Vítimas são enterradas sob gritos de 'justiça'
Famílias se diziam descrentes na solução dos crimes na Grande SP
'Se forem PMs, não vai ter investigação, polícia não vai atrás da polícia', afirma irmã de homem morto
Vítimas dos ataques em série foram enterradas neste sábado (15) em Osasco e Barueri sob gritos de "justiça" e com boa parte das famílias descrentes na solução dos assassinatos ocorridos na noite de quinta-feira (13).
"Se quisessem encontrar [os autores dos crimes], já teriam achado e pegado os caras", disse Pedro de Oliveira, 27, primo de Igor Oliveira, 19, morto em Osasco e que foi enterrado ao lado do amigo Jonas dos Santos Soares, 33.
O enterro de 12 das vítimas foi concentrado pela manhã em dois cemitérios de Osasco e Barueri (Grande SP).
O fato de a maioria das vítimas não ter antecedentes criminais –de 18 mortos, 12 não tinham nenhuma passagem– era destacado por amigos e parentes como indicação de que as pessoas foram atingidas de forma aleatória.
"Quem cometeu [os crimes] fez com a pessoa errada. Meu irmão não tinha vínculo com nada", afirmou Jorge Lopes Ferreira, 31. Ele enterrou o irmão, Deivison Lopes Ferreira, 26, que havia acabado de conseguir moradia e emprego novos.
O clima de medo persistia entre alguns familiares. O pai de Igor, Carlos Antônio de Oliveira, citava vídeo repassado por aplicativo de celular citando a ameaça de 42 mortes –de acordo com a polícia, houve diversas mensagens falsas desse tipo.
A possibilidade de envolvimento de PMs na chacina era motivo de mais descrédito. "Se forem mesmo [PMs], não vai ter investigação, porque a polícia não vai atrás da polícia", afirmou uma das irmãs de Eduardo Bernardino Cesar, 26, morto em Osasco.
Outros evitam mencionar a hipótese: "A família não sabe e, se falarmos algo que não é verdade, podemos sofrer represálias", disse a irmã de Jonas Soares, 33, que também foi assassinado em Osasco.
BARUERI
Em Barueri, o primeiro enterro foi de Wilker Thiago Corrêa Osório, 29, por volta das 9h. Bastante emocionada, a mãe dele, Rosa Francisca Corrêa, dizia estar "acordada e chorando" por dois dias.
Eduardo Oliveira Santos, 41, também foi enterrado no cemitério municipal Álvaro Quinteiro Vieira com membros do terreiro de candomblé Ilê Axé Oxum Femi, que ele frequentava. Todos de branco, eles cantaram músicas que fazem parte do ritual de despedida da religião.
"Foi muito rápido e muito trágico", disse Alberto Martins, irmão de Fernando Luiz de Paula, 34. "Estava no lugar errado e na hora errada."
Foram enterrados no mesmo cemitério outras três vítimas: Thiago Marcos Damas, 32, Jailton Vieira da Silva, 28, e Manuel dos Santos.