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23/04/2007 - 16h12

Rússia "pecou pela ingenuidade", disse Ieltsin em entrevista

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da Efe, em Moscou
da Folha Online

"Fomos ingênuos, e veio a desilusão", disse o primeiro presidente da Rússia, Boris Yeltsin, que morreu nesta segunda-feira por causa de uma parada cardíaca, em sua última entrevista, divulgada pela TV russa no início do ano passado.

Forte, enérgico e rejuvenescido, Ieltsin, às vezes, aparece sorridente no vídeo. Em outros momentos, não consegue esconder a amargura que sente durante o breve resumo que faz de seus acertos e erros à frente da Rússia, filmado pelas câmeras do "Canal 1" em 1º de fevereiro de 2006.

"Na crista da euforia democrática, havia a sensação, e eu também a sentia, de que muito em breve colheríamos os frutos das transformações, da mudança do sistema político. Refiro-me à melhora da vida do povo. E foi um erro", disse.

Alexander Zemlianichenko/AP
Boris Ieltsin, primeiro presidente russo da era pós-comunismo
Boris Ieltsin, primeiro presidente russo da era pós-comunismo
Nenhum país até então, lembrou, tinha conseguido a transição pacífica do comunismo à democracia. "Nenhum de nós tinha experiência alguma em dirigir um Estado democrático, com liberdade de expressão e economia de mercado", disse, lembrando que "a última experiência foi esmagada [pela revolução bolchevique] em 1917".

A história do mundo demonstra, prossegue ele na entrevista, que "mudanças semelhantes requerem décadas inteiras".

"Duas, três, quatro décadas, mas nunca dois ou três anos, muito menos 500 dias", disse Ieltsin, referindo-se ao seu primeiro plano de reformas, que pretendia transformar o país nesse período de tempo.

A principal conquista foi que "o sistema bolchevique, totalitário e comunista, foi destruído, e em seu lugar foi erguido um Estado democrático, baseado na liberdade do homem e do cidadão, e na economia de mercado", que, segundo Ieltsin diz, "funcionam, e hoje em dia continuam se aperfeiçoando de ano em ano".

"A nova Rússia é uma realidade e acho que não haverá marcha à ré. Acabou. O poder dos comunistas terminou", disse o primeiro presidente russo em sua última entrevista.
Morte

"Ieltsin morreu às 15h45 (8h45 de Brasília) no Hospital Clínico Central de Moscou por causa de uma progressiva insuficiência cardiovascular", disse à agência de notícias russa Interfax Serguei Mironov, chefe do Centro Médico do gabinete da Presidência russa.

Ieltsin, que governou a Rússia entre 1991 e 1999, foi o primeiro presidente do período pós-comunismo. Sua ascensão ao poder marcou o fim da ex-União Soviética (URSS).

"Ele representa uma época do país", afirmou o embaixador russo para a Ucrânia, Viktor Chernomyrdin, que foi um primeiro-ministro durante o mandato de Ieltsin. Ele disse que conversou pela última vez com o líder russo em 9 de abril, quando Ieltsin telefonou para lhe desejar um feliz aniversário.

O ex-líder soviético Mikhail Gorbatchov expressou suas "profundas" condolências à família de Ieltsin, e reconheceu que o presidente russo teve "grandes méritos" e "também graves erros". Gorbatchov acrescentou em sua mensagem que Ieltsin "teve um destino trágico".

Mandato

Antecessor do atual presidente russo, Vladimir Putin, a quem ele havia designado como herdeiro político, Ieltsin ganhou popularidade durante seus oito anos de governo devido às suas promessas de combate à corrupção, sem conseguir, no entanto, manter o controle de grande parte de empresas estatais que foram progressivamente privatizadas.

Primeiro líder russo eleito democraticamente, durante seu mandato, a Rússia sofreu com problemas como o desemprego e a inflação. Ieltsin também levou o país a um conflito contra rebeldes separatistas na Tchetchênia, que culminou a expulsão dos russos.

Ele sofria de problemas cardíacos e renunciou à Presidência em 1999, vários meses antes do fim oficial de seu mandato. Putin, que era seu primeiro-ministro, tornou-se presidente em exercício e foi eleito democraticamente para o cargo em 2000.

Crise

A morte de Ieltsin ocorre em um momento em que a Rússia passa por um período de crise.

Na semana passada, centenas de manifestantes foram detidos em vários protestos em Moscou e São Petersburgo contra Putin, a quem a oposição acusa de "sufocar a democracia".

Os confrontos nas duas principais cidades russas podem ser o prenúncio de um longo período de tensão entre autoridades russas e a oposição, com a proximidade de eleições parlamentares e presidenciais.

Em um dos protestos, a polícia deteve o ex-campeão de xadrez Garry Kasparov, 44, que hoje é um dos líderes da coalizão Outra Rússia, uma das organizadoras dos protestos.

Sobre a ação violenta da polícia, que chocou os manifestantes, ele afirmou que o governo "mostrou que já não respeita a imprensa mundial, a opinião pública ou mesmo as leis russas".

"Agora [a Rússia] é um país em algum lugar entre Belarus e o Zimbábue, duas ditaduras que acabaram com os movimentos de oposição", disse ele.

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