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16/02/2004
Em São Paulo, desigualdade cresce na saúde

A desigualdade da saúde de pobres e ricos foi ampliada nos primeiros anos da gestão Marta Suplicy (PT) em São Paulo. É o que mostra a avaliação do principal indicador da área feita pela própria prefeitura.

A região da cidade que já tinha o melhor índice só melhorou. A que já estava ruim, piorou ainda mais.

A diferença entre o melhor e o pior coeficiente de mortalidade infantil, que estima o risco de um nascido vivo morrer em seu primeiro ano de vida, passou de 10,6 mortes por 1.000 nascidos vivos em 2001 para 15,5/1.000 em 2002.

O pior índice do primeiro ano, da área da atual Subprefeitura de Perus (zona norte), era 2,1 vezes o da de Pinheiros (zona oeste), com a melhor marca. Em 2002, passa a corresponder a 2,8 vezes o de Pinheiros, ainda na melhor posição -valor próximo ao dos suecos e japoneses. Cidade Tiradentes, na zona leste, tem o pior da capital, 23,9/1.000 nascidos vivos.

Enquanto Pinheiros manteve o menor índice, Cidade Tiradentes teve um aumento de 29,1%. Em outras 11 das 31 subprefeituras, a mortalidade também cresceu -o pico foi de 45,1%, no Itaim Paulista (zona leste).

No município, também não foi atingida a meta geral de mortalidade infantil, pactuada entre a União, o Estado e a capital. O objetivo era chegar a um índice de 14,4 já em 2002 -a prefeitura obteve 15,08. O valor é melhor do que o de 2001, 15,35, confirmando a tendência consolidada de queda. Ficou acima do resultado do Estado, 15,04, mas bem abaixo da média brasileira: 28,3 em 2000. A diminuição na cidade, porém, nunca foi de forma homogênea.

Meta otimista
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera alta a taxa acima de 40 óbitos de menores de 1 ano de idade por 1.000 nascidos vivos. A Cúpula Mundial da Criança fixou como meta para o Brasil em 2000 a taxa de 30 óbitos infantis por 1.000 nascidos vivos.

"Achamos os 14,4 [da meta assumida pelo município] excessivamente otimista. Não tínhamos controle para reduzir nesse grau", avalia Marcos Drumond Junior, assistente-técnico da coordenação de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde, responsável pela avaliação desde a gestão anterior -houve troca de secretários no início de 2003.

Para Drumond Junior, a cidade é complexa e muito polarizada. "Nesta cidade, já é um ganho conseguir reduzir."

A prefeitura destaca, em seu relatório, que a mortalidade infantil depende da ação dos serviços de saúde, mas também das condições de vida gerais da população, como educação e trabalho.

Segundo o documento, no entanto, 70% dos óbitos infantis no município se concentram no período neonatal (dos 0 aos 28 dias de vida). "Essa característica do indicador amplia a capacidade de avaliar os serviços [de saúde] e marca sua relação com a qualidade do pré-natal e do parto, além da assistência das crianças no pós-parto", diz o documento.

"O resultado tem tudo a ver [com a assistência]. Do pré-natal até o número de consultas", completa Ana Maria Bara, coordenadora do Programa de Saúde da Criança do município.

No relatório de gestão de 2002, a prefeitura apontava que os principais problemas na atenção ao recém-nascido são a falta de assistência ao nascimento, falhas no atendimento do berçário e no alojamento conjunto, prematuridade e baixo peso, infecção neonatal, insuficiência de leitos para atendimento ao recém-nascido doente e falhas na identificação daqueles que precisam de melhor acompanhamento.

Ali, a presença do pediatra na hora do parto era apontada como fator decisivo na redução das complicações, assim como a investigação dos óbitos infantis.

"Longe"
O coeficiente de mortalidade infantil compõe o chamado Índice de Saúde (IS), um indicador construído pela secretaria com a metodologia do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para que fosse possível um "ranqueamento" de áreas administrativas segundo suas condições de saúde.

O IS é uma "média da média" em que entram ainda outros três indicadores: a mortalidade precoce (antes dos 60 anos) por doenças crônicas não-transmissíveis, como o diabetes; o coeficiente de mortes por causas externas (homicídios, acidentes); e o coeficiente de incidência de tuberculose por 100 mil habitantes.

Quatro subprefeituras subiram no ranking (Santo Amaro, Perus, Aricanduva e Sé/Santa Cecília) entre 2001 e 2002. Caíram três: Itaim Paulista, Ipiranga e Ermelino Matarazzo. Pinheiros, Vila Mariana, Lapa, Mooca, Vila Prudente e Campo Limpo se mantiveram na mesma posição.

Os rankings de 2001 e 2002 mostram o imobilismo nos seus extremos. Pinheiros sempre no topo, Campo Limpo, periferia da zona sul, na base. "O índice demora para cair. E é preciso lembrar que estamos longe, no final do município", diz Judith Frank, assistente-técnica da coordenadoria de saúde de Campo Limpo.

FABIANE LEITE
da Folha de S. Paulo

 
 
 

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