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23/03/2007
-
16h34
DANIELA LORETO
Editora de Mundo da Folha Online
Violentos confrontos que ocorrem nas ruas da capital da República Democrática do Congo (ex-Zaire) isolaram um grupo de 20 pessoas no prédio da Embaixada do Brasil, no centro de Kinshasa, informou o embaixador brasileiro Flávio Roberto Bonzanini.
Segundo Bonzanini, entrevistado por telefone pela Folha Online nesta sexta-feira, há um toque de recolher informal no país após a eclosão dos confrontos armados entre soldados do governo e homens ligados ao senador e ex-vice-presidente Jean-Pierre Bemba.
"Oficialmente não foi declarado nada, mas as pessoas estão impossibilitadas de sair de casa", afirmou ele. "Há crianças presas em escolas e dezenas de mortos nas ruas".
De acordo com o Bonzanini, o grupo isolado na embaixada --entre eles 17 funcionários, dois congoleses e um português-- está em contato direto com a violência. "Ouvimos barulhos de tiros o tempo todo, sons de morteiros sendo lançados, e vemos colunas de fumaça".
Um carro de serviço que estava estacionado no prédio da embaixada foi atingido por um disparo durante a madrugada desta sexta-feira. "O veículo estava dentro da garagem e foi atingido por uma bala que veio de um prédio alto, em um ângulo de 45 graus", descreveu.
Para ele, o risco de sair às ruas é muito grande, porque há atiradores posicionados em pontos estratégicos, além do grande número de saques que ocorrem nas ruas após os confrontos. "Estamos no meio do fogo cruzado", afirmou o embaixador.
Não há transporte público em Kinshasa, cidade de 8 milhões de habitantes, e todos os comércios foram fechados. Apesar de isolado, o grupo não corre risco, pois recebe o apoio de forças especiais do Exército brasileiro que chegaram ao país em outubro para uma missão. "Temos água e alimentos para duas semanas. Estamos seguros aqui".
Outras embaixadas também estariam sendo afetadas pelo caos nas ruas. "Quatro policiais morreram em frente à Embaixada de Portugal na República Democrática do Congo, e um ferido foi deixado em frente ao prédio da Embaixada italiana", relata o diplomata brasileiro.
A Embaixada conjunta da Espanha e da Grécia também foi atingida por fogo de artilharia.
Confrontos
O conflito armado entre tropas do governo e homens armados do Exército leal a Bemba teve início na manhã desta quinta-feira, e já deixaram ao menos 60 mortos em Kinshasa.
Os confrontos foram os primeiros na capital desde que Joseph Kabila derrotou Bemba nas eleições para a Presidência da República Democrática do Congo, em 2006, tornando-se assim o primeiro líder escolhido em eleições livres na ex-colônia belga desde 1960.
Por ser ex-vice-presidente, Bemba ainda conta com uma tropa particular ligada a ele, resquício da guerra que assolou o país entre 1998 e 2003, matando cerca de 4 milhões.
No entanto, recentemente, o atual governo resolveu acabar com as tropas, seguindo o que prevê a Constituição. Além da proibição das tropas, o estopim dos confrontos armados foi o seqüestro do irmão de Bemba na quarta-feira (21), que foi visto como uma "provocação".
O principal procurador do Congo, Tsaimanga Mukenda, emitiu nesta sexta-feira um mandado de prisão para Bemba por "alta traição". Ele refugiou-se na Embaixada da África do Sul, enquanto seu Exército pessoal e tropas do governo lutam nas ruas de Kinshasa.
Segundo Mukenda, nem a imunidade parlamentar de Bemba nem o fato de que ele buscou refúgio na embaixada sul-africana podem impedir a sua prisão.
Brasileiros
De acordo com Bonzanini, cerca de 50 brasileiros vivem atualmente na República Democrática do Congo. Segundo ele, a embaixada mantém contato com a comunidade.
"Estamos em contato constante com os brasileiros, e orientamos as pessoas a ficarem onde estão. O grande risco é a movimentação, é preciso permanecer em casa", afirmou.
Segundo ele, não há informações a respeito de brasileiros que tenham sido vítimas dos confrontos. A ONU --que mantém 17 mil membros no Congo-- ajudou na retirada de cerca de 600 pessoas que estavam isoladas em pontos do centro da capital devido à violência.
