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Novos hábitos de mobilidade fazem paulistano adiar carteira de motorista
Na fila para aulas práticas de direção, alunos de 18 anos esperam ansiosos para segurar o volante de um carro. O diretor do sindicato das autoescolas do Estado de São Paulo lembra saudoso dessa cena, comum nos anos 2000.
Hoje, poucos mostram empolgação. "Virou um momento chato", diz Aldari Leite.
Os paulistanos têm adiado a decisão de obter a habilitação, alterando o perfil do motorista da cidade.
O número de pessoas que tiram a carta depois dos 30 anos aumentou 77% em dez anos e dobrou desde 2002, segundo dados do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de SP), obtidos com exclusividade pela Folha.
Seguindo essa tendência, a idade média de quem tira CNH pela primeira vez passou de 21,1 para 26,5 anos no mesmo período. Os dados nacionais não estão disponíveis.
As razões da mudança vão desde a entrada tardia da classe C nesse grupo até os novos hábitos dos jovens de centros urbanos.
Também cresceu a quantidade de carros. De 2004 a 2014, o número de veículos registrados em São Paulo cresceu 36%, segundo o Detran.
Entre os que adiam a decisão, muitos acham mais prático e barato se locomover de transporte público, bicicleta ou táxi, e alguns começam a desenvolver uma consciência sobre a mobilidade.
Quando o automóvel surge na vida do paulistano, é trazido por necessidades. Filhos e o primeiro apartamento -longe do centro- são os motivos principais.
A professora Priscila Doro, 35, só fez a habilitação há dois anos, depois do nascimento da segunda filha, Mel, 3. Ela diz que nunca gostou de dirigir e desistiu após não passar na prova aos 18 anos.
Temendo que algo acontecesse com as meninas e precisasse recorrer à mãe ou ao marido para ajudá-la, decidiu enfrentar o trânsito.
"Quando você tem crianças, surgem essas coisas corriqueiras. Depois que comecei a dirigir, vi como me libertou. Não fazia falta antes delas."
Mudar de hábitos, e de bairro, para ter mais qualidade de vida também é uma característica da geração que adia a obtenção da CNH.