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05/01/2007 - 09h25

Diretor de especial sobre Elis Regina critica Globo

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SILVANA ARANTES
LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

"Hoje, na Globo, somente a audiência interessa"; o trecho sobre o uso de drogas, que levou à morte a cantora Elis Regina, "foi cortado" de "Por Toda a Minha Vida", "poucas horas antes" de o especial ir ao ar.

Mais: Chico Buarque, Caetano Veloso e João Bosco não participaram do programa, exibido na quinta-feira, dia 28, pela Globo, porque "fizeram doce"; o pianista e arranjador Cesar Camargo Mariano, último marido de Elis e pai de dois de seus três filhos, "fugiu da raia".

As declarações acima são do cineasta João Jardim, contratado pela Globo para dividir a direção de "Por Toda a Minha Vida" com Ricardo Waddington, diretor de núcleo da emissora e responsável pela concepção do especial sobre a cantora.

Jardim fez as afirmações em carta à jornalista e crítica de cinema Maria do Rosario Caetano, para publicação no fanzine "Almanakito", editado por ela, com distribuição só pela internet.

Caetano, ao avaliar o especial, afirma não haver entendido "o pudor em falar da morte" de Elis (1945-1982) nem "por que Chico Buarque ficou ausente". A carta de Jardim respondia a essas críticas e ia além.

Docudrama

Para o especial de final de ano da Globo a respeito da vida de Elis, cuja morte completará 25 anos no próximo dia 19, Waddington optou pelo formato docudrama, semelhante ao utilizado pelo "Linha Direta", com atores dramatizando fatos reais.

Visto que essa não é sua especialidade, convidou Jardim para ser co-diretor. O cineasta é autor dos premiados documentários "Janela da Alma" (com Walter Carvalho), sobre o olhar, e "Pro Dia Nascer Feliz", que estréia em 2/2 e aborda a educação no Brasil.

Waddington foi informado pela Folha sobre a carta de Jardim. "Adoro o trabalho dele. Agora vou ligar para ele com uma certa surpresa, perguntando: "João, o que aconteceu?".

Em "Por Toda a Minha Vida", a atriz Bianca Comparato viveu Elis na adolescência, e Hermila Guedes ("O Céu de Suely"), na fase adulta. Foram exibidas cenas reais de shows e entrevistas de Elis, além de declarações de amigos e familiares a Fernanda Lima, apresentadora do especial (disponível no www.youtube.com).

A exibição rendeu boa audiência (32 pontos de média e 36 de pico no Ibope da Grande SP) e muita polêmica na internet. Alguns fãs da cantora aprovaram o tributo; outros questionaram o viés da Globo.

Entre as críticas, sobressaem-se, além da ausência de alguns artistas, a omissão do nome da Record (na qual ela apresentou, ao lado de Jair Rodrigues, "O Fino da Bossa") e o modo como a morte foi retratada. O especial da Globo foi breve ao tratar o tema e não mencionou a causa de sua morte.

A polêmica foi apimentada anteontem, com a divulgação da carta de Jardim. Em entrevista à Folha, o diretor procurou atenuar o tom de seu texto. Afirmou que "não é negativo nem pejorativo" seu comentário sobre a suposta preocupação exclusiva da Globo com audiência. "É uma TV comercial. Ela tem de se preocupar com a comunicação com o público."

O diretor contou que propôs a Cesar Camargo Mariano que respondesse a seis perguntas para o especial. "Ele [Mariano] disse que não se oporia a participar do programa, mas que gostaria de poder assistir [antes de ir ao ar] ou ter contato com o roteiro definitivo."

Jardim disse achar "de certa forma justificável" a exigência de Mariano, mas afirmou que "esse é um precedente que a Globo não poderia abrir nem para ele nem para ninguém".

A Folha tentou contato com Mariano, que vive nos EUA, mas não conseguiu localizá-lo até a conclusão desta edição.

Tempo "privilegiado"

Segundo Jardim, a produção de "Por Toda a Minha Vida" consumiu quatro meses, sendo dois com a realização de entrevistas, "o que é um tempo privilegiado para os padrões da TV".

Sobre as ausências de Chico, Caetano e João Bosco no programa, afirmou que "eles não se disponibilizaram na urgência da televisão, mas também não foi nada desagradável".

As assessorias de Chico e Caetano informaram à Folha que os músicos não comentariam o episódio. A assessoria de Bosco solicitou que o pedido de entrevista fosse feito por e-mail, afirmando que ele responderia se julgasse necessário, o que não ocorreu até o fechamento desta edição.

Em relação à decisão de suprimir o relato da causa da morte de Elis --por complicações decorrentes da ingestão de drogas e álcool, segundo laudo médico--, Jardim afirmou que o programa tentou evitar "fazer o que a imprensa sempre faz, que é tratar a morte dela de forma sensacionalista".

Na opinião da jornalista e escritora Regina Echeverría, autora da biografia "Furacão Elis", ao fazer essa opção, "o programa oculta a verdade e trai a personalidade de Elis, que não tinha medo, era o que era e sempre se declarou".

Jardim afirma que só haveria sentido em falar da morte de Elis com a revelação de novos dados. "Já que todo mundo já sabe como ela morreu e não vamos acrescentar nada novo, por que ficar martelando na mesma coisa desagradável, 25 anos depois?", questionou.

Sobre a questão da morte e outras críticas, Ricardo Waddington disse que o programa é uma obra autoral.

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