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23/04/2007
-
14h31
da Folha Online
Líderes mundiais lamentaram nesta segunda-feira a morte do presidente russo Boris Ieltsin, 76, ocorrida em Moscou nesta segunda-feira em decorrência de problemas cardíacos.
"Ieltsin morreu às 15h45 (8h45 de Brasília) no Hospital Clínico Central de Moscou por causa de uma progressiva insuficiência cardiovascular", disse à agência de notícias russa Interfax Serguei Mironov, chefe do Centro Médico do gabinete da Presidência russa.
O ex-líder soviético Mikhail Gorbatchov expressou suas "profundas" condolências à família de Ieltsin, e reconheceu que o presidente russo teve "grandes méritos" e "também graves erros". Gorbatchov acrescentou em sua mensagem que Ieltsin "teve um destino trágico".
"Nossos pensamentos e nossas orações vão para a família e o povo russo. Ieltsin comandou a Rússia durante um período de transformação histórica", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean McCormack, pouco após o anúncio da morte.
Ieltsin, que governou a Rússia entre 1991 e 1999, foi o primeiro presidente do período pós-comunismo. Sua ascensão ao poder marcou o fim da ex-União Soviética (URSS).
"Ele representa uma época do país", afirmou o embaixador russo para a Ucrânia, Viktor Chernomyrdin, que foi um primeiro-ministro durante o mandato de Ieltsin. Ele disse que conversou pela última vez com o líder russo em 9 de abril, quando Ieltsin telefonou para lhe desejar um feliz aniversário.
O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, também lamentou a morte do presidente russo, que considerou uma "referência-chave" no pós-comunismo. "Enquanto presidente, ele enfrentou enormes desafios e mandatos difíceis, mas conseguiu aproximar o Leste e o Ocidente e ajudou a substituir o confronto pela cooperação", disse Barroso.
"Ele podia ser mau-humorado e introspectivo, mas uma vez que era seu amigo, era amigo para sempre", declarou o ex-premiê britânico John Major à rede britânica de informação BBC.
"Boris Ieltsin foi uma grande personalidade da política russa e internacional, um corajoso defensor da democracia e da liberdade e um amigo verdadeiro da Alemanha. Sua contribuição para o desenvolvimento das relações entre os dois países não será esquecido", afirmou nesta segunda-feira a chanceler alemã, Angela Merkel.
O ministro sueco das Relações Exteriores, Carl Bildt, chamou Ieltsin de um dos "maiores homens de nossos tempos".
O ex-presidente da Ucrânia, Leonid Kravchuk, que encontrou Ieltsin em janeiro durante um torneio de tênis, disse estar surpreso com a morte. "Ele parecia estar tão saudável", afirmou Kravchuk. "Sua morte foi um grande choque para mim".
Polêmico
Ieltsin sempre foi uma figura política polêmica. Em sua biografia, lançada em 2000, reconheceu que em alguns momentos de seu mandato agiu sob a influência do álcool e recordou uma situação constrangedora em Berlim, em 1994. No livro, ele conta que durante uma cerimônia com o então chanceler (premiê) alemão, Helmut Kohl, diz que 'baixou a guarda e, depois de vários copos, sentiu que poderia fazer qualquer coisa, como reger a banda de música. À época, a cena transmitida por TV provocou risos no mundo inteiro.
Após deixar o governo [Ieltsin renunciou à Presidência em 31 de dezembro de 1999, seis meses antes de encerrar seu mandato], disse que preferia ficar vendo shows de Celine Dion e George Michael em DVD a voltar a trabalhar como político.
"Quem se aposenta tem de fazer sua escolha: se manter na vida pública, viajar, dar palestras, continuar a trabalhar ou devotar seu tempo a quem gosta", afirmou em 2000 ao jornal russo "Komsomolskaya Pravda". "Eu escolhi a segunda opção, mais coerente com meu momento."
Mandato
Antecessor do atual presidente russo, Vladimir Putin, a quem ele havia designado como herdeiro político, Ieltsin ganhou popularidade durante seus oito anos de governo devido às suas promessas de combate à corrupção, sem conseguir, no entanto, manter o controle de grande parte de empresas estatais que foram progressivamente privatizadas.
Primeiro líder russo eleito democraticamente, durante seu mandato, a Rússia sofreu com problemas como o desemprego e a inflação. Ieltsin também levou o país a um conflito contra rebeldes separatistas na Tchetchênia, que culminou a expulsão dos russos.
Ele sofria de problemas cardíacos e renunciou à Presidência em 1999, vários meses antes do fim oficial de seu mandato. Putin, que era seu primeiro-ministro, tornou-se presidente em exercício e foi eleito democraticamente para o cargo em 2000.
Crise
A morte de Ieltsin ocorre em um momento em que a Rússia passa por um período de crise.
Na semana passada, centenas de manifestantes foram detidos em vários protestos em Moscou e São Petersburgo contra Putin, a quem a oposição acusa de "sufocar a democracia".
Os confrontos nas duas principais cidades russas podem ser o prenúncio de um longo período de tensão entre autoridades russas e a oposição, com a proximidade de eleições parlamentares e presidenciais.
Em um dos protestos, a polícia deteve o ex-campeão de xadrez Garry Kasparov, 44, que hoje é um dos líderes da coalizão Outra Rússia, uma das organizadoras dos protestos.
Sobre a ação violenta da polícia, que chocou os manifestantes, ele afirmou que o governo "mostrou que já não respeita a imprensa mundial, a opinião pública ou mesmo as leis russas".
"Agora [a Rússia] é um país em algum lugar entre Belarus e o Zimbábue, duas ditaduras que acabaram com os movimentos de oposição", disse ele.
