O personagem


Reuters
Magnus Norman, o
novo nº 1 do mundo


A pergunta de hoje

O colunista responde

Aconteceu na semana
Esporte em números
Veja na TV


PENSATA

Quarta-feira, 17 de maio de 2000

Atacar ou atacar

Thales de Menezes
     
Diego Medina


Gustavo Kuerten foi impecável. Bem, está certo, ele perdeu a final, mas, pombas, fez aquilo que esta coluna sempre pede: jogou bem, destruiu
alguns rivais sem piedade e disputou uma decisão pau a pau com o melhor
tenista do mundo na atualidade. Perdeu, mas poderia ter vencido. Perdeu no detalhe, como diz o jargão, e detalhes contam muito num confronto entre feras.

Mas, se Kuerten apenas mostrou o que o mundo já sabe, ou seja, que joga muito, o título de um Masters Series serviu para consolidar a ascensão de Magnus Norman. Quem viu o sueco rebatendo nas quadras italianas conseguiu perceber que a liderança da Corrida dos Campeões não é mera circunstância. Norman joga uma barbaridade.

Apesar da cara de americano bobão, ele é o típico sueco. Uma fortaleza na linha de base, uma regularidade irritante no saque e, mesmo sem ser aquela fera nos voleios, não faz feio quando precisa chegar perto da rede. Joga parecido com Mats Wilander e Stefan Edberg. O que ele não tem da técnica refinada dos dois antecessores, Norman compensa com muita agressividade.

Aliás, agressividade foi o tom dos jogos das rodadas decisivas em Roma. E fica muito mais sintomático o atual ranking ser liderado por um tenista que sabe muito bem atacar do fundo.

Antigamente, quer dizer, até o início da década passada, o saibro era reduto de tenistas que praticavam um jogo mais lento, com toques mais sutis na bolinha. As quadras rápidas estavam entregues à dominação exclusiva da turminha do saque-canhão. Mas aí foram aparecendo uns caras como Courier, Medvedev, Kafelnikov, Ríos, Enqvist, Kuerten e, agora, Norman.

Com as novidades na preparação física e o constante desenvolvimento de raquetes cada vez mais capazes de rebater a bolinha com mais velocidade, atacar do fundo de quadra passou a ser uma opção tática viável para qualquer tenista de nível profissional.

A máxima "tenista de saibro defende, tenista de carpete ataca" foi reduzida a pó. Com isso, os torneios de saibro ganharam uma emoção e uma competitividade que crescem a cada ano. Comparar a final entre Norman e Kuerten com um jogo entre reis do saibro dos anos 80 e 90, como Martin Jaite x Alberto Berasategui, por exemplo, é de uma covardia atroz. Borg x Vilas, o clássico das quadras lentas nos 70, parece um outro esporte perto dos golpes trocados por Norman e Kuerten no domingo.

Com essa mudança no jogo, os tenistas de linha de base passaram a ter bons resultados também nas quadras rápidas. Talvez o melhor exemplo de "baseliner" que domina o carpete é o sueco Thomas Enqvist, que concentra nesse tipo de piso seus maiores triunfos, mesmo com sua aversão declarada a jogar subindo à rede.

Magnus Norman, Gustavo Kuerten e Lleyton Hewitt são os mais cotados para dividir, no final da temporada, as primeiras posições da Corrida dos Campeões com os veteranos Sampras, Agassi e Kafelnikov. Não por acaso, os dois trios são de gerações diferentes, mas têm em comum a adoção de um estilo com jogo de base muito forte e uma presença segura junto à rede. Bem, Sampras é mais "saque e voleio", é verdade, mas trata-se do jogador mais completo da história. Se precisar, troca bola lá no fundo por cinco horas seguidas.

No tênis 2000, a melhor defesa é o ataque.


Notas

Alerta vermelho
Está complicada a situação de Fernando Meligeni para carimbar o passaporte olímpico. Se ele não repetir o bom desempenho do ano passado em Roland Garros, o que será muito difícil, ele vai despencar no "ranking de estrada" da ATP, que é como a entidade chama o antigo ranking mundial. Seria uma pena, porque a Olimpíada tem aquele componente emocional que parece sempre favorecer o brasileiro. Só resta torcer.

Fast food
O leitor Cássio Tikwerak, de Bagé, diz que acha um absurdo os tenistas que comem banana na quadra e pergunta qual foi a coisa mais estranha que vi um tenista comer na quadra. Fácil: o americano Jeff Tarango chocou Roland Garros em 1994 ao traçar um hambúrguer com batata frita no meio do jogo. E, incrível, ele ganhou a partida, contra Marc Rosset, de virada.


E-mail: thalesmenezes@uol.com.br



Leia mais:


Colunas anteriores
:


10/05/00 - A voz do povo
03/05/00 - A volta da matadora
26/04/00 - Um esporte para fortes
19/04/00 - Panela de pressão
12/04/00 - A Copa Davis já era