Em vídeo, chefe da PM pede que policiais evitem mortes
Comandante afirma que não cabe à polícia 'decidir sobre vida de infrator'
Mensagem foi gravada em meio a suspeitas de participação de PMs em assassinatos de pessoas já rendidas
Em meio às suspeitas de participação de policiais em casos de assassinatos, o comandante da Polícia Militar de São Paulo, Ricardo Gambaroni, gravou vídeo alertando seus subordinados de que a corporação não vai "tolerar" maus policiais e que mortes só são aceitáveis sob "o abrigo da legítima defesa".
"Não cabe a nenhum de nós, como profissionais de polícia, decidir sobre a vida do infrator, por pior que tenha sido o crime cometido", afirma o coronel, em mensagem dirigida aos policiais.
Na semana passada, um grupo de 11 PMs foi preso por ter participado da morte, no Butantã (zona oeste da capital), de dois suspeitos já rendidos. Um deles chegou a ser jogado do telhado de uma casa antes de ser baleado.
No mês passado, 14 policiais da Rota (tropa de elite da PM) foram presos sob a acusação de terem matado dois suspeitos em Pirituba (na zona norte).
Em ambos os casos, os policiais registraram ocorrências com versões falsas, afirmando que as mortes ocorreram durante troca de tiros.
"Ocorrências forjadas estão levando os nossos policiais para a cadeia. Para a Polícia Militar, os danos à imagem podem ser irrecuperáveis. E, para os policiais envolvidos, os prejuízos financeiros, emocionais e familiares são incalculáveis. Pensem nisso", afirmou Gambaroni.
OUVIDORIA
A letalidade policial também foi o principal tema de reunião do Conselho da Ouvidoria da Polícia do Estado nesta quinta (17), na sede da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em São Paulo.
Representantes da ouvidoria e da sociedade civil discutiram uma série de medidas a serem apresentadas para o governo como forma de tentar reverter o aumento das mortes nas chamadas "intervenções policiais".
No primeiro semestre deste ano, como a Folha revelou, o número de mortes praticadas por policiais do Estado em serviço chegou a 358 pessoas, recorde em dez anos.
Entre as medidas propostas está a reativação da comissão especial para a redução da letalidade policial, criada em 2000 mas extinta em 2011 pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
O trabalho do grupo era estudar medidas para diminuir esse tipo de ocorrência.
Outro pedido apresentado foi a realização de exames psicológicos anuais em todos os policiais (inclusive comandantes), como forma de evitar que profissionais inaptos continuem nas ruas.
Além dessas ações, a ouvidoria buscará apoio de organismos internacionais para tratar do assunto. E, em parceria com a comissão de Direitos Humanos da OAB, formará um grupo para analisar crimes envolvendo policiais militares no Estado.
Um dos focos será analisar o alto número de policiais absolvidos na Justiça, sobretudo nos tribunais dos júris. "Em quase 100% dos casos ocorre a absolvição", disse Antônio Funari Filho, ex-ouvidor da Polícia e presidente da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.
NA INTERNET
Veja o vídeo da PM
folha.com/no1683186