A revolução chega via Wi-Fi
Movimento encontra no cenário virtual uma maneira de conquistar transformações reais para as mulheres
Campanhas recentes como a Chega de Fiu Fiu e a #AskHerMore (pergunte mais a ela, em inglês) ajudaram a reposicionar a imagem da mulher de hoje como 1) alguém que não acha a menor graça em ser cantada a cada esquina; 2) alguém que não necessariamente entende de cabelo e maquiagem, mas de política, negócios, cultura etc.
Foi a mulher que mudou nesses últimos tempos? Não necessariamente. O que mudou foi a internet.
Nela, a força motriz são as pessoas. E as mulheres --metade da população mundial, tradicionalmente sub-representadas entre lideranças-- estão especialmente posicionadas para tirar proveito das novas tecnologias de informação e comunicação.
Nesse cenário surgiram centenas de iniciativas apelidadas de "Feminismo 2.0".
Uma delas é o combate ao assédio. A partir de campanhas como Hollaback!, que filmou uma garota sendo assediada cem vezes num trajeto a pé pelas ruas de Nova York, e Chega de Fiu Fiu, nascida no blog Think Olga, popularizou-se o debate sobre esse tipo de violência que traumatiza mulheres e que até então era encarado como brincadeira ou elogio.
A campanha brasileira usou pesquisas on-line, grupos de discussão e um mapa colaborativo em que cada mulher registrava casos de assédio. E foi a partir do barulho criado pela Chega de Fiu Fiu que, em novembro de 2014, a Defensoria Pública de São Paulo lançou um guia sobre assédio sexual e sobre como se defender dele.
Outra ferramenta de ativismo são as hashtags. No Oscar 2015, o grupo Miss Representation, cansado de ver celebridades do sexo feminino falando apenas sobre vestidos e manicure, mas nunca sobre suas ideias ou carreira, lançou a hashtag #AskHerMore. para incitar a mídia a criar questões mais inteligentes.
O movimento teve alcance global e apoio de famosas, como a atriz Reese Whiterspoon, que tuitou a hashtag da campanha minutos antes de pisar no tapete vermelho.
Minorias dentro de uma minoria, mulheres negras transformam a web em ferramenta de união, informação e representatividade --esta tão escassa na mídia.
O Blogueiras Negras, por exemplo, reúne textos e mobiliza leitoras em campanhas contra racismo. No ano passado, insatisfeitas com o estereótipo com que eram retratadas na série "Sexo e as Negas", da Globo, criaram seu próprio programa. "As Nêga Real" discutia a realidade do que viviam e atingiu mais de 13 mil pessoas no YouTube.
Há também o MAMU (mamu.net.br), mapeamento de coletivos, projetos, movimentos e organizações de todo o Brasil, que facilita a conexão entre mulheres e ações específicas: de violência doméstica a maternidade, de saúde sexual a empreendedorismo.
Iniciativas semelhantes atendem a muitas outras causas: de igualdade salarial a representações que fujam do binômio donas de casa ou "gostosas". O feminismo 2.0 teve muitas conquistas, mas isso é só o começo.