Chovendo no molhado
Documentários que estreiam nesta semana discutem crise hídrica e relação das pessoas com a água
Dois documentários que têm a água como tema central estreiam nos próximos dias.
"Lei da Água - Novo Código Florestal", do paulista André D'Elias, alerta para possíveis impactos do novo Código Florestal brasileiro nos mananciais de água do país.
Já "Marcas da Água", dos canadenses Jennifer Baichwal e Edward Burtynsky, usa relatos de moradores de vários países com sucessões de tomadas aéreas para discutir a relação das pessoas com a água em diferentes situações (veja crítica abaixo).
Encomendado e financiado por ONGs ambientalistas, "Lei da Água" intercala depoimentos de cientistas, ativistas e políticos que apontam o desmatamento de matas ciliares promovido pelo agronegócio como um dos responsáveis pela falta de água por que passa o país.
"Quando falam de crise hídrica, as pessoas só pensam na foto da Cantareira vazia. Queríamos fazer uma análise profunda do problema, mostrar o que está por trás", diz André D'Elias.
Assumidamente, o filme aproveita a visibilidade que a crise de abastecimento deu ao tema ambiental para uma causa política: pressionar o Supremo Tribunal Federal a aceitar uma ação de inconstitucionalidade movida contra a legislação florestal sancionada em 2012, descrita no documentário como permissiva com produtores rurais e prejudicial aos biomas.
D'Elias, porém, nega que a obra seja "militante" e afirma que uma de suas intenções é acabar com a dicotomia, segundo ele falsa, entre os interesses do agronegócio e do ambiente.
"O argumento do filme é também construído em cima de questões econômicas. Setores mais modernos do agronegócio já estão percebendo a importância de preservar as florestas das propriedades rurais", afirma.
Nesse sentido, a obra mostra exemplos de pequenos produtores que regeneraram as florestas perto de nascentes em seus terrenos. Enquanto descrevem os benefícios que obtiveram com a prática, pesquisadores argumentam que a manutenção das florestas nativas é essencial para o sucesso da agricultura.
"Se Blairo Maggi [senador do MT pelo PR] soubesse do que eu sei, estaria com o Greenpeace na rua, protestando", diz o professor Antonio Nobre, do Inpe, durante o documentário.
Finalizado no fim de 2014 com um orçamento de R$ 320 mil, "Lei da Água" agora tenta com o financiamento coletivo aumentar seu alcance.
"Usamos até a raspa do tacho do dinheiro na produção e precisamos recorrer ao público para a distribuição."
A campanha funciona como uma compra antecipada de ingressos e pode ser acessada em bit.ly/catleidaagua.