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Massagem
politicamente correta
Migrantes
pobres, Claudines Machado e Dorcival Soares Neto conseguiram
construir uma história diferente numa cidade acostumada
às mais inusitadas histórias de migrantes: são
cegos e massagistas. Ambos foram contratados para trabalhar
no Hotel Emiliano, um dos ambientes mais refinados de São
Paulo, onde a diária não sai por menos de R$
700.
Com 57
quartos, o hotel oferece pouco mais de dois funcionários
para cada hóspede, desobrigado, por exemplo, da tarefa
de arrumar as malas. Os assentos das privadas são aquecidos,
o que dá a medida da suscetibilidade daquela clientela.
Claudines
e Dorcival já eram massagistas formados quando, neste
ano, foram chamados para trabalhar no SPA do Hotel Emiliano.
"O cego é privilegiado no toque", diz Monica
Fukuyama Watake, responsável pelo SPA, contando a lição
que aprendeu em clínicas de massagem no Japão.
"O que o indivíduo não tem nos olhos ele
ganha nos dedos", confirma o médico-cirurgião
Ling Tung Yang, professor de acupuntura e massagem do Centro
de Estudos Integrados de Medicina Chinesa, onde muitos dos
alunos são estudantes e médicos já formados
do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Claudines
e Dorcival fizeram a trajetória comum aos migrantes,
só que agravada com as dificuldades de quem carrega
um problema físico. "Na minha terra, Cajazeiras,
no interior da Paraíba, não existe emprego nem
para quem enxerga, imagine para cegos", conta Dorcival.
Por muito tempo, porém, ele ficou em São Paulo
trancado em casa, ajudado por parentes. "Troquei a falta
de liberdade da Paraíba pela falta de liberdade aqui."
"No
trabalho, sempre nos dão as piores tarefas, usando
como pretexto a deficiência física", lembra-se
Claudines, que, por intermédio de amigos também
deficientes visuais, soube da oportunidade de fazer um curso
de massagem.
Avisou, então, seu amigo Dorcival, que sonhava em entrar
numa faculdade de fisioterapia, mas não tinha como
pagar a mensalidade e também não dispunha de
tempo para estudar sem ganhar dinheiro.
Como bom
migrante, não desanima, quer o diploma de ensino superior:
"Já prestei vestibular duas vezes para a USP,
mas existe muita concorrência. Um dia vai dar",
aposta Dorcival, satisfeito, porém, porque já
consegue, atualmente, ganhar R$ 1.500 mensais.
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