Professores de SP mantêm greve; até pais de alunos têm sido afetados
Paralisação completará um mês na próxima semana; negociações com governo estão emperradas
Pais precisam sair mais cedo do trabalho para buscar filhos sem aula; categoria pede reajuste salarial de 75%
Os professores da rede estadual de São Paulo decidiram nesta sexta-feira (10) manter a greve iniciada há quase um mês e que tem afetado a rotina de pais e alunos. Aulas vagas e dispensas de estudantes têm sido comuns.
A decisão pela continuidade da paralisação foi tomada em assembleia nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
Segundo a PM, 20 mil participaram do ato, enquanto a categoria fala em 60 mil.
Em passeata, os manifestantes foram até o palácio, na tentativa de serem recebidos pelo governo, o que não ocorreu. Depois, caminharam até a ponte Octavio Frias de Oliveira (zona sul).
Ao passarem em frente à sede da Rede Globo, criticaram a cobertura da emissora sobre a paralisação. Os professores também expressaram críticas ao governador. "Boa tarde, seu Geraldo. Aqui não tem arrego, vou tirar o seu sossego", gritavam durante todo o ato.
Os professores cobram um reajuste salarial de 75,33%. Segundo o sindicato, o percentual visa a equiparação com as demais categorias com formação de nível superior --o piso dos professores estaduais é de R$ 2.415,89.
A paralisação, segundo o sindicato, tem a adesão de 75% dos professores, enquanto o governo afirma que 91% continuam comparecendo normalmente às aulas.
Em nota, a Secretaria da Educação afirmou que "rechaça as inverdades" do sindicato e que, ao longo de quatro anos, a categoria teve reajuste de 45%. SP tem cerca de 5.300 colégios, 230 mil professores e 4 milhões de alunos.
DESÂNIMO
Se os alunos no colégio Caetano de Campos, no centro de SP, já estavam desmotivados com o vestibular, a greve reforçou o desânimo.
Sobretudo na última semana, em vez das seis aulas diárias, os estudantes têm tido três, quatro, às vezes nenhuma, segundo eles relatam.
Nas aulas vagas, são dispensados ou recebem exercícios sem explicações prévias. Na quarta (8), por exemplo, o momento acabou sendo produtivo no terceiro ano do ensino médio. A sala começou a debater o conteúdo de química por conta própria. "Até achei bonito", comenta J., 17.
Três dos 34 alunos da sala, segundo ele, levantaram a mão quando uma professora questionou quem prestaria vestibular. A turma usa a necessidade de trabalhar como desculpa para não se empenhar nos estudos, diz E., 16.
Os dois têm planos acadêmicos: E. quer estudar biologia, e J., psicologia. Eles passaram a estudar por conta própria para tentar repor o conteúdo perdido. Mas andam meio sem vontade.
"Acordei com sono. Sou sempre um dos primeiros a chegar na escola, hoje fui um dos últimos", disse J.. "Só vim por causa da aula de arte", afirmou E..
Na estadual João Kopke, em Campos Elíseos (centro), alunos do ensino fundamental não são autorizados a deixar a escola quando há aulas vagas --o que tem acontecido quase diariamente.
Localizada nas proximidades da cracolândia, a escola libera só os alunos na presença dos responsáveis.
Para evitar mais um dia sem aulas dentro da escola, Larissa, 11, ficou em casa na quarta. Sua mãe precisou sair do trabalho mais cedo.
"O pessoal [empregadores] libera, mas fica meio chateado", conta o pai, Alex Pierote, 38. "Prejudica, né?" Todo dia, ele leva Larissa para a escola e espera cinco minutos no portão. Quando não há aula, leva a filha de volta pra casa.
Para a auxiliar de limpeza Antônia Gomes, 72, não é possível deixar o trabalho mais cedo para buscar a neta na escola. "Às vezes falo para ela não ir. Não vai ter aula ou chamada, não vão contar falta."
Procurado, o governo diz que essas unidades devem acionar professores cadastrados para substituição e que não há orientação para dispensa de alunos ou motivo para que os estudantes fiquem com aulas vagas.