São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 1999




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Filho de Oxalá, católico, e com fé nna reencarnação | Candomblé revê raízes com luxo | Galeria

Candomblé revê raízes com luxo

da Sucursal do Rio

O candomblé, um dos muitos cultos afro-brasileiros, vive hoje dois fenômenos simultâneos. Uma parte dele está cada vez mais africanizada. É um movimento que, segundo Reginaldo Prandi, professor da Universidade de São Paulo, nasce no fim dos anos 60 e separa os candomblés das práticas de sincretismo que adotaram para não serem esmagados.
Para o professor Muniz Sodré, da Escola de Comunicação da UFRJ, o candomblé surge no século 19 com objetivos litúrgicos _de culto religioso_ e políticos, para ajudar a organizar a continuidade da cultura dos negros escravos e libertos.
O outro fenômeno é objeto da crítica dos mais velhos: casas religiosas, preocupadas em disputar uma clientela ávida por consolo religioso, passaram a cobrar as consultas e trabalhos e se esmeram no luxo. A principal crítica do professor Agenor Miranda Rocha ao candomblé “moderno” é esta: está cada vez mais comercial.
De todo modo, os terreiros mantêm traços comuns que remetem à origem dos cultos afro-brasileiros, como a abdicação das práticas de conversão. E não são preocupados com expansão quantitativa.
Mesmo assim, crescem. A Federação Baiana do Culto Afro-Brasileiro tem registrados 4.800 terreiros de candomblé, casas de umbanda e afins. Como não há obrigação de registro, estima-se que esse número chegue a 7.000.
O candomblé surgiu na primeira metade do século 19 em Salvador, na Bahia, e agregou os escravos trazidos do Daomé (atual Benin), de Togo e de regiões da Nigéria cujas origens estão nas nações nagô, jêje e queto e na língua iorubá.
O primeiro terreiro de candomblé que se tem notícia no Brasil é o da Casa Branca do Engenho Velho, de Salvador, formado entre 1820 e 1830 em torno de Iyá Nassô. Ela foi uma sacerdotisa nagô de Xangô no palácio do rei de Oyó, na África, trazida para o Brasil depois que o reino caiu e seus súditos foram feitos escravos.
Os cultos, ritos e costumes dos grupos iorubás foram revistos e adaptados para a realidade baiana pelos escravos trazidos na segunda década do século 19. Aboliu-se, por exemplo, nas cerimônias de iniciação, os cortes no corpo, substituídos por marcas pintadas.
É do final do século passado outro terreiro queto-nagô importante, o de Gantois, nascido de dissidência da Casa Branca. O Axé Opô Afonjá, o terceiro grande, nasce em 1910, outra dissidência da Casa Branca.
Mas adaptações ao sincretismo não impediram que os cultos e seus adeptos fossem perseguidos. Decreto de Getúlio Vargas de 1938 garantiu a liberdade de culto, mas controlada. Na Bahia, só em 1976, os terreiros se livraram da humilhação de terem de se registrar na delegacia policial de Jogos e Costumes. E a Constituição baiana ampliou essa conquista ao determinar que “é dever do Estado preservar e garantir a integridade, a respeitabilidade e a permanência dos valores da religião afro-brasileira”. (MB)

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