Indonésia fuzila 2º brasileiro por tráfico
Condenado em 2005, paranaense de 42 anos foi executado a tiros em ilha do país, três meses após morte de carioca
Governo Dilma reagiu ao fuzilamento de Rodrigo Gularte e disse que irá rever a relação com a Indonésia
Um estampido alto e seco à meia-noite e meia assustou diplomatas e familiares de prisioneiros na ilha de Nusakambangan, em Cilacap, no interior da Indonésia.
Era o som do fuzilamento de oito condenados à morte, entre eles o brasileiro Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42.
Segundo o protocolo de execuções, Gularte ficou preso a uma estaca com as mãos amarradas para trás e vestia uma camiseta branca com um "X" preto na altura do peito, para facilitar a mira dos atiradores --são 12 militares perfilados para cada condenado.
Médicos, religiosos e policiais acompanharam de perto as execuções, num campo aberto --à 0h30 no horário local e às 14h30 no de Brasília. Aos médicos só coube constatar as mortes. Além do brasileiro, foram executados um indonésio, dois cidadãos da Austrália e quatro da Nigéria.
Uma filipina, que também estava na lista, escapou da execução minutos antes.
DROGA NUMA PRANCHA
Recrutado por um traficante de drogas, o paranaense foi preso em 2004 ao tentar entrar no aeroporto do país com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe.
Na ocasião, ele estava com dois brasileiros. Mas Gularte assumiu que a droga era toda dele, e os amigos foram liberados pelos indonésios.
No ano seguinte veio a condenação à pena de morte, da qual fracassaram todos os recursos e pedidos por clemência, tanto da família dele como do governo brasileiro.
Gularte foi o segundo brasileiro executado no exterior em tempos de paz. Em janeiro, o traficante Marco Archer Cardoso Moreira, 53, nascido no Rio, também foi fuzilado nessa mesma ilha indonésia, a 400 km da capital, Jacarta.
No momento do fuzilamento, somente dois brasileiros puderam permanecer na ilha: o diplomata Leonardo Monteiro, da Embaixada do Brasil em Jacarta, e Angelita Muxfeldt, que há três meses chegou à Indonésia para ficar próxima ao primo.
Os dois não puderam acompanhar a execução, mas estavam próximos o suficiente (a cerca de 1 km) para escutar a ação dos atiradores.
Horas antes, na última conversa com o diplomata, o brasileiro alternou momentos de delírio e lucidez e disse que, após a morte, iria para o céu. "Daqui irei para o céu e ficarei na porta esperando por vocês", afirmou, conforme relato do diplomata à BBC Brasil.
O corpo de Gularte foi embalsamado e, em seguida, seria levado à capital do país, onde aguardará a liberação para o translado ao Brasil.
Num último encontro antes da morte, ele pediu à prima que fosse enterrado em Curitiba, capital do Paraná, seu Estado natal.
REAÇÃO
A mãe dele, Clarisse, soube da execução em Curitiba. A família preferiu que ela não viajasse, por medo do seu estado de saúde. Ela o viu pela última vez em fevereiro.
A família de Gularte e o governo brasileiro reagiram logo após a morte. Em nota, familiares disseram que o fuzilamento dele será uma "lembrança de que a luta para abolir a pena de morte é uma longa estrada a seguir".
Os parentes também criticaram a Indonésia por ter ignorado a doença do brasileiro --ele teve a esquizofrenia constatada em dois laudos.
Já o governo brasileiro afirmou em nota que a execução configura um "fato grave" nas relações com o país asiático.
Em entrevista em Brasília, o embaixador Sérgio França Danese relembrou os apelos ignorados pelos indonésios. "Estamos precedendo essa avaliação sobre qual será a atitude a adotar em relação a esse país a partir de agora."