Neymar de Maresias
Fãs lotam praia de Maresias, em São Sebastião, para ver o surfista Gabriel Medina, 20, que se tornou o maior ídolo dos meninos da região
São 13h de terça (4) e a reportagem, na praia de Maresias, tira o carro de uma vaga na rua para procurar um lugar para almoçar. Um flanelinha, incrédulo, pergunta: "Já vão embora? Não vão ver o Medina surfar?".
Perto de se tornar o primeiro brasileiro campeão mundial de surfe, aos 20 anos, Gabriel Medina viaja pelo mundo para disputar o WCT, uma espécie de primeira divisão desse esporte.
Mas sempre volta às areias de Maresias, praia de São Sebastião (SP), onde nasceu. E lá ele é um fenômeno de popularidade.
O surfista nem precisava participar da etapa WQS Prime, evento que faz parte da divisão de acesso da modalidade e acontece até domingo (9) em Maresias.
Mas, para ele, é como um treino de luxo para a última etapa do Mundial, no Havaí, entre os dias 8 e 20 de dezembro. Ou como uma festa no quintal de casa.
"A praia tem ficado cheia e é muito legal ver a galera prestigiar o evento", disse o paulista, que já passou por duas baterias.
Por "galera", entenda-se as cerca de 1.500 pessoas em Maresias para vê-lo, número que deve dobrar no sábado e no domingo.
Enquanto os demais surfistas entram e saem tranquilamente do mar, o paulista precisa de cinco seguranças para tentar se desvencilhar dos fãs que o cercam do caminho da sua tenda ao mar.
Nas baterias sem Medina, é possível até estender uma toalha na areia para acompanhar a competição. Aqui e ali, palmas são ouvidas.
Quando Medina está na água, o cenário muda completamente. A areia se transforma numa arquibancada, com a maior parte do público em pé. A cada manobra (bem ou mal realizada), Medina arranca aplausos. Cada bateria dura 30 minutos. Para o brasileiro, uma hora. Além da meia hora dentro da água, ele tem ainda mais cinco minutos para sair e passar pelo público; ao sair do mar, outros 20 para tirar selfies com o público e mais cinco para entrevistas.
Em Maresias, é tamanha a influência de Medina que o surfe divide espaço com o futebol em pé de igualdade.
Na areia, são vistos garotos com camisetas de grandes clubes com a mesma frequência com que são observadas estampas com o nome do surfista brasileiro.
O talento que impressiona até mesmo quem não acompanha o esporte regularmente vem de longe. Desde criança, Medina já mostrava ter uma técnica diferenciada.
"Ele voava no mar e parecia tudo muito normal. Há várias coisas que o Charles [padrasto e treinador de Medina] nem ensinou. Ele aprendeu sozinho", diz Marcos Duek Reina, 44, comerciante que conheceu o surfista quando ele ainda era criança.
Na escola estadual Dulce César Tavares, em que o surfista cursou o ensino médio, próxima do local onde acontece a competição, os alunos discutem as manobras do surfe como se debatessem os detalhes de um esquema tático no futebol. Afinal, ali, Medina é Neymar.
"Aqui [na escola] muitos sonham ser o novo Medina. Eles já tinham a cultura do surfe, mas era algo apagado. Hoje, eles vão brincar, mas pensam que pode dar certo, pois se o Medina conseguiu, eles também podem", afirmou Elisângela Aparecida Sebastião, 40, professora de Medina no ensino médio.
Ao fim da tarde, a reportagem é convidada pelo mesmo flanelinha de Maresias a voltar para prestigiar o evento no dia seguinte. Ou, melhor, para ver Medina.