Ônibus na madrugada divide opinião de usuários
Prefeitura mudou rotas e criou outras linhas; motorista reclama das exigências
As 98 linhas até então em operação entre 0h e 4h foram extintas e deram lugar às 151 novas na capital
O estudante de jornalismo Raphael Lima, 32, esperava animado na madrugada chuvosa de sábado (7) um ônibus no terminal Parque Dom Pedro 2º, no centro de São Paulo. Ia encontrar um grupo de amigos nas proximidades do metrô Butantã (zona oeste).
Para o estudante, que mora na Vila Maria (zona norte), a ampliação das linhas da madrugada facilitou a vida dos trabalhadores noturnos e serviu de motivação para sair de casa e curtir a noite.
"Antes, se a balada não estivesse boa e eu quisesse voltar para casa, tinha que pagar uns R$ 70 de táxi", afirma.
Desde 28 de fevereiro, São Paulo ampliou a rede noturna de ônibus para atender todas as regiões da cidade.
Antes, havia 98 linhas em operação entre 0h e 4h. Essas foram extintas e deram espaço às 151 novas linhas.
Agora Lima comemora ônibus durante toda a madrugada da sua casa para o centro e com intervalos de 15 minutos. "Antes tinha que esperar até uma hora e meia num ponto de ônibus vazio."
Ao anunciar a mudança, a prefeitura disse que o intervalo entre os coletivos seria de no máximo 15 minutos nas linhas estruturais, que circulam por grandes corredores, e de 30 minutos nas 101 linhas que ligam os bairros.
O ajudante de serviços gerais José Otaviano de Paiva, 58, não aprovou a mudança.
Antes do início da rede da madrugada, Paiva pegava dois ônibus para chegar ao trabalho e, agora, por causa do remanejamento de linhas, são três. Com isso, diz que sai uma hora antes de sua casa.
Na madrugada de quinta-feira (5), ele se queixava que iria chegar atrasado à academia de ginástica onde trabalha na região do Brooklin.
"É uma mudança atrapalhada. Em vez de melhorar, atrapalha", afirmou.
Por enquanto, os ônibus circulam quase vazios nos bairros. Nas linhas entre terminais, levam cerca de dez pessoas. Para Acácio Carlos Ferreira, 21, que mora na zona norte, pegar o coletivo durante a madrugada é vantajoso apenas de um terminal a outro, porque a espera é de 15 minutos. "Quando você pega o ônibus no ponto final ainda demora muito."
No total, há 454 ônibus em operação da madrugada, além de outros 88 reservas.
SEM MUDANÇAS
Para parte dos usuários, a rede da madrugada não mudou a rotina de longas esperas, já que novas linhas intermunicipais não entraram no pacote. O garçom Eduardo Andrade, 31, por exemplo, trabalha para um bufê em diferentes locais da capital, mas vive em Francisco Morato, na região metropolitana.
Sentado em um banco de concreto no Terminal Lapa na madrugada do dia 5, Andrade tentava passar o tempo ouvindo música e mexendo no celular. "Se eu cochilar nesse belo banco, os seguranças vêm me acordar", diz.
Outra reclamação é de cobradores e motoristas de linhas que fazem o itinerário Parque Dom Pedro-Pinheiros. Eles reclamam que o tempo de 30 minutos para fazer a viagem é muito curto, principalmente aos finais de semana.
Eles dizem que perdem muito tempo na rua Augusta, com o trânsito e com os frequentadores dos bares.
Em nota, a SPTrans informou que está verificando a eventual necessidade de fazer ajustes nas linhas.