Pena de morte não inibe venda de drogas em ilha da Indonésia
Traficantes não encontram dificuldade para abordar potenciais clientes na noite de Bali
Metanfetamina, do seriado 'Breaking Bad', é a substância da moda; 'em Bali, o dinheiro fala', diz dono de balada
Quarta-feira, 25 de fevereiro. Madrugada em Bali, ilha do país que entrou para o noticiário mundial pelo seu avesso: a pena de morte para traficantes de drogas.
No dia 17 de janeiro, o carioca Marco Archer, 53, foi fuzilado na Indonésia com outros cinco condenados. No último dia 19, o governo indonésio anunciou o adiamento por tempo indeterminado do fuzilamento de mais dez presos, entre eles o paranaense Rodrigo Gularte, 42.
Estamos na Dianapura, rua de Séminyak, bairro de Denpasar, a capital balinesa. A rua ferve. Bomba. Sua, sob o calor de 30 graus. Mix Well, Dix Club, Bali Joe, Face Bar e Bottoms Up, cinco inferninhos, um seguido ao outro. A Dianapura é conhecida como rua dos "Lady Boys" --ou travestis. Na porta de um clube, encontramos "Angelina".
Perguntamos a ela onde conseguir algo para alcançar o nirvana. Nas pistas de dança, turistas gays e simpatizantes parecem ter encontrado Alá --ou Shiva (diferentemente do resto da Indonésia, de maioria muçulmana, 84,5% dos cerca de 3 milhões de balineses são hindus).
Angelina aponta para o balcão de um dos inferninhos. A droga da moda em Bali é a metanfetamina, popularizada pelo seriado americano "Breaking Bad".
Sento-me no balcão, peço uma água, troco algumas palavras com o barman. Após poucos minutos de papo, estou com uma pílula de ecstasy na minha frente. Preço: 500 mil rupias, cerca de R$ 157. Desisto da compra.
"A polícia está por aí, sem uniforme. Age assim, oh...", me diz o dono de um inferninho, cobrindo os olhos com a mão espalmada, dedos bem afastados. "Tudo pode. Em Bali, o dinheiro fala."
Nos dez dias seguintes, descobriríamos: a lei que mata não diminui o tráfico nem o consumo. Aumenta a propina. Conhecida como ilha dos deuses, famosa por ondas perfeitas, cultura exótica e eterno verão, destino de surfistas, doidões, alternativos da nova era e turistas, Bali é hoje o paraíso dos contrários.
"É o lugar mais complexo do mundo. Vocês não esperam entender Bali em dez dias, esperam?", pergunta, falando de Sidney, a jornalista australiana Kathryn Bonella, autora de três best-sellers sobre o submundo das drogas na ilha.
De um lado, a lenda, o Éden. Do outro, uma ilha pobre que, nos últimos dez anos, viu o turismo explodir e o dinheiro chegar, numa profusão de resorts de luxo, restaurantes bacanas, lojas de grife, boates para todos os gostos. A balada não cessa.