São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 1999




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Oriente entra na agenda do catolicismo

IGREJA QUER ADAPTAR SEUS RITOS ÀS CULTURAS DA ÁSIA ENQUANTO TENTA REAVER OS FIÉIS PERDIDOS PARA CULTOS OCIDENTAIS COM O AUXÍLIO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

da Reportagem Local

O catolicismo chega ao ano 2000 disputando fiéis com outras igrejas e com planos de conquistar o Oriente, região que oferece bastante resistência ao cristianismo.
A agenda católica para o futuro milênio foi definida sob a influência decisiva do papa João Paulo 2º e é marcada pelas expressões “nova evangelização”, “ecumenismo” e “inculturação”.
Vítima do peso de seu próprio poder, a Igreja estabeleceu ao longo dos anos uma relação formal e distante com seus fiéis.
Nas últimas décadas, especialmente no Brasil, esse modelo foi desafiado pelas novas igrejas evangélicas, marcadas pelo informalidade e emocionalismo de suas celebrações.
Nessa nova evangelização católica, o uso dos meios de comunicação tem um papel fundamental. “A Igreja ainda não conseguiu entrar dentro dos novos meios de comunicação”, afirma dom Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP), identificado com ala mais progressista da Igreja Católica.
Do lado conservador, a preocupação é a mesma. “A evangelização tem de ser feita com novo ardor missionário, novos métodos e novas formas de expressão”, afirma dom Amaury Castanho, bispo de Jundiaí e alinhado com o grupo que preza mais a evangelização do que problemas sociais.
Segundo dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, mais do que ganhar novos fiéis, essa evangelização teria a missão de trazer de volta à igreja os católicos afastados. “Pelo fato de que havia um mundo católico, se supunha alguma coisa que hoje não existe mais: que a fé fosse transmitida de geração a geração, pela família e pela cultura, que era católica.”
Para Hummes, os meios de comunicação serão essenciais para divulgar a doutrina em um mundo urbanizado e pluralista.

OFENSIVA CATÓLICA NO ORIENTE
Se no Ocidente a Igreja quer recuperar os católicos afastados, no Oriente ela sonha em ganhar novos fiéis. O caminho escolhido passa pela inculturação, palavra nova que significa a evangelização com respeito às características locais de diferentes povos. Ou a inclusão do cristianismo no cerne dessas culturas, com a manutenção dos traços que não se choquem com a doutrina religiosa.
“A Igreja só fez uma grande experiência histórica de inculturação, na cultura greco-romana, e ficou demasiadamente européia”, afirma Valentini. Em sua opinião, os católicos não souberam abordar culturas como a chinesa, a árabe ou a indiana.
E é isso que eles pretendem fazer no próximo milênio. Hummes diz que o único caminho possível para atingir esse objetivo é o “diálogo” com as culturas locais, que poderiam transformar o catolicismo naquilo que não afetasse o cerne de sua doutrina.
Isso significa que poderia haver diferentes ritos católicos, adaptados às culturas de cada país. “Você não precisa deixar de ser chinês para ser um católico autêntico”, diz Hummes. “O Evangelho não é uma nova cultura que vai se sobrepor às culturas locais”, acrescenta dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador (BA).
Mas, na avaliação de dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, a Igreja ainda não está preparada para essa nova missão. ‘‘Falta um pouco de arrojo e de entusiasmo. Será uma questão de adaptação ao mundo moderno. Hoje a Igreja anda atrás em vez de ir à frente da história.’’
O termo “inculturação” entrou oficialmente no vocabulário católico em 1992, na 4ª Conferência do Episcopado Latino-Americano.
Em seu discurso de abertura da conferência, o papa João Paulo 2º deixou claro que a esforço de inculturação não se refere apenas aos povos não-cristãos: “A Igreja vê com preocupação a ruptura existente entre os valores evangélicos e as culturas modernas, pois estas correm o risco de se fecharem em si mesmas, numa espécie de involução agnóstica e sem referência à dimensão moral”.
No mesmo pronunciamento, o papa também deu sua “receita” para o relacionamento entre o catolicismo e as características de cada povo: “Nos nossos dias, torna-se necessário um esforço e um tato especial para inculturar a mensagem de Jesus, de tal modo que os valores cristãos possam transformar os diversos núcleos culturais, purificando-os, se necessário for, e possibilitando a consolidação de uma cultura cristã que renove, amplie e unifique os valores históricos”.

DIÁLOGO COM OUTRAS RELIGIÕES
A mesma igreja que queimou supostos hereges na Inquisição adota um discurso tolerante para o próximo milênio.
“Este milênio foi o da divisão entre os católicos, e o próximo deve ser o da união”, diz Valentini, em relação ao cisma entre a Igreja Católica e a Ortodoxa (1054) e à Reforma Protestante (1517).
A Igreja adota o termo “ecumenismo” para sua aproximação com outros cristãos. Para as demais religiões, adota a expressão “diálogo inter-religioso”.
“A igreja terá o máximo de empenho nesse diálogo”, diz Majella. “Falamos de ecumenismo com os cristãos porque Jesus Cristo quis uma igreja só”, afirma Hummes.
O ecumenismo entrou no rol de prioridades da Igreja Católica nos anos 60, com o Concílio Vaticano 2º, que iniciou o processo de renovação do catolicismo.
(CLÁUDIA TREVISAN)

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