender. Assista a uma videoconferência e a uma palestra ao vivo daquele mesmo conferencista; a diferença é estúpida.

As novidades da tecnologia da informação têm significado extraordinários avanços para a distribuição do saber, barateando e popularizando seu acesso.

O desfecho de Celso Pitta na prefeitura, por exemplo, é consequência de uma sociedade mais democrática, articulada e atenta, por ser também mais educada e informada - e mais informada graças, em boa parte, à transmissão eletrônica.

Mas o e-diota é, no geral, vítima de um equívoco - o de que excesso de informação significa conhecimento.

Explico: conhecimento é a informação transformada em algo útil. O dilúvio de dados serve, muitas vezes, mais para confundir do que esclarecer.

O tempo real embute o risco de se ligar tanto ao presente, ao imediato, que perdemos o valor do passado e a perspectiva de futuro; importante passa a ser o que acontece aqui e agora.

Estudos realizados nos Estados Unidos mostram a dificuldade de se ensinar história, tamanha a valorização do imediato.

A informação só vira, de fato, conhecimento, quando podemos jogá-la num contexto, medir sua importância, a partir de comparações.

For a disso, é um exercício diário de alienação.

*

A rede dos e-diotas se esquece de um princípio elementar das invenções.

Ao passarmos cada vez mais tempo presos a alguma tela, seja do computador, do televisor ou celular, deixamos de lado a obviedade de que a tecnologia é desenvolvida para ajudar as pessoas a viver e conviver melhor.

*

PS - Ocorreram, nesta semana, dois encontros valiosos mostrando o que há de melhor em tecnologia de informação aplicada à educação. Um deles, o Mercado Mundial de Educação, no Canadá, e outro em São Paulo, intitulado, Educar 2000.

São instrumentos poderosos na busca da democratização do conhecimento. Leia o melhor dos dois encontros, enriquecidos com uma pasta sobre ensino à distância, no site do Aprendiz.

 

 
                                                Subir