Feira de Santana vira 'laboratório' para outros Estados
Secretária da Saúde diz que município está pagando o preço por ter uma vigilância ativa contra a doença
Para responsável pela área, há muito mais casos da febre 'chiku' no país que não estão sendo notificados
Feira de Santana (BA) se transformou em um verdadeiro "laboratório" de como aprender a lidar com a febre chikungunya e tem recebido médicos e técnicos de outros Estados em busca de informações sobre a doença.
Ao mesmo tempo, há queixas de que o município esteja sendo discriminado em razão da epidemia.
"Uma dentista de uma cidade vizinha disse, brincando: Não encoste em mim. Você é de Feira, vai me passar chikungunya'", conta a secretária municipal da Saúde, Denise Luna Mascarenhas.
Para ela, o município está pagando o preço por ter uma vigilância epidemiológica ativa, que está investigando todos os casos da doença.
"Município que não apresenta endemias tem uma vigilância que não existe. A essa altura, já deve ter muito mais casos pelo país [que não estão sendo notificados]."
Ao seu lado, a cooordenadora da Vigilância Epidemiológica, Francisca Lúcia da Silva, e a técnica Maricélia de Lima concordam: "A vigilância da gente funciona."
Segundo Maricélia, os primeiros casos suspeitos de "chiku" surgiram em julho.
"A gente pensou que fosse dengue porque os sintomas eram os mesmos. Mas depois que os exames sorológicos deram negativo para dengue e a artralgia [dor nas articulações] continuava, começamos investigar a possibilidade de chikungunya."
A suspeita, explica Francisca, é que um visitante africano, que esteve na casa de parentes em Feira de Santana em julho, tenha levado o vírus para o município.
Mas, para haver a transmissão do vírus a ponto de causar epidemia, a alta infestação do mosquito na cidade também foi importante.
"A população não ajuda em absolutamente nada. A gente faz campanha, passa de casa em casa, faz o fumacê. Quando volta, está lá o lixo no quintal, a caixa d'àgua quebrada, tudo com larvas do mosquito", afirma Denise.
Com vários pacientes --o número total ainda não foi fechado-- se queixando de dor articular após três meses do diagnóstico inicial de chikungunya, Feira de Santana decidiu contratar um reumatologista, um infectologista e um fisioterapeuta para cuidar dos casos crônicos.
Por semana, o reumatologista poderá atender até 25 pessoas. "Temos que selecionar bem os casos. A ideia do ambulatório é só para casos de chiku'. Reumatologista é profissional raro no SUS [Sistema Único de Saúde]", diz a secretária.