Para o embaixador, os confrontos devem terminar em breve. "A tendência aqui é que os conflitos sejam rápidos, e o governo está levando a melhor no combate. Em geral, confrontos armados aqui não costumam durar mais do que três ou quatro dias", afirmou Bonzanini.
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Editora de Mundo da Folha Online
Violentos confrontos que ocorrem nas ruas da capital da República Democrática do Congo (ex-Zaire) isolaram um grupo de 20 pessoas no prédio da Embaixada do Brasil, no centro de Kinshasa, informou o embaixador brasileiro Flávio Roberto Bonzanini.
Segundo Bonzanini, entrevistado por telefone pela Folha Online nesta sexta-feira, há um toque de recolher informal no país após a eclosão dos confrontos armados entre soldados do governo e homens ligados ao senador e ex-vice-presidente Jean-Pierre Bemba.
"Oficialmente não foi declarado nada, mas as pessoas estão impossibilitadas de sair de casa", afirmou ele. "Há crianças presas em escolas e dezenas de mortos nas ruas".
John James/AP |
Fumaça cobre Kinshasa após confrontos que mataram 60 |
Um carro de serviço que estava estacionado no prédio da embaixada foi atingido por um disparo durante a madrugada desta sexta-feira. "O veículo estava dentro da garagem e foi atingido por uma bala que veio de um prédio alto, em um ângulo de 45 graus", descreveu.
Para ele, o risco de sair às ruas é muito grande, porque há atiradores posicionados em pontos estratégicos, além do grande número de saques que ocorrem nas ruas após os confrontos. "Estamos no meio do fogo cruzado", afirmou o embaixador.
Não há transporte público em Kinshasa, cidade de 8 milhões de habitantes, e todos os comércios foram fechados. Apesar de isolado, o grupo não corre risco, pois recebe o apoio de forças especiais do Exército brasileiro que chegaram ao país em outubro para uma missão. "Temos água e alimentos para duas semanas. Estamos seguros aqui".
Outras embaixadas também estariam sendo afetadas pelo caos nas ruas. "Quatro policiais morreram em frente à Embaixada de Portugal na República Democrática do Congo, e um ferido foi deixado em frente ao prédio da Embaixada italiana", relata o diplomata brasileiro.
A Embaixada conjunta da Espanha e da Grécia também foi atingida por fogo de artilharia.
Confrontos
O conflito armado entre tropas do governo e homens armados do Exército leal a Bemba teve início na manhã desta quinta-feira, e já deixaram ao menos 60 mortos em Kinshasa.
15.mar.2001/AP |
Jean-Pierre Bemba, acusado de alta traição, mantém Exército próprio |
Por ser ex-vice-presidente, Bemba ainda conta com uma tropa particular ligada a ele, resquício da guerra que assolou o país entre 1998 e 2003, matando cerca de 4 milhões.
No entanto, recentemente, o atual governo resolveu acabar com as tropas, seguindo o que prevê a Constituição. Além da proibição das tropas, o estopim dos confrontos armados foi o seqüestro do irmão de Bemba na quarta-feira (21), que foi visto como uma "provocação".
O principal procurador do Congo, Tsaimanga Mukenda, emitiu nesta sexta-feira um mandado de prisão para Bemba por "alta traição". Ele refugiou-se na Embaixada da África do Sul, enquanto seu Exército pessoal e tropas do governo lutam nas ruas de Kinshasa.
Segundo Mukenda, nem a imunidade parlamentar de Bemba nem o fato de que ele buscou refúgio na embaixada sul-africana podem impedir a sua prisão.
Brasileiros
De acordo com Bonzanini, cerca de 50 brasileiros vivem atualmente na República Democrática do Congo. Segundo ele, a embaixada mantém contato com a comunidade.
John Bompeng/AP |
Civis congoleses deixam suas casas em Kinshasa após eclosão de confrontos |
Segundo ele, não há informações a respeito de brasileiros que tenham sido vítimas dos confrontos. A ONU --que mantém 17 mil membros no Congo-- ajudou na retirada de cerca de 600 pessoas que estavam isoladas em pontos do centro da capital devido à violência.
Para o embaixador, os confrontos devem terminar em breve. "A tendência aqui é que os conflitos sejam rápidos, e o governo está levando a melhor no combate. Em geral, confrontos armados aqui não costumam durar mais do que três ou quatro dias", afirmou Bonzanini.
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