A campeã da ditadura
Beija-Flor supera polêmica sobre patrocínio da Guiné Equatorial ao seu desfile e é eleita a campeã do Carnaval carioca de 2015 com nota máxima em enredo
A polêmica em torno do enredo patrocinado pela ditadura da Guiné Equatorial não contaminou os jurados, e a Beija-Flor foi eleita campeã do Carnaval carioca de 2015.
Com o tema "Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade", a escola obteve 269,9 pontos de 270 possíveis e ficou quatro décimos à frente do Salgueiro, vice-campeão.
A apuração foi acirrada entre as duas escolas. A Beija-Flor só abriu vantagem maior no penúltimo quesito (enredo) quando a diferença passou de um décimo para três.
Diferentemente do Salgueiro, cujo tema era a culinária e cultura de Minas Gerais, a Beija-Flor teve nota máxima em enredo.
O tema causou polêmica e ganhou o noticiário internacional. O país é uma ditadura comandada há 35 anos por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.
Segundo o jornal "O Globo", que revelou o caso, a escola recebeu um patrocínio de R$ 10 milhões. A Beija-Flor não confirma o valor.
Ao jornal "O Estado de S. Paulo", o embaixador da Guiné Equatorial negou que o governo do país tenha bancado o desfile e disse que houve apenas ajuda de "pessoas do meio cultural".
O presidente da Beija-Flor, Farid Abraão Davi, disse que o resultado deste ano "corrige uma grande injustiça" e é da "organização, empenho e qualidade" técnica da escola. O título é o 13º da agremiação.
Pelo segundo ano consecutivo, o Salgueiro ficou com o vice. Sua presidente, Regina Celi, evitou polemizar e disse apenas que "o resultado é esse e temos de acatar".
Marcos Falcon, vice-presidente da Portela --outra que entrou na apuração como favorita-- disse que a escola fez um desfile para "ser campeã".
A escola, que trouxe uma águia de 23 metros em forma de Cristo Redentor, ficou com a quinta colocação. A Viradouro foi rebaixada.
POLÊMICA
O controverso patrocínio do governo da Guiné Equatorial à Beija-Flor foi a principal polêmica do Carnaval.
Filho do ditador, Teodoro Mangue hospedou-se na suíte presidencial do hotel Copacabana Palace e reservou seis quartos para sua comitiva, com diárias entre R$ 5.600 e R$ 7.200.
Em nota, a Beija-Flor disse que a escola não tratou de política, mas das "belezas naturais do país".