Política
para juventude deve ir além do esporte e lazer, diz especialista
Raquel Souza
Especial para o GD
Após
sete anos no poder, o governo do estado de São Paulo descobriu
que adolescentes e jovens necessitam de políticas específicas.
Coincidindo com a aproximação das eleições,
começou a funcionar, nesta semana, a Secretaria de Juventude,
Esporte e Lazer, ainda sem orçamento definido.
O ex-vereador
Gabriel Chalita assumiu hoje a nova secretaria afirmando que pretende
focar os programas oficiais nas áreas de esporte e lazer,
e combatendo, assim, o ócio, a violência e o uso de
drogas.
Segundo Marilia
Sposito, professora da Faculdade de Educação da USP,
a nova secretaria precisa fazer mais. "As demandas dos jovens
são globais. Não adianta segmentar ações
como se o jovem precisasse apenas de campos de futebol", diz.
A professora
afirma que valoriza qualquer iniciativa destinada à juventude,
mas faz uma crítica à política adotada pelo
governo estadual, que atrela as necessidades dos jovens apenas ao
esporte e lazer.
Nesse caso,
o fato do novo órgão ocupar o espaço da extinta
Secretaria de Esportes e Turismo é sintomático.
Para Marília,
iniciativas de promoção da saúde e programas
de âmbito cultural (que ofereçam acesso a bens culturais
e valorizem a produção juvenil) são alguns
itens básicos de uma política pública voltada
para este segmento.
No que diz respeito à geração de trabalho e
renda, a professora conta que o governo precisa ir além da
tradicional capacitação. "Na Europa, há
uma intervenção do poder público junto às
empresas que proporciona a entrada dos jovens no mundo do trabalho.
Nosso país pode ter ações semelhantes",
conclui.
Leia
mais:
- Nova
secretaria comandará Febem
- Jovens
propõem prioridades para uma política voltada para
eles
- Programas oficiais priorizam esportes e lazer
- São Paulo aposta no trabalho voluntário
de universitários
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Jovens
propõem prioridades para uma política voltada para
eles
"O Capão Redondo [zona sul de São Paulo] tem
mais de 230 mil habitantes, é maior do que várias
capitais de países do mundo e não tem nenhum clube
poliesportivo, nenhum teatro, nenhum cinema e nenhum fórum.
Para ter acesso a essas coisas, é preciso se deslocar dez
quilômetros para chegar a Santo Amaro ou 30 para chegar ao
Centro", diz o monitor de aulas de dança de salão
Rogério Nascimento Campos, 18.
Ele participa
de um levantamento, feito pelo Instituto Sou da Paz e pela Associação
Chico Mendes, para mapear politicas voltadas aos jovens e analisar
o grau de desrespeito aos direitos humanos em seu bairro.
A sua receita
política para transformar o cotidiano do Capão Redondo
vai ao encontro do discurso de políticos e do que outros
jovens imaginam ser importante para a juventude.
"Falta
lazer e cultura, é preciso ter mais campos de futebol, piscinas,
clubes de graça, mais escolas, cinemas de graça ou
baratos, cursos para aprimorar talentos. O espaço existe,
falta investimento", diz Rogério.
Para Marcileide
Maria da Silva, 25, que participa do mesmo levantamento e mora na
Chácara Bandeirantes [zona sul de São Paulo"
ainda existe um longo caminho a ser percorrido pelo poder público
para atingir o jovem. "No meu bairro falta tudo, posto de saúde,
asfalto, água encanada. Só tem duas escolas na região
e elas não comportam todos os jovens", diz.
Segundo ela,
as políticas têm de passar pela educação,
pela construção de escolas e por programas que gerem
renda e mantenham o jovem nas salas de aula. "Aqui, neste mês,
chegou o Bolsa Trabalho [programa da Prefeitura de São Paulo
que dá ao jovens a oportunidade de fazer oficinas profissionalizantes
e de ser remunerado nesse período", mas ninguém
começou a receber o dinheiro nem a fazer curso ainda. É
um projeto interessante, mas dura só seis meses e é
para jovens de 16 a 20 anos. Tinha de ser para gente mais velha
também, até uns 25 anos."
