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Dia 20.02.02 às 08h50min
 

 

Elas podem ser maioria, mas enfrentam preconceito

Rodrigo Zavala
Equipe GD

Existem vários mitos a respeito da diferença de tratamento que homens e mulheres recebem no ambiente de trabalho. Alguns dizem que mulheres custam mais caro à empresa; outros, que não existe discriminação salarial entre sexos. A revista Veja, por exemplo, está entre estes últimos. Acredita que o discurso sobre rendimentos femininos inferiores é um erro de pesquisas apressadas - como as apresentadas pelo Grupo Catho - e de discursos simplistas de grupos feministas.

Com o título de "Elas já são maioria na firma", a publicação traz uma reportagem bastante positiva sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho. A certa altura do texto, chega a garantir: "Quando ocupam a mesma função e têm o mesmo currículo e experiência, as mulheres recebem o mesmo que os homens". Ou seja, com oportunidades iguais, não há diferença.

O mais curioso é que uma das bases para a afirmação é uma suposta auto-crítica feita por Thomas Case, presidente do grupo Catho, especializado em Recursos Humanos. Case admite, na matéria de Veja, que a distância de 20% na remuneração entre sexos, calculada em recente pesquisa de sua autoria, é uma análise equivocada. Na reportagem da revista, Case assegura que o bloco de mulheres ganha menos pois a qualidade dos currículos masculinos é superior. Ou seja, por estarem a mais tempo dominando o mercado de trabalho, os homens possuiriam mais experiência e ganhariam mais.

A tese da Veja contraria a posição não só de feministas, mas de diversos pesquisadores que estudam o problema a fundo, sem pressa, tanto brasileiros como internacionais. A própria matéria apresenta dados de uma recente pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que mostra a desproporção salarial entre sexos. Sem dúvida um dado positivo, em dez anos a diferença caiu de 32% para 22%. No entanto, a pesquisa não deixa de mencionar o que a entidade intitulou como "teto de vidro" - uma faixa invisível que impede mulheres de ascender profissionalmente dentro de uma empresa.

Jaime Mezzera, diretor adjunto da OIT, afirma que existem motivos para se comemorar, mas crer no fim das diferenças é ingenuidade. "As mulheres não ocupam nem 6% do alto escalão de empresas", afirma. Ele também critica a visão de "currículos superiores". Mezzera não vê como comparar o currículo de 32 milhões de homens com os 22 milhões de mulheres no mercado de trabalho brasileiro. "Não se pode qualificar experiência em bloco."

Segundo ele, uma forma de comparação é analisar a relação renda e escolaridade. Nesse quesito, os números continuam alarmantes. A diferença de renda entre homens e mulheres com os mesmos anos de estudo é de quase 100%. A explicação está no salário da mulher negra. "Elas sequer podem pleitear alguns trabalhos de diretoria, são fadadas ao subemprego", explica. Percebe-se, por isso, que a realidade escolhida pela revista para servir de comparação deve ser apenas a das trabalhadoras brancas.

O professor emérito de comportamento organizacional da London Business School, Jonn W. Hunt, chegou a escrever no jornal americano Financial Times que todas as concessões legais feitas na Europa em prol da mulher são decepcionantes. Elas não ocupam sequer 5% da diretoria executiva de empresas na União Européia. No resto da Europa, a proporção é de 2%. "Há barreiras explícitas e ocultas", conclui o britânico.

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Elas já são maioria na firma

Existem vários mitos a respeito da diferença de tratamento que homens e mulheres recebem no ambiente de trabalho. Um dos principais, repetido constantemente por entidades feministas, é o de que as mulheres, só pelo fato de ser mulheres, teriam um rendimento salarial inferior ao dos homens. A afirmação sugere que uma mesma empresa contrata um homem e uma mulher para uma função de mesmo nível e paga mais a ele que a ela como parte de um complô machista.

Conclusões apressadas como essa são alimentadas por pesquisas divulgadas por empresas especializadas em recursos humanos. Uma das pesquisas mais citadas é feita pelo Grupo Catho, renomada consultoria de colocação profissional com sede em São Paulo. A Catho não apenas aponta em seus estudos a existência de uma diferença salarial entre homens e mulheres, como calcula a distância de remuneração entre os sexos.

De acordo com os dados mais recentes, as mulheres ganhariam 20% a menos que os homens, mesmo trabalhando no mesmo cargo. Atenção: essa conclusão é equivocada. Não há complô machista algum no mercado de trabalho. Quando ocupam a mesma função e têm o mesmo currículo e experiência, as mulheres recebem o mesmo que os homens.

Procurado por VEJA, o presidente do Grupo Catho, Thomas Case, admitiu que a pesquisa de sua empresa dá margem a uma interpretação errada e explicou o que seu estudo quis dizer. "Como estão há menos tempo no mercado de trabalho, é natural que as mulheres tenham um currículo menos qualificado e também possuam menos experiência que seus colegas homens", afirmou Case. "A diferença, que tende a zero com o passar do tempo, nada tem a ver com discriminação sexual, mas com qualificação." Para não restar dúvidas: o bloco das mulheres ganha menos que o dos homens apenas porque, na média, a qualidade do currículo deles é superior. Quando os currículos são iguais não há diferença salarial.

