Descrição de chapéu dia dos pais

Dia dos Pais é só para pais? Veja por que também se comemora o Dia da Família

Colégios mudam nome das celebrações para acolher todo tipo de arranjo familiar

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Ana Beatriz Garcia
São Paulo

Neste domingo, dia 11, é comemorado o Dia dos Pais no Brasil, e com a data vêm juntas as atividades e festinhas em escolas de todo o país. Mas algumas delas estão abrindo espaço para um outro tipo de comemoração, celebrando as famílias em geral, e não apenas os pais.

A ideia é incluir outros tipos de arranjos familiares –como o daquele seu amiguinho que mora com a avó ou da sua amiga que tem irmãos de outro casamento por parte do pai ou da mãe, sabe?

Dois pais no Dia das Mães

O arquiteto Rafael Escrivão, de 37 anos, se lembra de quando a escola onde estudava o seu filho mais velho, Allan, resolveu comemorar o Dia das Mães. Ele ficou irritado a princípio.

Um homem branco de óculos, um garoto negro de óculos, um homem branco e um jovem negro estão sentados à beira de uma mesa, lado a lado; eles estão com os braços cruzados apoiados sobre a mesa e todos olham para a câmera e sorriem
O casal de arquitetos Rafael (primeiro à esquerda) e Luciano e seus filhos, Davi e Allan (à direita), na casa da família em Higienópolis. - Karime Xavier/Folhapress

É que na casa onde moram, em São Paulo, há dois pais, e não um pai e uma mãe. Lá vivem o arquiteto e seu marido, Luciano, de 36 anos, com os filhos, Allan e Davi, hoje com 18 e 10 anos, respectivamente.

No primeiro Dia das Mães depois que os meninos chegaram à família, há 7 anos, a escola de Allan mandou um convite para a festinha. Rafael ficou chateado e avisou que eles não iriam.

"Então, o Luciano me questionou: ‘mas você perguntou para o Allan se ele quer ir?’", lembra. O filho mais velho estava animado e achava que ia ser divertido, porque ia apresentar uma música. "Eu fui com uma tromba", diz Rafael.

No fim, a experiência acabou sendo muito legal. "A escola estava iniciando uma discussão sobre como tratar as festas de Dia dos Pais e Dia das Mães, mas fomos a primeira família homoafetiva de lá. Fomos acolhidos e a escola tratou a data como Dia da Família."

Naquele dia, Allan entregou aos seus dois pais um cartão com a frase "abraço de pai é a única coisa que quanto mais apertado, mais alívio dá". Rafael conta essa e outras histórias no livro "Dois Pais de Dois", publicado pela editora Chiado.

Na escola onde os meninos estudam hoje, o livro já foi até usado em uma atividade em que os alunos iam até uma biblioteca pública e depois contavam para a turma o que tinham aprendido.

"Uma colega deles leu e contou para a sala. A gente percebe que existe uma curiosidade por sermos uma família diferente, mas é uma curiosidade de querer abraçar e estar perto."

Duas décadas de Dia da Família

A Escola Ânima, também em São Paulo, é outra que passou a comemorar o Dia da Família. E isso foi ainda nos anos 2000. Tudo começou depois que a conversa com o pai recém-divorciado de uma das alunas fez a equipe repensar a forma de fazer as comemorações.

"Ele veio falar com a gente e contar que tinha um novo companheiro. Ele era um pai presente, e começamos a pensar em como fazer com que todos fossem bem recebidos", diz Lilian Ana Faversani, sócia e diretora pedagógica da escola.

A solução foi criar o Dia da Família, que agora acontece de 4 a 5 vezes por ano aos finais de semana. "A família toda vai à escola participar de uma atividade que as crianças estão fazendo em sala. As crianças ficam muito felizes com essa inversão, em que elas ensinam os adultos sobre os projetos em que estão trabalhando", afirma Lilian.

Depois de um tempo, outras pessoas se sentiram acolhidas pela iniciativa, entre elas uma mãe que havia adotado uma criança sozinha e pessoas que ficaram viúvas e não queriam uma data comemorativa que as lembrasse do pai ou da mãe que já não estava mais lá.

Mas nem todo mundo gosta da dinâmica. "É raro, mas acontece de não concordarem com o fim da comemoração do Dia dos Pais e do Dia das Mães" diz Lilian.

O fato de que muitas escolas estão aderindo a essa nova forma de comemoração tem a ver com uma mudança na sociedade, diz Rozi Gonçalves, psicóloga escolar na educação básica e integrante da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional.

"Temos mais famílias de múltiplas constituições", afirma. "Hoje passa a caber todo tipo de família. É a aceitação da própria criança, que hoje se sente menos excluída."

Faz sentido, não? Até porque, como você já deve ter notado, em algumas casas há apenas o pai, apenas a mãe, há dois pais, duas mães ou mesmo nenhuma dessas opções. O amor e cuidado são o que realmente une os membros de uma família.

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