Para a secretária
Ana Paula Assunção, 18, que mora no Jardim Ângela,
além da falta de lazer e da falta de oportunidades de trabalho,
também é importante que políticas de combate
à violência sejam traçadas. Mas com cautela.
"Se tiver demais, a violência pode até aumentar.
Quem está do lado violento vai pensar assim: "Esses
boyzinhos querem vir aqui falar da violência, eu vou mostrar
para eles o que é violência". Muita gente pensa
assim aqui", conta.
Ana Paula diz
também que as informações sobre saúde,
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis
e Aids não chegam até ela pela ação
governamental. "Eu sei disso tudo porque eu vou atrás,
porque eu tenho internet no trabalho e sou bem informada",
diz.
Mas não
é só na periferia que há falta de diálogo
e informação e que as pessoas não se sentem
atingidas pelas políticas públicas. Para a estudante
de desenho industrial Alice Abramo, 18, a falta de espaços
públicos e de áreas de lazer é um dos principais
problemas que os jovens de uma cidade como São Paulo enfrentam.
Para ela, é preciso traçar uma política que
contemple aspectos culturais, ambientais e de educação.
Eduardo Lagoa,
18, estudante de jornalismo, atenta para o problema da eficácia
da comunicação para os jovens, principalmente em relação
às campanhas de saúde e de trânsito. "É
preciso falar a língua do jovem. Na maior parte das campanhas
antidrogas, por exemplo, o governo consegue chocar crianças
e pais, mas não atinge os adolescentes", diz.
Já para
o estudante Rafael Chaves, 15, que já foi voluntário
distribuindo preservativos e quer participar da ONG Attac, as campanhas
de saúde são importantes, mas mais importante é
diminuir a desigualdade entre os jovens.
(Folha de S.
Paulo)
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Programas
oficiais priorizam esportes e lazer
Demorou para
o jovem tornar-se objeto de políticas públicas, mas,
agora, a quase um ano das eleições para a Presidência
da República e para o governo do Estado, temas ligados à
juventude parecem ter entrado definitivamente nas agendas oficiais.
Coincidência? É muito pouco provável.
Todas essas
políticas, nos âmbitos federal, estadual e municipal,
têm pontos comuns. O mais evidente é que, sem parcerias,
elas não sobrevivem. Em quase todos os programas em desenvolvimento,
a participação de empresas, organizações
não-governamentais, associações de bairro e
universidades não é apenas bem-vinda, é necessária.
Outro ponto
é o enfoque no esporte e no lazer, principalmente em espaços
públicos, visando ao combate às drogas, à ociosidade
e à criminalidade.
Assim como a
Prefeitura de São Paulo criou a Coordenadoria da Juventude
para integrar e centralizar políticas públicas voltadas
para o jovem, a partir de hoje, passa a funcionar uma nova secretaria
de Estado com a mesma finalidade. É a Secretaria da Juventude,
Esporte e Lazer, que terá como secretário o ex-vereador
de Cachoeira Paulista Gabriel Chalita, 32.
A secretaria,
criada após sete anos do PSBD no poder, ainda não
tem o Orçamento definido. Chalita diz que deve receber as
verbas que eram destinadas à extinta Secretaria de Esportes
e Turismo e também as destinadas à Febem.
Mesmo sem saber
o quanto vai ter de dinheiro para gastar, Chalita já definiu
suas prioridades (veja quadro acima). Para tanto, haverá
uma articulação com diferentes secretarias e com a
iniciativa privada. Um exemplo é o Projeto Guri, que fornece
instrumentos musicais para 7.000 jovens e deve ser ampliado. "Também
vou tratar de áreas públicas. Devo cuidar do parque
que será criado após a implosão do complexo
do Carandiru, no ano que vem."