O ritmo da redução dos blocos vem sendo medido pela Organização Internacional do Trabalho. A última rodada de estudos feita pela entidade englobou quinze países latino-americanos. O trabalho mostra que, em razão do aumento do rendimento das mulheres nos últimos tempos, a desproporção salarial entre os sexos caiu de 32% para 22% na última década. (Leia a íntegra da pesquisa - em espanhol. É necessário o software Adobe Acrobat.) Nos Estados Unidos e na Europa, a diferença é inferior a 10 pontos porcentuais. Segundo os especialistas, num prazo máximo de vinte anos as rendas estarão igualadas. É algo notável, considerando-se que as barreiras culturais contrárias à entrada das mulheres no trabalho começaram a ser derrubadas há relativamente pouco tempo. Num primeiro momento, elas participaram no mercado apenas em áreas como enfermagem, secretariado e fonoaudiologia, entre outras. Hoje, já ocupam parte considerável dos postos disponíveis em antigos redutos masculinos, como engenharia e alta tecnologia. "Estamos assistindo ao fim de uma era marcada por preconceitos", afirma Laís Passarelli, sócia da consultoria em recursos humanos que leva seu nome.

Até pouco tempo atrás, as mulheres levavam desvantagem nos processos de seleção não apenas por ter menos experiência e um currículo mais pobre que o de seus concorrentes masculinos. Muitas empresas acreditavam que a atenção dada por elas ao lar, ao marido e aos filhos poderia representar um empecilho ao trabalho. Essa visão retrógrada e preconceituosa está definitivamente enterrada. O que era visto antes como um fator negativo, hoje é encarado como uma qualidade. "O mercado de trabalho atual exige profissionais polivalentes, que é uma das principais características femininas", afirma o consultor Simon Franco, presidente para a América Latina da TMP Worldwide. "Desde cedo, elas aprendem a ser versáteis na vida, acumulando funções e exercendo ao mesmo tempo os papéis de filha, mãe e esposa." Empresas como a Rhodia registram hoje um índice acima de 60% de mulheres entre os recém-contratados. Há duas décadas, esse número não passava de 20%. Áreas como medicina, direito e arquitetura tiveram um aumento de 300% na participação feminina nos últimos dez anos. Esse crescimento pode ser notado até mesmo nas linhas de produção das montadoras de veículos. Na Ford, por exemplo, 15% dos funcionários envolvidos na montagem de caminhões são mulheres. Há dez anos, o setor só tinha homens.

No Brasil, as mudanças ocorrem num ritmo impressionante. Dos 10,1 milhões de postos de trabalho abertos no país entre 1989 e 1999, quase 7 milhões foram ocupados por mulheres. Ou seja: sete em cada dez novas vagas no mercado são preenchidas por profissionais femininas. Quase 30% delas possuem mais de dez anos de escolaridade, contra 20% dos homens. Dentre os executivos masculinos, 40% têm curso superior - entre as mulheres, o índice é de aproximadamente 50%. Além de levar vantagem nos processos de seleção, as mulheres evoluem mais rápido dentro da empresa. O ritmo das promoções entre elas é cerca de três anos mais rápido que o registrado no universo masculino.

A presença de figuras femininas no topo da pirâmide corporativa ainda é uma exceção. Segundo uma pesquisa recente realizada pelo Instituto Ethos e pela Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo, apenas 6% dos cargos de chefia das 500 maiores empresas brasileiras são ocupados por mulheres. Entre elas estão Maria Sílvia Bastos, presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, e Marluce Dias, executiva da Rede Globo. Uma das explicações para essa distorção é que ainda não houve tempo para as mulheres chegarem ao topo, pois estão no mercado há relativamente pouco tempo. Alguns países desenvolvidos criaram mecanismos para facilitar a escalada delas. Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França e Suécia mantêm programas bastante evoluídos para que as mães possam deixar seus filhos aos cuidados de profissionais enquanto trabalham. Trata-se de um sistema eficaz de ensino integral, creche e acompanhamento escolar para cuidar das crianças. Tais programas são fundamentais, porque as estatísticas demonstram que os filhos diminuem a chance de a mulher entrar no mercado de trabalho. Nos Estados Unidos, a participação feminina declina entre 10% e 30% para cada criança gerada. No Brasil, o índice varia de 9% a 38%. "O crescimento das mulheres no âmbito profissional é um processo que corre paralelamente ao do amadurecimento da sociedade", afirma Jaime Mezzera, diretor-adjunto da Organização Internacional do Trabalho no Brasil. "O desafio agora é romper esse teto de vidro que breca a ascensão feminina ao topo da hierarquia."

As empresas onde a participação delas cresceu nos últimos anos registram grandes transformações no ambiente de trabalho. Aos poucos, segundo os especialistas, alguns valores femininos começam a ser absorvidos pelas companhias, como a importância do relacionamento interpessoal, da cooperação no lugar de competição e uso de motivação e persuasão em vez de ordem e controle. "Isso cria um espaço profissional mais harmônico, que tem um impacto positivo na produtividade", afirma Maria Aparecida Fonseca, diretora de recursos humanos do Grupo Pão de Açúcar, uma das muitas empresas que se preocupam em se "desmasculinizar".

(Veja)

 

 
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