Baterias, pílulas e trens desaquecerão o mundo, diz cientista
Moderar aquecimento global passa por armazenamento de energia e controle demográfico, diz negociador britânico em evento na Folha
Em palestra na Folha nesta terça-feira (29), o representante especial para mudanças climáticas do Ministério das Relações Exteriores britânico, David King, afirmou que está otimista sobre o encontro internacional do clima em Paris, em dezembro.
Ele tratou ainda de assuntos como energia nuclear e demografia, além de questionar a baixa ineficiência da pecuária brasileira e o alto uso de transporte rodoviário, que têm impactos ambientais.
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TEMPERATURA
King e equipe fizeram um estudo com companhias de seguros –especializadas em gerenciamento de risco e cujo negócio depende diretamente da habilidade em lidar como tema. Concluíram que o cenário mais provável é o de um aumento de 3,5°C a 4°C até o final do século e que, entre os principais riscos que isso traz, estão quebras de safra em plantações importantes, como de arroz na China, tempestades e o aumento do nível do mar no mundo todo.
"Para mim o dado é assustador, porque a Grã Bretanha é uma nação-ilha. Estamos cercados por oceano."
BRASIL
Ele disse ter ficado positivamente surpreso com o plano brasileiro de cortar 43% de suas emissões em relação a 2005, divulgado no domingo.
"O Brasil mudou sua posição sobre a negociação. Foi um grande passo. Ainda assim, eu gostaria de ver uma meta mais ambiciosa. E eu espero que o Brasil diga o mesmo para o Reino Unido."
"Nós vamos conseguir um acordo em Paris. E a mudança do Brasil é crítica para isso. Nós temos de evitar que a Índia bloqueie as negociações, mas eu não acho que ela vá ficar isolada impedindo um acordo."
CAMINHÃO E BOI
Ele ainda lembrou que o país depende muito do transporte rodoviário de carga e passageiros –enquanto países europeus contam com uma boa rede ferroviária, que emite muito menos CO2.
"Não é só o clima, viajar longas distâncias em trens é muito mais confortável", disse.
King citou ainda a baixa densidade de bois por hectare da pecuária brasileira –seria possível produzir a mesma quantidade de carne em bem menos espaço, evitando desmatamento. "É uma pecuária muito ineficiente", afirmou.
"Eu não digo isso por ser contra a carne, mas porque a produtividade pode ser muito melhorada no Brasil."
ENERGIA NUCLEAR
Questionado por um participante do evento, King disse não ser um inimigo da energia nuclear, como alguns ambientalistas ou ONGs.
"Nós temos que fazer o possível para descarbonizar a economia global. É isso que eu defendo, e a energia nuclear tem seu papel nessa descarbonização."
BATERIAS
Com o avanço das fontes alternativas de energia, King afirmou que será essencial que se invista também em novas formas de armazenamento de energia. Pense, por exemplo, que a energia solar, ao contrário de um estoque de carvão em uma armazenamento de energia, não pode ser gerada a qualquer momento –é preciso acumulá-la nos tempos de "fatura".
DEMOGRAFIA
King reforçou que, na discussão ambiental, não se pode ignorar questões populacionais. Ele citou a educação feminina e a disponibilidade de anticoncepcionais como modos de evitar uma explosão demográfica, especialmente em países subdesenvolvidos, o que poderia acarretar mais emissões de gases-estufa no longo prazo.
"Colocar as meninas na escola causa um grande transformação. E isso já está acontecendo, inclusive na África."