Com a iniciativa
privada, Chalita quer implantar centros de juventude, que seriam
espaços de lazer e capacitação profissional,
que contariam com o apoio de empresas. "Um supermercado quer
empregar empacotadores? Nós usaremos esses centros para dar
um treinamento técnico e humanista para que, depois, esse
jovem possa ser absorvido pela empresa", diz.
Centros de referência
de lazer e de cultura e ajuda para a entrada no mercado de trabalho,
também são políticas adotadas pela Prefeitura
de São Paulo -como é o caso do Bolsa Trabalho, em
que jovens fazem oficinas profissionalizantes e são remunerados.
Com pautas comuns, tanto a prefeitura quanto o governo dizem estar
abertos para conversas e atuação conjunta.
O governo federal
não tem tanta integração nas políticas
para os jovens quanto o Estado e o município. Uma das exceções
é o Ministério da Saúde que, por meio da área
técnica de saúde do adolescente e do jovem, coordenada
por Guilbert Nobre, 33, tem realizado trabalhos em conjunto com
outros ministérios, em projetos que vão desde a prevenção
à gravidez na adolescência até o combate aos
principais motivos de mortes por causas externas (homicídio,
suicídio e acidentes de trânsito).
Os resultados
desses trabalhos devem aparecer no ano que vem. Segundo Nobre, o
governo federal não deu ênfase à juventude antes
porque estava concentrado nas questões da infância.
(Folha de S.
Paulo)
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São
Paulo aposta no trabalho voluntário de universitários
"Eles podem
esperar muito trabalho." Assim o novo secretário da
Juventude, Gabriel Chalita, definiu o papel que os jovens das classes
média e alta terão de desempenhar para que as políticas
traçadas pela secretaria sejam eficazes.
A partir de
hoje, a secretaria encampa o projeto Universidade Cidadã,
desenvolvido pela primeira-dama Maria Lúcia Alckmin, no qual
Chalita trabalhava como conselheiro.
"Quando
a dona Lu [a primeira-dama" assumiu o fundo, a gente começou
a fazer um trabalho junto aos jovens universitários. Porque
temos uma soma muito grande de universidades no Estado e um potencial
enorme para desenvolver um trabalho social", diz Chalita.
O projeto, já
em curso em 60 das 69 faculdades de direito do Estado, faz com que
o jovem universitário vá trabalhar como voluntário
em uma comunidade próxima à universidade.
No caso dos
estudantes de direito, o trabalho consiste no auxílio para
a formação de associações e de cooperativas
para que a comunidade consiga criar projetos de geração
de renda e de trabalho. "Embora haja pessoas participando de
outras formas, como em adoção", diz.
Chalita pretende
estender esses programas para as áreas de saúde e
de educação. Em saúde, os focos serão
a gravidez na adolescência e sexualidade. Em educação,
vai-se explorar o contato com problemas sociais.
A idéia
é que haja uma troca entre as diferentes classes sociais
e que isso tenha um impacto tanto na auto-estima do jovem quanto
em sua visão de mundo. "A gente quer que isso conste
dos currículos, para que faça uma diferença
também no mercado de trabalho."
Os universitários
Alice Abramo e Eduardo Lagoa disseram que acham interessante estreitar
esse contato com jovens que têm outras experiências
de vida. "É mais fácil falar com alguém
da nossa idade do que com gente da geração dos nossos
pais", comenta Eduardo.
Por outro lado,
Rogério Nascimento Campos, que mora no Capão Redondo
(zona sul de São Paulo) diz acreditar que esse contato com
os universitários pode ser improdutivo, pois as realidades
que eles vivem é muito distante daquela da periferia e isso
poderia trazer problemas de comunicação.
(Folha de S.
Paulo)
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