Descrição de chapéu Deixa que eu leio sozinho

Depois de só vestir roupas surradas, menino usa a costura para se libertar

Protagonista de novo livro, Juliano herdava as peças do irmão mais velho

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São Paulo

Filhos únicos não passam por isso, mas quem tem família grande com certeza conhece essa sensação: dentro da gaveta de roupas, várias das peças que agora são suas foram, um dia, do seu irmão ou irmã. É normal herdar coisas dos outros quando elas ainda estão boas para o uso —assim, se economiza dinheiro e se evita desperdício.

Acontece que, na casa de Juliano, esse costume até funcionava, mas andava deixando o menino infeliz. Quando as roupas chegavam a ele, já estavam muito gastas, e ainda não lhe serviam direito, ficando sempre folgadas.

As ilustrações são de Sandra Lavandeira - Divulgação

Juliano é o protagonista de “Médico das Roupas”, livro novo do escritor e poeta Fabricio Carpinejar. Ele conta que escreveu essa história porque viveu algo parecido com ela dentro da própria casa.

“Tínhamos o hábito de ganhar as roupas do irmão, principalmente o uniforme escolar. Então, eu recebia do Rodrigo, e eu repassava ao Miguel, meus irmãos”, lembra o autor. “E isso também acontecia com os cadernos e os livros. Assim que acabava o ano, a gente tinha que apagar tudo com borracha para deixar para o irmão mais novo.”

Fabricio conta que, na sua infância, sua mãe entendia que era preciso aproveitar tudo que a família tinha —era essa a sua “visão de mundo”, como ele diz. “Não havia a chance de ir à loja, não íamos comprar roupas. E o grande conselho dela sobre tudo era ‘tem que durar!’”, diz, rindo.

Era assim, portanto, que as calças ganhavam pedacinhos de couro nos lugares em que rasgavam. “Quando eu pensava ‘agora vou ganhar uma calça nova’, vinha um novo remendo. Chegou um momento em que minha calça de abrigo parecia de festa junina.”

O escritor tem 48 anos, e faz um certo tempo que foi criança, mas algumas coisas não mudam nunca, não importa a época. Ele diz que, na sua escola, havia colegas que faziam piada das roupas dele.

“Algumas crianças são malvadas, ficam rindo. Sabem que aquela roupa não é do teu número. Acham que é sujo, que é feio. Porque é útil, mas não é bonito”, entende Fabricio.

Por causa das roupas muito folgadas, Juliano se sentia pequeno - Divulgação

Se não fossem as roupas esquisitas, o personagem Juliano seria mais alegre, o autor acredita. “Ele se sentia muito sozinho e as roupas grandes, folgadas, aumentavam a solidão dele, a ponto de não conseguir nem levantar o braço na aula que sumia na roupa.”

As ilustrações de Sandra Lavandeira mostram direitinho esse incômodo do menino. “Criei algumas situações engraçadas para mostrar isso, como quando ele fica preso na maçaneta da porta da sala de aula, ou quando suas calças ficam caindo”, ela conta.

Sandra, que cresceu em uma família craque na costura, aprendeu com a avó e a mãe a fazer as roupas de suas bonecas. E, para fazer a capa de “Médico das Roupas”, comprou material especial para bordar as letras do título, e os nomes de Fabricio e dela.

Na história, Juliano decide transformar sua frustração em movimento: ele aprende a costurar, e passa a fazer as próprias roupas. Quando cresce (um tempão se passa no final do livro), ele se torna um grande profissional, respeitado por todos.

“Sou apaixonado pelos meus amigos estilistas, costureiros, e pelo quanto eles são criativos. Eles podem contar histórias pela roupa”, diz o escritor. Outra coisa legal do livro é que Juliano vive em uma época em que ninguém acha mais que existem profissões só de menino, ou profissões só de menina.

“Ele não sofre qualquer preconceito e tem liberdade para encontrar o que ama. E o bonito é que ele poderia pensar só em si, mas ele quer vestir também o irmão. Porque o irmão também fazia parte desse processo do pouco, da pobreza. Ele viu que não precisava comprar as roupas, que podia fazê-las e costurá-las.”

MÉDICO DAS ROUPAS

Preço R$ 49,90 (41 páginas)

Autores Fabricio Carpinejar e Sandra Lavandeira

Editora Bertrand Brasil

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