Descrição de chapéu genética

Saiba como a saliva pode nos ajudar a descobrir a história dos avós dos nossos avós

DNA passa de geração em geração e revela informações sobre a origem geográfica dos antepassados

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Ana Beatriz Garcia Bárbara Blum
São Paulo

Nesta sexta (26) é comemorado o Dia dos Avós. Agora, você já se perguntou de onde vieram os avós dos seus avós?

Por ser um país formado por pessoas de várias etnias e origens, o Brasil tem muitas histórias de antepassados que chegaram por aqui vindos de outros lugares. E é muito possível que os seus avós, bisavós ou tataravós sejam exemplos disso.

Existem várias formas de conhecer as origens. Algumas pessoas vão atrás de documentos que traçam as viagens dos antepassados até chegar ao Brasil. Lugares como o Museu do Imigrante, em São Paulo, têm alguns desses documentos das pessoas que chegavam de navio.

Um cientista homem e outra mulher olham para a estrutura de um DNA
Cada pessoa tem um DNA único - Getty Images

TESTES GENÉTICOS

Hoje, com os avanços da ciência, existe um jeito simples de descobrir de onde vieram os avós dos seus avós: a saliva.

Isso acontece porque algumas empresas e laboratórios conseguem ver no DNA da saliva todo o código genético, o que as pessoas passam de pais para filhos. Assim, dá para ter uma boa ideia de alguns traços que vêm de regiões ou etnias específicas.

"O DNA é uma molécula bem comprida, que fica dentro de cada uma das nossas células e ela é basicamente nosso manual de instrução", diz Ricardo di Lazzaro. Ele é fundador de uma dessas empresas que analisam o DNA e dão um mapa das origens das pessoas, a Genera.

Di Lazzaro conta que cada pessoa tem um DNA único, formado por proteínas. Cada tipo de sequência de proteínas dá dicas a respeito de onde viemos.

Ele diz que muita gente que faz o teste acaba descobrindo origens que nem sabia que tinha, muitas vezes em casos de etnias que foram apagadas em algum momento da história. É o caso de alguns judeus, que no século 15, foram obrigados a se converter para o cristianismo e mudar de sobrenome.

O resultado acaba surpreendendo até quem acha que sabe direitinho de onde vem a família, segundo o fundador da Genera.

Numa base de dados de mais de 300 mil brasileiros, segundo ele, a maioria vem da Espanha e de Portugal. Mas a composição muda muito dependendo da região do país.

No Norte, a ancestralidade indígena é grande. No Nordeste, principalmente na Bahia, a africana tem força. No Sul, a Europa exerce mais influência.

O teste pode ser feito por pessoas de qualquer idade, com autorização dos responsáveis. Além dos testes de saliva, alguns laboratórios oferecem também a versão feita a partir de amostras de sangue.

A precisão varia, mas fica por volta de 70%. E dá para traçar cerca de cinco gerações, ou seja, os avós dos avós.

SITES DE ÁRVORE GENEALÓGICA

Além dos testes genéticos, existem outras ferramentas para quem quer saber mais sobre o passado de sua família, que são os sites de genealogia familiar.

Plataformas como FamilySearch, MyHeritage e Geneanet podem ajudar nessa busca a partir de documentos. Com algumas informações —como seu nome, nome dos seus pais, data e local de nascimento— é possível procurar familiares e descobrir coisas como onde e quando nasceram e se tinham filhos ou irmãos.

Árvore genealógica da família Vespúcio, com figuras mitológicas
Árvore genealógica da família Vespúcio, com figuras mitológicas

Em São Paulo, o Museu da Imigração tem uma parceria com o site FamilySearch. A instituição reúne documentos como listas de passageiros de navios e registros de hospedarias que abrigavam imigrantes por alguns dias, até eles encontrarem emprego.

A busca por histórias da família leva pessoas a descobrirem que histórias inusitadas. É o caso de Lívia Palma: sua avó, nascida em 1920, sempre contou ter um parentesco distante com a histórica indígena Bartira, que viveu por aqui no início da colonização, no século 16.

Ao acessar o FamilySearch, ela descobriu que sua linha ascendente materna percorria 15 gerações até alcançar Bartira. "Eu gravei um vídeo, mandei para a minha mãe, para o meu irmão, contando para todo mundo que a vovó tinha razão."

Patrícia Rocha também usa o FamilySearch. Ela entrou na plataforma há alguns anos e acompanha atualizações por email que o site envia quando alguém cadastra um novo documento ou foto em algum membro de sua árvore genealógica.

"Você consegue encontrar coisas como a certidão de casamento dos seus bisavós e a assinatura deles, sua própria letra", conta Patricia. "O que eu gosto mais são as coisas do cotidiano, jornais com anúncios de comemoração de aniversários, de casamentos; Encontrei um tataravô da Alemanha, e constava que sua profissão era de construtor de carroça", diz.

DESCENDENTES DE PESSOAS ESCRAVIZADAS

No entanto, não é todo mundo que pode ter acesso a tantas informações.

Muita gente teve seus documentos extraviados ou destruídos, principalmente africanos que vieram escravizados para o Brasil. É muito difícil para a maioria dos descendentes deles saber até mesmo de qual região da África vieram.

 Obra de Johann Moritz Rugendas (1802-1858) que retrata pessoas escravizadas no Brasil colonial
Obra de Johann Moritz Rugendas (1802-1858) que retrata pessoas escravizadas no Brasil colonial

A escritora Eliana Alves Cruz conseguiu traçar a linha de sua genealogia a partir de poucas informações: histórias orais, alguns documentos, nomes e datas. Ela também sabia o nome da família que os escravizou, no Recôncavo Baiano, no século 19.

"O primeiro documento que recebi de um arquivo de Salvador foi um testamento dessa família. Vi as pessoas sendo listadas como objetos, e isso me chocou."

Dessa pesquisa veio o seu primeiro livro, "Água de Barrela", lançado em 2016.

"As crianças não sabem o poder que têm, quem são os seus, que vieram antes delas. Isso precisa ser resgatado, para que não se cresça pensando que não se tem valor. É parte de entender ‘de onde eu vim, quem foi meu avô e minha avó, e o que eu posso fazer para o meu futuro’."

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