Diego
Medina
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Gustavo
Kuerten foi impecável. Bem, está certo, ele
perdeu a final, mas, pombas, fez aquilo que esta coluna sempre
pede: jogou bem, destruiu
alguns rivais sem piedade e disputou uma decisão pau
a pau com o melhor
tenista do mundo na atualidade. Perdeu, mas poderia ter vencido.
Perdeu no detalhe, como diz o jargão, e detalhes contam
muito num confronto entre feras.
Mas, se Kuerten apenas mostrou o que o mundo já sabe,
ou seja, que joga muito, o título de um Masters Series
serviu para consolidar a ascensão de Magnus Norman.
Quem viu o sueco rebatendo nas quadras italianas conseguiu
perceber que a liderança da Corrida dos Campeões
não é mera circunstância. Norman joga
uma barbaridade.
Apesar da cara de americano bobão, ele é o típico
sueco. Uma fortaleza na linha de base, uma regularidade irritante
no saque e, mesmo sem ser aquela fera nos voleios, não
faz feio quando precisa chegar perto da rede. Joga parecido
com Mats Wilander e Stefan Edberg. O que ele não tem
da técnica refinada dos dois antecessores, Norman compensa
com muita agressividade.
Aliás, agressividade foi o tom dos jogos das rodadas
decisivas em Roma. E fica muito mais sintomático o
atual ranking ser liderado por um tenista que sabe muito bem
atacar do fundo.
Antigamente, quer dizer, até o início da década
passada, o saibro era reduto de tenistas que praticavam um
jogo mais lento, com toques mais sutis na bolinha. As quadras
rápidas estavam entregues à dominação
exclusiva da turminha do saque-canhão. Mas aí
foram aparecendo uns caras como Courier, Medvedev, Kafelnikov,
Ríos, Enqvist, Kuerten e, agora, Norman.
Com as novidades na preparação física
e o constante desenvolvimento de raquetes cada vez mais capazes
de rebater a bolinha com mais velocidade, atacar do fundo
de quadra passou a ser uma opção tática
viável para qualquer tenista de nível profissional.
A máxima "tenista de saibro defende, tenista de
carpete ataca" foi reduzida a pó. Com isso, os
torneios de saibro ganharam uma emoção e uma
competitividade que crescem a cada ano. Comparar a final entre
Norman e Kuerten com um jogo entre reis do saibro dos anos
80 e 90, como Martin Jaite x Alberto Berasategui, por exemplo,
é de uma covardia atroz. Borg x Vilas, o clássico
das quadras lentas nos 70, parece um outro esporte perto dos
golpes trocados por Norman e Kuerten no domingo.
Com essa mudança no jogo, os tenistas de linha de base
passaram a ter bons resultados também nas quadras rápidas.
Talvez o melhor exemplo de "baseliner" que domina
o carpete é o sueco Thomas Enqvist, que concentra nesse
tipo de piso seus maiores triunfos, mesmo com sua aversão
declarada a jogar subindo à rede.
Magnus Norman, Gustavo Kuerten e Lleyton Hewitt são
os mais cotados para dividir, no final da temporada, as primeiras
posições da Corrida dos Campeões com
os veteranos Sampras, Agassi e Kafelnikov. Não por
acaso, os dois trios são de gerações
diferentes, mas têm em comum a adoção
de um estilo com jogo de base muito forte e uma presença
segura junto à rede. Bem, Sampras é mais "saque
e voleio", é verdade, mas trata-se do jogador
mais completo da história. Se precisar, troca bola
lá no fundo por cinco horas seguidas.
No tênis 2000, a melhor defesa é o ataque.
Notas
Alerta vermelho
Está complicada a situação de Fernando
Meligeni para carimbar o passaporte olímpico. Se ele
não repetir o bom desempenho do ano passado em Roland
Garros, o que será muito difícil, ele vai despencar
no "ranking de estrada" da ATP, que é como
a entidade chama o antigo ranking mundial. Seria uma pena,
porque a Olimpíada tem aquele componente emocional
que parece sempre favorecer o brasileiro. Só resta
torcer.
Fast
food
O leitor Cássio Tikwerak, de Bagé, diz que acha
um absurdo os tenistas que comem banana na quadra e pergunta
qual foi a coisa mais estranha que vi um tenista comer na
quadra. Fácil: o americano Jeff Tarango chocou Roland
Garros em 1994 ao traçar um hambúrguer com batata
frita no meio do jogo. E, incrível, ele ganhou a partida,
contra Marc Rosset, de virada.
E-mail:
thalesmenezes@uol.com.br
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