Sem-teto soldam porta e barram PM em invasão
Policiais tentam por 2 horas e não conseguem entrar em prédio na Ipiranga com a São João
A célebre esquina das avenidas Ipiranga e São João, no centro de São Paulo, foi alvo de um embate entre sem-teto e policiais na noite desta quarta-feira (23) após a invasão de um prédio –que teve a porta de entrada soldada e concretada pelos manifestantes pelo lado de dentro para evitar a desocupação.
O edifício particular de número 908 da av. Ipiranga foi invadido por volta das 17h por dezenas de integrantes do MLSM (Movimento de Luta Social por Moradia), majoritariamente mulheres e crianças, que forçaram a porta e retiraram do prédio um segurança que cuidava do local.
Os sem-teto soldaram e concretaram a porta e conseguiram evitar a entrada da Polícia Militar –que chegou com quatro carros, sendo dois da Força Tática, poucos minutos depois da ocupação.
Policiais tentaram, ao longo de duas horas, arrombar a porta do imóvel com a ajuda do Corpo de Bombeiros e de serras elétricas. Em vão.
"Nem a Al Qaeda consegue abrir isso aí, viu?", gritou um sem-teto aos policiais.
Esta foi, pelo menos, a terceira vez que esse prédio é ocupado por sem-teto.
AVAL
"Como os pertences do segurança estão lá dentro, houve esbulho possessório [usurpação], e temos aval para agir e retirar os sem-teto de lá", disse a tenente Carolina, 26, que comandava um efetivo de 24 policiais, não quis dar seu sobrenome, mas afirmou pertencer ao 7º Batalhão da PM.
Integrantes do MLSM arremessaram armários, vasos e objetos de plástico, louça e metal na via, que já estava bloqueada para carros.
Em reação, a PM deu tiros de bala de borracha em direção às janelas e sacadas do prédio. Em seguida, voltou-se para sem-teto (e também jornalistas e curiosos) que estavam no entorno e atiraram, ferindo ao menos cinco pessoas.
O aposentado José Andrade, 60, que passava pelo local, teve um ferimento profundo na perna causado por bala de borracha e foi encaminhado ao hospital. "Quero que a polícia pague pelos meus danos", disse, choroso, enquanto era carregado.
Os sem-teto, então, fecharam a esquina mais famosa da cidade ateando fogo em sacos de lixo e gritando palavras de ordem como "Abaixo a opressão, sem-teto não é ladrão".
O trecho foi liberado somente por volta das 21h, quando policiais da Força Tática removeram os manifestantes do local com tiros e com bombas de efeito moral.
Durante a ação, a varanda lotada do Bar Brahma acompanhava uma partida de futebol sob o som dos gritos do protesto e do estrondo dos tiros e das bombas da polícia.
O advogado do MLSM, Roberto Oliveira Ramos, chamou de "abusiva" a ação policial. Procurada no final da noite, a PM não havia respondido até a conclusão desta edição.