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Dia 26.10.01 às 17h53min
 

 

Caridade do Taleban aproxima Afeganistão de favela brasileira

Rodrigo Zavala
Equipe GD

O que a guerrilha do Taleban e uma favela carioca dominada pelo narcotráfico têm em comum? Adolescentes aliciados, que encontram nas armas o acesso a bens inatingíveis em condições normais. Some-se a isso a ingênua concepção de que a falta de serviços públicos é preenchida pela assistência comunitária dos dominantes, sejam eles traficantes ou líderes fundamentalistas.

As semelhanças impressionam. A idéia de 'bandido social', que diziam fazer sentido na década de 70 no Brasil, quando uns poucos traficantes prestavam ajuda aos moradores das favelas cariocas, segue a mesma lógica no Taleban e sua entidade assistencial Al-Rashid. O objetivo da entidade é expulsar ONGs ocidentais do Afeganistão e promover sua própria ação humanitária.

O Al-Rashid foi criado logo que o Taleban tomou o poder no Afeganistão, em 1996. Além de fornecer comida a 25 mil afegãos pobres, cava poços artesianos para as populações locais. A entidade abriu há pouco também o primeiro centro de computação na capital Cabul, onde 28 aplicados estudantes treinam o Lynux sob o estrondo de bombas americanas.

A idéia pode parecer louvável. A falta de alimentação decente e cuidados médicos e sanitários fazem com que 125 mil pessoas a cada ano - 14 por hora - morram por causa da fome ou da guerra no Afeganistão. Mas a que custo? A inteligência americana acredita que Osama Bin Laden é a fonte de dinheiro do Al-Rashid. Sabe-se também que a entidade está ligada à luta separatista na Caxemira indiana.

O professor de política e relações internacionais da PUC-SP, Fernando Abrucio, acredita que a iniciativa é um embuste. "O Taleban criou um governo de terror e violência, jamais respeitando os direitos humanos. A ajuda humanitária que estão oferecendo é um absurdo, simplesmente não existe", afirma. Segundo Abrucio, eles estão dando migalhas para que não ocorra um consenso da população contra os fundamentalistas.

Mesmo assim, em uma sociedade onde muitos morrem de fome, a adesão à milícia muçulmana pode ser uma saída. Ainda mais aliada a um suposto ideal comunitário. Tocar ou ouvir música, jogar xadrez, beber álcool, dançar e fazer fotos, atividades proibidas pelo Taleban, não são restrições tão duras para quem está faminto. Daí para segurar as armas e defender a família Laden é um passo.

"Eles recrutam essas pessoas como bucha de canhão para serem as vítimas dos ataques norte-americanos", explica o professor Abrucio.

Princípio semelhante rege o contato entre moradores das favelas brasileiras e os traficantes. Pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz do Rio (Fiocruz) aponta que as leis do tráfico exigem um preço para a caridade.

Ao entrevistar 94 adolescentes, entre 14 e 18 anos, de 22 favelas, o estudo constatou que garotos são aliciados cada vez mais cedo. Entram para o tráfico com menos de 10 anos de idade. Entre as leis impostas pelos traficantes estão o uso de moradias como esconderijo de armas e bandidos, o toque de recolher, o controle de visitas e orelhões, as senhas para entrar no morro e a expulsão dos suspeitos de delação.

As regras são específicas, como também ocorre no Afeganistão. Quem as desobedece é punido com rigor e até com a morte. "Um domínio exercido pelo medo", conclui o professor.

 

 
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