Com Associated Press, Efe e France Presse
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Líderes mundiais lamentaram nesta segunda-feira a morte do presidente russo Boris Ieltsin, 76, ocorrida em Moscou nesta segunda-feira em decorrência de problemas cardíacos.
"Ieltsin morreu às 15h45 (8h45 de Brasília) no Hospital Clínico Central de Moscou por causa de uma progressiva insuficiência cardiovascular", disse à agência de notícias russa Interfax Serguei Mironov, chefe do Centro Médico do gabinete da Presidência russa.
O ex-líder soviético Mikhail Gorbatchov expressou suas "profundas" condolências à família de Ieltsin, e reconheceu que o presidente russo teve "grandes méritos" e "também graves erros". Gorbatchov acrescentou em sua mensagem que Ieltsin "teve um destino trágico".
"Nossos pensamentos e nossas orações vão para a família e o povo russo. Ieltsin comandou a Rússia durante um período de transformação histórica", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean McCormack, pouco após o anúncio da morte.
Alexander Zemlianichenko/AP |
Boris Ieltsin, primeiro presidente russo da era pós-comunismo |
"Ele representa uma época do país", afirmou o embaixador russo para a Ucrânia, Viktor Chernomyrdin, que foi um primeiro-ministro durante o mandato de Ieltsin. Ele disse que conversou pela última vez com o líder russo em 9 de abril, quando Ieltsin telefonou para lhe desejar um feliz aniversário.
O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, também lamentou a morte do presidente russo, que considerou uma "referência-chave" no pós-comunismo. "Enquanto presidente, ele enfrentou enormes desafios e mandatos difíceis, mas conseguiu aproximar o Leste e o Ocidente e ajudou a substituir o confronto pela cooperação", disse Barroso.
"Ele podia ser mau-humorado e introspectivo, mas uma vez que era seu amigo, era amigo para sempre", declarou o ex-premiê britânico John Major à rede britânica de informação BBC.
"Boris Ieltsin foi uma grande personalidade da política russa e internacional, um corajoso defensor da democracia e da liberdade e um amigo verdadeiro da Alemanha. Sua contribuição para o desenvolvimento das relações entre os dois países não será esquecido", afirmou nesta segunda-feira a chanceler alemã, Angela Merkel.
O ministro sueco das Relações Exteriores, Carl Bildt, chamou Ieltsin de um dos "maiores homens de nossos tempos".
O ex-presidente da Ucrânia, Leonid Kravchuk, que encontrou Ieltsin em janeiro durante um torneio de tênis, disse estar surpreso com a morte. "Ele parecia estar tão saudável", afirmou Kravchuk. "Sua morte foi um grande choque para mim".
Polêmico
Ieltsin sempre foi uma figura política polêmica. Em sua biografia, lançada em 2000, reconheceu que em alguns momentos de seu mandato agiu sob a influência do álcool e recordou uma situação constrangedora em Berlim, em 1994. No livro, ele conta que durante uma cerimônia com o então chanceler (premiê) alemão, Helmut Kohl, diz que 'baixou a guarda e, depois de vários copos, sentiu que poderia fazer qualquer coisa, como reger a banda de música. À época, a cena transmitida por TV provocou risos no mundo inteiro.
Após deixar o governo [Ieltsin renunciou à Presidência em 31 de dezembro de 1999, seis meses antes de encerrar seu mandato], disse que preferia ficar vendo shows de Celine Dion e George Michael em DVD a voltar a trabalhar como político.
"Quem se aposenta tem de fazer sua escolha: se manter na vida pública, viajar, dar palestras, continuar a trabalhar ou devotar seu tempo a quem gosta", afirmou em 2000 ao jornal russo "Komsomolskaya Pravda". "Eu escolhi a segunda opção, mais coerente com meu momento."
Mandato
Antecessor do atual presidente russo, Vladimir Putin, a quem ele havia designado como herdeiro político, Ieltsin ganhou popularidade durante seus oito anos de governo devido às suas promessas de combate à corrupção, sem conseguir, no entanto, manter o controle de grande parte de empresas estatais que foram progressivamente privatizadas.
Primeiro líder russo eleito democraticamente, durante seu mandato, a Rússia sofreu com problemas como o desemprego e a inflação. Ieltsin também levou o país a um conflito contra rebeldes separatistas na Tchetchênia, que culminou a expulsão dos russos.
Ele sofria de problemas cardíacos e renunciou à Presidência em 1999, vários meses antes do fim oficial de seu mandato. Putin, que era seu primeiro-ministro, tornou-se presidente em exercício e foi eleito democraticamente para o cargo em 2000.
Crise
A morte de Ieltsin ocorre em um momento em que a Rússia passa por um período de crise.
Na semana passada, centenas de manifestantes foram detidos em vários protestos em Moscou e São Petersburgo contra Putin, a quem a oposição acusa de "sufocar a democracia".
Os confrontos nas duas principais cidades russas podem ser o prenúncio de um longo período de tensão entre autoridades russas e a oposição, com a proximidade de eleições parlamentares e presidenciais.
Em um dos protestos, a polícia deteve o ex-campeão de xadrez Garry Kasparov, 44, que hoje é um dos líderes da coalizão Outra Rússia, uma das organizadoras dos protestos.
Sobre a ação violenta da polícia, que chocou os manifestantes, ele afirmou que o governo "mostrou que já não respeita a imprensa mundial, a opinião pública ou mesmo as leis russas".
"Agora [a Rússia] é um país em algum lugar entre Belarus e o Zimbábue, duas ditaduras que acabaram com os movimentos de oposição", disse ele.
Com Associated Press, Efe e France Presse
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