Foco
Idosos exercitam corpo e vida social em shoppings
Corrimão é usado como barra de flexão; corredores viram pistas para caminhada
Entre um agachamento e outro, uma espiada na vitrine da loja de perfumes. Durante a caminhada, uma conferida nos títulos da livraria.
Programas de ginástica em shoppings têm feito a alegria matinal de idosos em São Paulo. Os estabelecimentos oferecem as aulas, gratuitas, antes das lojas abrirem.
Assíduos, os atletas contam que preferem malhar em locais fechados para escapar de variações climáticas e garantir a segurança.
"Moro sozinha em apartamento. Ah, sair, ver as coisas, andar... É tão gostoso. E o professor é uma gracinha", diz Brasilina Oliveira, 67, que malha no shopping Penha, na zona leste da capital.
Ela formou um trio, e as amigas não se desgrudam mais durante as aulas.
Em caminhada na quinta (5), Ana Avelino dos Santos, 80, contava estar sem apetite. Oridirce Viana, 78, sugeriu que ela tomasse ao menos uma sopa no jantar. "A gente vive trocando receitas."
As escadas rolantes ainda estavam paradas, mas os corrimãos já eram usados como barra para exercícios como flexão desempenhados por mulheres de 70 a 80 anos no Pátio Higienópolis.
As aulas consistem, em geral, em caminhadas seguidas de exercícios de fortalecimento muscular e equilíbrio. Os atletas são orientados a respeitar o próprio limite.
Artrose, dor nos joelhos, hérnias, esquecimentos e mal de Alzheimer em estágios iniciais não os impedem de frequentarem as aulas. Ao contrário, são um estímulo.
"Estava enferrujada, menina, com um problema sério na coluna. Me inscrevi dois anos atrás, mas não tinha vaga. Agora consegui", comemora Maria Aurélia Canabal, 72.
Além dos exercícios, ela ganhou uma turma. Encerrada a aula, as amigas esperam uma doceria abrir para continuar o papo no cafezinho. "A gente faz terapia", brinca Myrthes Bossonaro, 71.
'80 ANOS E 40 KG'
Diversos shoppings na cidade fazem parcerias com academias e patrocinadores para viabilizar a gratuidade das aulas, o que beneficia alunos com poucos recursos.
No grupo do shopping Penha, há um idoso que foi resgatado da rua pela família. Ele chegou há oito meses com dificuldades para andar e era pouco sociável. Agora, diz que fez amigos e até desfilou em bloco de Carnaval.
Há quem encontre namorado, há quem fortaleça amizades. É o caso de Marlene Rocha, 73, e Zeni Feulo, 84.
Ambas deixaram suas casas para morar em abrigos e "não dar trabalho para os filhos", dizem. Além das aulas no shopping, elas fazem ioga e artesanato juntas.
"Faz muito bem para a mente e para o físico. Tenho facilidade para subir e descer do ônibus", conta a ágil Zeni.
Igualmente ágeis, Edivânia Andreoli, "80 anos e 40 quilos", como se apresenta, e Antônia Rendeiro, "80 anos e 42 quilos", dão passadas curtas e rápidas e papeiam.
Edivânia reclama que, "em São Paulo, ninguém vai à casa de ninguém". Antônia diz que ela está convidada.
Bem disposta, Edivânia se despede da reportagem: "Quer tomar um cafezinho com bolo lá em casa?".