Sob pressão de vereadores, Haddad troca um subprefeito a cada 20 dias
Moradores associam a alta rotatividade a problemas dos bairros, como fiscalização deficiente
Parte das substituições teve motivação política; só 5 das 32 regionais mantiveram o mesmo administrador no cargo
A reboque da pressão de vereadores, o prefeito Fernando Haddad (PT) tem trocado um subprefeito da cidade, em média, a cada 20 dias.
Essa alta rotatividade tem provocado queixas de moradores, que associam a descontinuidade a problemas de diálogo, fiscalização e zeladoria em seus bairros.
Desde o início da gestão, em 2013, 79 nomes passaram pelas 32 subprefeituras.
Apenas cinco regionais mantiveram a mesma pessoa no cargo. Em 16, houve ao menos três titulares diferentes, entre efetivos e temporários, segundo dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.
Entidades de bairro e especialistas afirmam que as trocas constantes interrompem projetos em andamento e dificultam o diálogo com moradores, o que vai na contramão do discurso de fortalecimento das regionais.
Parte dessas trocas foi motivada por questões políticas, após o prefeito mudar a promessa inicial e passar a aceitar indicações de vereadores, que buscam ganhar influência em suas zonas eleitorais.
A prefeitura diz que o número de trocas não está acima da média do serviço público (leia texto ao lado).
INFLUÊNCIA
Vereadores têm influência na escolha tanto do subprefeito como de cargos do segundo escalão.
Na Vila Prudente (zona leste), por exemplo, o chefe de gabinete é José de Deus Alencar, ligado à vereadora Edir Sales (PSD). Ela chegou a ocupar o posto interinamente por cinco meses.
Em Guaianases (zona leste), o subprefeito Josafa Caldas de Oliveira é ligado ao PC do B. Ele assumiu em abril.
Na Lapa (zona oeste), que teve quatro subprefeitos diferentes só em 2014, o atual titular do cargo é José Antonio Varela Queija, ligado ao vereador Eliseu Gabriel (PSB).
"Com todos os novos subprefeitos eu marco reunião. Entrego a demanda e, nessa mudança toda, eles não têm nem condições de responder", diz a arquiteta Maria Laura Fogaça Zei, 55, da Assampalba (associação de moradores do Alto da Lapa).
Entre os problemas que não estão sendo resolvidos, diz, está a proliferação de clínicas de repouso clandestinas e de comércios irregulares na City Lapa, uma área residencial da cidade.
Diversas ruas na região estão com mato alto e lixo. Problemas como esses, de responsabilidade das regionais, estão no topo das queixas de moradores.
Na Vila Prudente, por onde passaram quatro subprefeitos desde o início da gestão Haddad, moradores associam as trocas a problemas como pedidos de asfaltamento não atendidos.
"Isso prejudica a continuidade de trabalhos de médio e longo prazos", afirma o engenheiro Victor Gers Junior, 50, da Amoviza (associação de moradores da Vila Zelina).
Para Henrique Deloste, 49, integrante da Associação de Moradores da Cachoeirinha e Brasilândia, na zona norte da cidade, a prefeitura deveria ouvir a população antes de fazer mudanças.
A associação tem questões ligadas a duas subprefeituras, Casa Verde/Cachoeirinha e Freguesia/Brasilândia, cada uma com três titulares nos últimos dois anos e meio.
"Na Brasilândia, já estávamos nos dando bem com o último [subprefeito] e trocaram por questões políticas", diz.