Após 42 anos, zebra é retirada da República
Painel do artista plástico Claudio Tozzi instalado em edifício na avenida Ipiranga desde 1972 tem futuro incerto
Herdeiros de dono da peça e do prédio dizem que sem-teto que ocuparam o local danificaram a pintura
Uma zebra que nos últimos 42 anos pastou na praça da República não pertence mais à paisagem do centro de São Paulo desde o mês passado.
O animal pintado em estilo pop art pelo artista plástico Claudio Tozzi, 70, habitava um painel de 8 x 8 metros afixado desde 1972 na lateral de um prédio da av. Ipiranga.
No mês passado, a obra foi retirada do local por decisão de seus donos, que responsabilizam os sem-teto que ocuparam o edifício até o fim de outubro por tê-la danificado.
A zebra foi encomendada na década de 1970 pelo médico e colecionador de arte Milton Guper, também dono do prédio. Guper, que morreu em 1998, foi marido de Fanny Feffer, filha de Leon Feffer, o fundador da fábrica de papel e celulose Suzano.
Segundo Tozzi, que só soube da retirada da obra após ser procurado pela Folha, sua intenção era criar um painel urbano que chamasse a atenção do público e que tivesse um pouco de humor.
"Eu pensei em fazer uma zebra comendo sobre a cidade. As pessoas ficavam curiosas e se perguntavam: o que será isso? O motivo era mais colocar uma coisa inusitada numa praça. Tinha uma certa graça, para não deixar a cidade tão sisuda", conta ele.
A escolha da zebra não foi aleatória. No fim de 1972, a loteria esportiva, criada dois anos antes, acabava de ser implantada em todo o país. "Na época, se falava que deu zebra'. Era o símbolo das loterias esportivas", diz Tozzi.
O painel, pintado com tinta de poliuretano, foi feito durante seis meses de trabalho. Foram usadas 16 placas de zinco, cada uma com 2 x 2 metros. "Foi baseado num quebra-cabeça pequeno", conta.
Parte da obra chegou a cair nos anos 80, após uma tempestade, mas foi recolocada.
Tozzi se diz insatisfeito com a remoção do painel, já que ele foi pensado para permanecer exposto ao público.
Os herdeiros de Guper, que pediram para não ter seus nomes citados, dizem que a obra será restaurada e que o prédio está em processo de venda. No térreo, funcionam uma farmácia e um pequeno negócio de fotografia e xerox. O resto do edifício está vazio.
Os donos da obra dizem que o novo destino da zebra ainda não foi definido. Já a praça da República ficou um pouco mais sisuda sem ela.