Apesar de crise, Alckmin é premiado por gestão da água
Mesmo com racionamento em SP, tucano receberá homenagem na Câmara
Medidas em relação à crise iniciada em 2014 foram alvo de críticas; secretário diz que ações foram 'irrepreensíveis'
Há um ano e meio, milhares de pessoas vivem sob forte racionamento (entrega controlada de água) em São Paulo. Ainda assim, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) receberá da Câmara dos Deputados, em Brasília, um prêmio por sua gestão frente à crise hídrica.
O governador é um dos vencedores do prêmio Lucio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação, que visa reconhecer as iniciativas que buscam a melhora da vida dos cidadãos. Para receber o prêmio, o governador paulista foi indicado pelo deputado tucano João Paulo Papa.
O parlamentar justifica sua escolha pelos avanços de São Paulo, nos últimos anos, para atingir a universalização do saneamento. Papa diz que a atual crise hídrica apenas joga luz no esforço do governador nesse setor.
Após a indicação do deputado, Alckmin foi eleito de maneira unânime pelos parlamentares membros da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara.
A gestão da água em São Paulo tem recebido, desde o início de 2014, diversas críticas de especialistas e entidades. Para o presidente da ANA (Agência Nacional de Águas, órgão federal), Vicente Andreu Guillo, faltou planejamento para a estiagem que ocasionou a crise.
A tese é compartilhada por relatórios do TCE (Tribunal de Contas do Estado), que apontam que o governo tinha indícios de que uma forte seca atingiria São Paulo. De acordo com os conselheiros, os alertas poderiam ter suscitado ações mais eficientes.
TARIFA
Um dos antigos críticos da gestão é o atual presidente da Sabesp (empresa paulista de saneamento), Jerson Kelman.
Antes de ser escolhido para o cargo, ele havia questionado a demora do governo em adotar medidas antipopulares que pudessem frear o desperdício. Uma delas seria a tarifa mais cara para quem aumentasse o consumo.
A crítica foi feita em 2014, ano eleitoral em que Alckmin foi reconduzido ao posto de governador. A tarifa mais cara para os "gastões", termo que o próprio governador utiliza, só foi instituída um ano após o início da crise e depois de sua reeleição.
Em respostas às críticas, o governo tem afirmado que as medidas de controle de gastos de água foram tomadas de acordo com o aumento da gravidade da crise hídrica.
O governo comemora também o fato de as medidas até agora terem livrado São Paulo da adoção de um rodízio (quando há cortes sistemáticos em bairros inteiros).
Para Benedito Braga, secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, a condução da crise pelo governo e pela Sabesp foi "irrepreensível".
"Como presidente do Conselho Mundial da Água, acompanhei de perto as consequências desta seca sem precedentes que atingiu a região Sudeste em 2014", declarou em nota. "E posso afirmar com convicção que a condução da crise por parte do governo de São Paulo e da Sabesp foi absolutamente irrepreensível, dentro dos mais rigorosos padrões técnicos."