São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 1999




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A "religião" do indivíduo | O estilo Nova Era | Objetos da Nova Era | Galeria

A “religião” do indivíduo

FILHA DO MOVIMENTO HIPPIE E DO RESGATE DE FILOSOFIAS ORIENTAIS MILENARES, A NOVA ERA ABRIGA SEGUIDORES DE GURUS, LOCAIS DE PEREGRINAÇÃO E OBJETOS ENERGIZADOS, NA PROCURA HOLÍSTICA DE INTEGRAÇÃO COM A NATUREZA


THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

A Nova Era atravessou as últimas três décadas como um rótulo capaz de acolher qualquer manifestação “alternativa” que permita ao homem uma jornada de autoconhecimento e desenvolvimento espiritual. Um rótulo que abriga hoje doutrinas esotéricas, ritos tribais, filosofias orientais, objetos energizados e técnicas de decoração da casa num arsenal disponível a quem deseja aperfeiçoar corpo e espírito.
Esse vale-tudo da salvação tem caráter individualista. Embora algumas filosofias ligadas à Nova Era sirvam de ponto de partida para a criação de seitas e comunidades, o caminho dos peregrinos da virada do milênio é solitário e, muitas vezes, sincrético.
É possível encontrar alguém que pratique ioga, estude a Cabala judaica e faça planos para percorrer o Caminho de Santiago.
O termo Nova Era ganhou força nos anos 80, mas sua origem está na união de movimentos da contracultura da década de 60: as comunidades hippies americanas e os grupos britânicos de discussão religiosa da chamada “igreja da nova luz”. Ambos carregavam propostas de aceitar novas formas de integração do homem com a natureza.
Os jargões dessas comunidades ainda hoje norteiam a Nova Era: “abrir a mente” e “toda a experiência vale a pena”. Cada indivíduo pode buscar seu equilíbrio da melhor maneira que descobrir.
Ioga e meditação entraram na moda no final dos anos 60, e o início da década seguinte assistiu à importação ocidental de várias culturas asiáticas. Houve o boom de escolas de artes marciais e, de carona, a expansão de grupos de estudo das filosofias orientais.
Dagoberto Nunes foi o único brasileiro a estudar ioga no prestigiado e seletivo Centro Hayarati, na Tailândia, meca da turma esotérica nos anos 70. Depois, deu aulas por 12 anos no Brasil.
“O que as pessoas chamam de Nova Era foi uma coisa consolidada nos anos 70. A cabeça das pessoas estava aberta. Quem resolvia aprender meditação transcendental não ficava procurando site na Internet, colocava logo a mochila nas costas e se mandava para o Nepal”, diz Nunes, que mora há sete anos em Rio das Ostras (RJ).
“Hoje tudo é diluição. Há mestre de ioga que toma Coca Light. Paulo Coelho é genial, mas o que ele faz é a cara da Nova Era no fim do milênio. Ele relata experiências radicais, mas entrega tudo mastigado ao público. Ninguém vai atrás da sua própria viagem. Ficam comprando pirâmide.”
Mas os mochileiros esotéricos continuam por aí. O cardiologista Breno Barcelos se prepara para sua terceira viagem pelo Caminho de Santiago de Compostela, rota até a cidade espanhola considerada mística e reveladora por andarilhos das correntes da Nova Era.
“Estar em sintonia com o mundo é algo muito especial, particular. O pensamento holístico é aberto a experiências. Pesquiso o poder de pedras energizadas, de locais onde pousaram naves alienígenas. Faço o caminho de Santiago com uns bons quilos de pedras na mochila”, conta.
Nos EUA desde 1994, Barcelos frequenta reuniões da Igreja da Cientologia, que prega o uso dos conhecimentos científicos para resolver problemas existenciais.
A Cientologia é baseada nos livros de L. Ron Hubbard, que já vendeu 120 milhões de livros escrevendo sobre o sentido da vida.
Assim, entre gurus, pedras, locais sagrados e reciclagem de filosofias milenares, a Nova Era segue como a bandeira da religião do “cada um por si”.
A Era de Aquário, configuração dos planetas que, segundo astrólogos, vai levar o mundo para uma vida melhor a partir de 2030, promete transformar a Nova Era em algo mais do que um rótulo.


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